visao.sapo.ptGonçalo Cadilhe - 22 ago. 12:04

O fogo que nos espera no Fim do Mundo

O fogo que nos espera no Fim do Mundo

Por vezes, sou confrontado com a advertência de certas religiões que o fim do mundo está próximo e que seremos envolvidos num fogo avassalador. É verdade. O fim do mundo está a umas tantas horas de avião, mais umas quantas de autocarro, depois mais uns dias de trekking

A primeira vez que ouvi falar no fenómeno da Enrosadìa foi numa boleia que apanhei nos Dolomites, o sector dos Alpes que separa a Itália da Áustria. O tipo que me deu boleia garantiu ser um dos espectáculos naturais mais extraordinários do mundo. Afirmou que só existia ali, e eu acreditei nele. Mas não era verdade.

A Enrosadìa acontece quando a vertente vertical de uma montanha composta por cristais de cálcio e magnésio, chamados cristais dolomíticos, é iluminada pelos primeiros raios do Sol. Com essa inclinação do Sol, baixo no horizonte, o reflexo na montanha atinge cores entre o violeta e o rosa e o encarnado, e dá-nos a impressão de uma imensa labareda que se levanta da face da Terra e sobe para o Céu.

Nessa primeira viagem pelos Alpes Dolomíticos não vi nada de parecido com a “labareda”. Aliás, nem nessa nem nas várias vezes que andei pela secção oriental da cadeia alpina, onde a densidade de cristais dolomíticos é mais preponderante. Entre outros factores, era necessário estar presente numa madrugada cristalina, sem uma única nuvem no horizonte que pudesse diminuir a intensidade e a eficácia da acção dos raios solares, e ter-me posicionado no lado certo do vale para observar a vertente da montanha virada a nascente. Este posicionamento variava consoante as coordenadas do nascer do Sol que por sua vez se iam alterando de dia para dia ao longo do ano, sendo totalmente diferentes, por exemplo, no dia 21 de Junho ou no dia 21 de Dezembro.

Mas entretanto aprendi uma coisa importante. A Enrosadìra, afinal, também ocorria em outras montanhas do mundo. Uma delas era no fim do mundo, nas montanhas da Patagónia. . E quando lá chegarmos, o fogo será breve mas intenso, e devorará tudo o que a nossa vista alcança, ou seja, as paredes verticais das montanhas à nossa frente.

(Crónica publicada na VISÃO 1273, de 27 de julho de 2017)

NewsItem [
pubDate=2017-08-22 13:04:32.0
, url=http://visao.sapo.pt/opiniao/2017-08-22-O-fogo-que-nos-espera--no-Fim--do-Mundo
, host=visao.sapo.pt
, wordCount=315
, contentCount=1
, socialActionCount=0
, slug=2017_08_22_1048999437_o-fogo-que-nos-espera-no-fim-do-mundo
, topics=[pacífico, opinião, dolomites, atlântico, maciço do paine, ambiente, mundo, patagónia, enrosadìra, andes, sol, dolomíticos, enrosadìa, cerro torre, áustria, itália, alpes, natureza, visão]
, sections=[opiniao, actualidade]
, score=0.000000]