sol.sapo.ptSebastião Bugalho - 20 ago. 11:20

Passos, os imigrantes e a esquerda

Passos, os imigrantes e a esquerda

Num Portugal em crise migratória, o PCP não defenderia os trabalhadores nacionais primeiro?

Há um objetivo muito claro dos partidos da esquerda que acusam Passos Coelho de deriva à extrema-direita. Numa solução de governo que depende de partidos situados no extremo oposto, comparar o PSD à Frente Nacional é o álibi moral perfeito para perdoar as incoerências ideológicas entre Partido Socialista, Bloco de Esquerda e PCP. Quanto mais o PS acusar Passos de ser populista menos importará o populismo de quem, por exemplo, defende regimes onde se matam opositores políticos. A ironia é que o programa económico e a visão europeia do Bloco têm mais em comum com Marine Le Pen que alguma vez o PSD teve. 

De outro ponto de vista, a insistência em colar um homem que nem é capaz de se dizer de direita (Passos) à extrema-direita serve um interesse eleitoral: o centro que o acordo dos socialistas com a sua esquerda poderia deixar livre fica indisponível para o PSD. E é nesse centro que moram as maiorias absolutas. 

Nas questões fronteiriças, o Bloco de Esquerda tem a agilidade de averiguar na comissão de Negócios Estrangeiros sobre «a vulnerabilidade da gastronomia portuguesa face ao crescente número de turistas» ao mesmo tempo que vem reclamar direitos de residência para estrangeiros. Lutar pela originalidade do cozido à portuguesa, aparentemente, não conta como «xenofobia».  

Em relação ao Partido Comunista, continuo a perguntar-me. Num Portugal mais próximo ao norte de África, que sofresse verdadeiramente os efeitos da crise migratória, quem defenderia o PCP, soberanista, como prioridade: os trabalhadores nacionais ou os trabalhadores estrangeiros?

Mas a insistência não é nova. Desde 2011 que se tenta puxar Passos Coelho para a direita; antes na economia («neoliberal») e agora na questão migratória («xenófobo»). Hoje, é tácito que o presidente do PSD trouxe uma visão economicamente mais aberta para os sociais-democratas. Ser «reformista» sempre foi um eufemismo para ser «menos estatista» e num país que ama o Estado esses eufemismos são necessários; «social-democracia, sempre!» foi o exemplo maior. O problema é que ao não assumi-lo explicitamente, seja por que razão for, deixa em branco o que mais pode não estar a assumir. E foi nesse espaço em branco que a esquerda aproveitou a gafe do Pontal.

A frase, de facto, não foi polida. «O que é que vai acontecer ao país seguro que temos se esta nova forma de ver a possibilidade de qualquer um residir em Portugal se mantiver?», questionou um Passos em estreia na temática securitária. 

A diversidade de reações no PSD - da revolta ao entusiasmo, passando pela incompreensão - prova não só a esquizofrenia do partido como a necessidade de Passos começar a fazer discursos para o futuro do país e não sobre o que o país viveu nessa semana. «Sócrates», «reformas estruturais», «Grécia» e comentar a atualidade não chega. E a atualidade, tem-se visto, não lhe é favorável. 

NewsItem [
pubDate=2017-08-20 12:20:27.0
, url=https://sol.sapo.pt/artigo/577024/passos-os-imigrantes-e-a-esquerda
, host=sol.sapo.pt
, wordCount=459
, contentCount=1
, socialActionCount=0
, slug=2017_08_20_1952300449_passos-os-imigrantes-e-a-esquerda
, topics=[opiniao]
, sections=[opiniao]
, score=0.000000]