rr.sapo.ptOpinião de Francisco Sarsfield Cabral - 8 ago. 07:08

A esquerda e a Venezuela

A esquerda e a Venezuela

A esquerda radical apoia Maduro. No passado apoiou Estaline, Trotsky, Mao…

A benevolência em relação à Venezuela da parte de alguma esquerda radical, que se diz democrática, lembra o prestígio de que gozava o comunismo soviético junto de muitos intelectuais europeus mesmo depois da morte de Estaline e de começarem a ser conhecidas algumas das inúmeras atrocidades por ele cometidas. Foi o caso, por exemplo, de Jean-Paul Sartre.

A URSS e os seus satélites tinham a desculpa da “ditadura do proletariado”, suposta fase intermédia necessária até à chegada do paraíso comunista. Só que era evidente que – com o “gulags”, os assassinatos de “camaradas”, a polícia política, a ausência de liberdade de expressão, etc. – a ditadura não era do proletariado, mas da elite do partido comunista, que gozava de um nível de vida muito acima do comum da população.

Depois seguiu-se um período em que todos os males do sistema soviético eram atribuídos ao sanguinário Estaline – depois dele viria o comunismo em liberdade. Não veio nem poderia vir.

Trotsky, muito louvado por se ter oposto a Estaline (que o mandou assassinar no México), teve um papel importante na feroz repressão à revolta dos marinheiros da cidade de Kronstadt em 1920, já terminada a guerra civil.

E Mao, ídolo de alguma extrema-esquerda europeia nos anos 60, foi responsável por centenas de milhares de mortos na China, muitos deles à fome.

A mesma cegueira ideológica parece hoje afectar uma parte da esquerda radical europeia, incluindo a portuguesa, perante o que se passa na Venezuela. Não se estranha que o PCP não desmarque sequer do regime tresloucado da Coreia do Norte, país cuja liderança tirânica tem passado de pai para filho, como nas monarquias – já vai na terceira geração. Cunhal legou uma tradição de cega obediência a Moscovo… Mas Trotsky e Mao são referências importantes do Bloco de Esquerda.

Há honrosas excepções, como Elísio Estanque e Rui Tavares, por exemplo, que criticaram Maduro e a sua concepção de democracia. Outros limitam-se a acusar o “imperialismo americano” e a corrupção anterior a Hugo Chavez. É curto.

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