Eduardo Cintra Torres - 25 jun. 01:30
Propaganda do Governo fez ricochete
Propaganda do Governo fez ricochete
Este comportamento comunicacional do governo funciona em ditadura, mas não em democracia.
O incêndio em Pedrógão Grande é uma tragédia, não só pelo número incrível de vítimas mortais, feridos e desaparecidos, mas porque a sociedade em conjunto o considera como uma tragédia. Na sua relação em vasos comunicantes com a sociedade, de que faz parte, a TV toma um lugar de destaque na construção da tragédia, isto é, na comunicação dos eventos enquanto género dramático.
A TV mantém a primazia nestes eventos singulares a que chamo tragédias televisivas, dada a força comunicativa da informação audiovisual em directo.
A tragédia foi, na origem, um espectáculo teatral. Tal como hoje, o argumento anunciava algo terrível que, mesmo assim, era impossível evitar. Tem as suas personagens, o seu coro, o seu curso, a vivência colectiva, emoções vividas individual e colectivamente, o ressentimento do povo-coro expresso hoje em extraordinários testemunhos na TV que inquietam os poderosos e os que desprezam o povo mesmo quando dizem amá-lo. Na tragédia, tudo é posto em causa, a começar pelos poderes instituídos. O centro simbólico do país transfere-se da capital para onde a tragédia acontece. Os poderes como que caem ao chão. E foi precisamente na reacção do poder político que a tragédia de Pedrógão Grande se distinguiu de outras.
Ao tentar controlar toda a comunicação pública, o governo de António Costa enterrou-se mais do que se tivesse sido mais moderado. Tentou ocupar todo o espaço mediático desde o primeiro momento, como se estivesse a controlar a situação (não estava). Encheu os ecrãs de ministros e secretários de Estado, que pareceram baratas tontas a dizer coisas. Avançou com um número de vítimas mortais errado, não dando a conhecer a verdade terrível. Aparentemente, mandou avançar o director nacional da Polícia Judiciária que, para sua eterna vergonha, lançou logo a "tese" falsa do raio que partiu a árvore (deveria ser demitido de imediato); mandou avançar o director do IPMA com a "tese" falsa do raio e da "trovoada seca" (idem); o IPMA censurou a sua própria informação sobre raios e trovoadas no seu site. Aparentemente, no primeiro dia, mentiram ao presidente da República, levando-o a dizer que se tinha feito tudo que se podia fazer. Era falso. Marcelo teve de recuar. O governo escondeu que o corrupto SIRESP falhou por completo. Costa pediu relatórios apressados e auto-justificativos à GNR, etc., para se defender em entrevistas e declarações nos primeiros dias.
Este comportamento comunicacional do governo, com mentiras, omissões e desinformação, abafando vozes discordantes e o povo ressentido, funciona em ditadura, mas não em democracia. Não funcionou.
A TV mantém a primazia nestes eventos singulares a que chamo tragédias televisivas, dada a força comunicativa da informação audiovisual em directo.
A tragédia foi, na origem, um espectáculo teatral. Tal como hoje, o argumento anunciava algo terrível que, mesmo assim, era impossível evitar. Tem as suas personagens, o seu coro, o seu curso, a vivência colectiva, emoções vividas individual e colectivamente, o ressentimento do povo-coro expresso hoje em extraordinários testemunhos na TV que inquietam os poderosos e os que desprezam o povo mesmo quando dizem amá-lo. Na tragédia, tudo é posto em causa, a começar pelos poderes instituídos. O centro simbólico do país transfere-se da capital para onde a tragédia acontece. Os poderes como que caem ao chão. E foi precisamente na reacção do poder político que a tragédia de Pedrógão Grande se distinguiu de outras.
Ao tentar controlar toda a comunicação pública, o governo de António Costa enterrou-se mais do que se tivesse sido mais moderado. Tentou ocupar todo o espaço mediático desde o primeiro momento, como se estivesse a controlar a situação (não estava). Encheu os ecrãs de ministros e secretários de Estado, que pareceram baratas tontas a dizer coisas. Avançou com um número de vítimas mortais errado, não dando a conhecer a verdade terrível. Aparentemente, mandou avançar o director nacional da Polícia Judiciária que, para sua eterna vergonha, lançou logo a "tese" falsa do raio que partiu a árvore (deveria ser demitido de imediato); mandou avançar o director do IPMA com a "tese" falsa do raio e da "trovoada seca" (idem); o IPMA censurou a sua própria informação sobre raios e trovoadas no seu site. Aparentemente, no primeiro dia, mentiram ao presidente da República, levando-o a dizer que se tinha feito tudo que se podia fazer. Era falso. Marcelo teve de recuar. O governo escondeu que o corrupto SIRESP falhou por completo. Costa pediu relatórios apressados e auto-justificativos à GNR, etc., para se defender em entrevistas e declarações nos primeiros dias.
Este comportamento comunicacional do governo, com mentiras, omissões e desinformação, abafando vozes discordantes e o povo ressentido, funciona em ditadura, mas não em democracia. Não funcionou.