www.publico.ptMiguel Esteves Cardoso - 24 jun. 08:35

Os lixeiros

Os lixeiros

Para encontrar mais beatas não há nada como ir tomar um banho. Aqui vêem-se beatas flutuantes. Algumas foram apanhadas da areia pela maré.

Quando não havia areia para gatos ia-se buscar areia à praia para encher os tabuleiros. Em inglês é cat litter. Litter é o nome que se dá ao lixo que se atira para o chão. Dá também um verbo, to litter: os avisos dizem No littering. Porque será que a palavra não tem tradução portuguesa? Porque não faz falta?

Estamos em 2017 e agora é a praia que se tornou num grande tabuleiro para gatos e cães. De passo a passo encontram-se pontas de cigarros enfiadas na areia, com o filtro de fora. Que pensarão as muitas pessoas que assim fazem? Que alguém virá buscar as beatas? Porventura um catador profissional de detritos tabágicos?

Há jovens voluntários que se dedicam a limpar a praia durante as horas de calor. Mas desanimam depressa. Um deles desconfia que o facto de andar, literalmente, a apanhar beatas, encoraja os lixeiros.

Outras foram depositadas pessoalmente por benfeitores que gostam de estar de pés molhados para chupar e expulsar umas bafuradas. Afinal o mar só demora entre 2 e 25 anos a dissolver um cigarro, dando tempo para ser engolido por animais marinhos e assim limitando os excessos populacionais.

Antigamente os fumadores construíam pequenos cinzeiros improvisados para transportar as beatas até a um caixote do lixo. Este ano há 4 vezes mais caixotes de lixo na praia de que falo. Só não são usadas pelos beateiros. Preferem o areal.

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