sol.sapo.ptVítor Rainho - 24 jun. 11:42

A incompetência que matou 64 pessoas

A incompetência que matou 64 pessoas

Quem vai explicar às famílias das vítimas que o sistema de comunicações esteve silenciado durante 14h30?

Ainda mal as chamas se estavam a apagar e começava-se a apurar o que tinha corrido mal, tão mal que 64 pessoas morreram e mais de 200 estão feridas, algumas em estado grave. Se quando o fogo lavrava não era tempo de encontrar culpados, agora a história é completamente diferente. Como foi possível estar 14h30 minutos sem o sistema de comunicações operacional? Alguém terá de explicar por que razão 47 pessoas morreram numa estrada onde não deviam de estar, se os meios disponíveis estivessem a funcionar e as pessoas fossem encaminhadas para uma estrada segura. E quem estava longe da fatídica estrada poderia ficar onde estava: muitos encontravam-se numa praia das proximidades.

Tudo é trágico demais para que não se encontrem os responsáveis de tamanha incompetência. Mas os incêndios de Pedrógão Grande e arredores demonstraram que não estamos preparados para enfrentar grandes catástrofes que precisem da colaboração de diferentes instituições e diferentes corporações de bombeiros. Não gosto de acusar ninguém, mas a organização do combate aos incêndios deixou muito a desejar. A voz de comando, pelo que nos foi chegando pelas reportagens dos jornalistas no terreno, falhou em muitas ocasiões. Chegámos ao cúmulo de se ter anunciado a queda de um avião que procurava travar as chamas, quando só duas horas depois alguém apareceu a dizer que era mentira. Como a primeira notícia, salvo erro, foi da agência noticiosa do Estado, que citava a Proteção Civil, outros órgãos de comunicação, que também falaram com a mesma fonte, colocaram no ar a notícia. Houve mesmo quem se adiantasse e dissesse a nacionalidade do piloto e o nome da companhia da aeronave que se tinha despenhado. Aí, pouco tempo depois, os espanhóis, visados nas notícias, esclareceram que nenhum avião deles tinha caído. Só quase duas horas depois as autoridades portuguesas  sentiram-se confortáveis para desmentir a famosa queda do avião, que teria sido confundida com a explosão de uma botija de gás de uma rulote. Dá para acreditar?

E por que razão não houve comunicados a alertar as populações sobre o que deveriam fazer – seria por falta de meios de comunicação? Algumas das mortes teriam sido evitadas se as pessoas se tivessem mantido em casa e adotassem medidas semelhantes às que se seguem quando há um terramoto.

Toda esta tragédia demonstra por que somos um dos países do planeta com mais registos de incêndios. Falta prevenção, política florestal, organização no combate, e, claro, um sistema de informações que funcione.

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