expresso.ptexpresso.pt - 1 mai. 15:18

“Se queremos representá-los, temos de juntar-nos à luta deles”: como olham os sindicatos para a nova geração

“Se queremos representá-los, temos de juntar-nos à luta deles”: como olham os sindicatos para a nova geração

Da precariedade ao assédio, há várias “barreiras” que afastam os mais novos dos sindicatos. Com estruturas “bastante envelhecidas” e “perfeitamente conscientes” dos desafios, as centrais têm nas estruturas jovens uma ponte para tentar chegar à nova geração

“É o nosso dia. Vamos celebrá-lo com uma grande jornada de luta.” No 1.º de maio, tanto a CGTP-IN como a UGT vão estar na rua e com elas estarão as suas estruturas jovens. O Dia do Trabalhador “ganha uma importância redobrada agora no quadro dos 50 anos do 25 de abril de 1974 e do primeiro de Maio de 1974, que foi um dia central, que imprimiu a caraterística de classe à nossa revolução”, diz Gonçalo Paixão, dirigente da Interjovem/CGTP-IN. “E também no quadro da situação política e social com que estamos hoje confrontados", acrescenta.

Para o sindicalista de 22 anos, o programa do novo Governo “não traz as respostas que os jovens vêm reivindicando nos últimos anos”. “Aliás, diz, "o que vemos em muitos aspetos é um aprofundamento de um retrocesso em muitas das vertentes, nas questões do trabalho, da habitação, da valorização do serviço público. É um programa que promete andar ainda mais para trás, mas nós não iremos permitir que tal aconteça.” E por isso, a central sindical a que pertence tem programadas quase três dezenas de concentrações por todo o país. Já a UGT concentra as celebrações em Vila Real, onde a presidente da Comissão de Juventude Tânia Maltez espera ser possível “espalhar a semente”.

Os dados da OCDE noticiados pelo Expresso há um ano indicam que, entre 1977 e 2016, a taxa de sindicalização no país recuou de 63% para 15,3%. Em 2022 (aquando do 14.º Congresso) a UGT (que é constituída por 51 sindicatos, sete federações e 20 uniões distritais) tinha 435 mil sindicalizados. Já a CGTP-IN (formada por 124 sindicatos, dez federações sectoriais/profissionais e 22 uniões distritais) tem 562.500 sindicalizados (contabilizados no seu último Congresso em fevereiro).

Em resposta às perguntas do Expresso, a CGTP-IN acrescenta que, no último ano, inscreveram-se nos seus sindicatos 31.349 trabalhadores, entre os quais 9.227 homens e 17.071 mulheres. A UGT não respondeu às mesmas perguntas.

Estruturas envelhecidas e lutas jovens

Apesar da falta de dados disponíveis sobre o tema, há um problema diagnosticado. “O movimento sindical tem, na sua maioria, uma estrutura já até bastante envelhecida”, nota Tânia Maltez para explicar que, inicialmente, este foi um dos motivos para a criação de uma Comissão de Juventude dentro da UGT. Hoje, as preocupações evoluíram e o trabalho da estrutura está também focado na consciencialização dos jovens - mesmo os que ainda não estão no mercado de trabalho - sobre o sindicalismo, desde o que são os sindicatos e o que fazem ao seu papel histórico nas conquistas de direitos laborais.

“Há falta de consciência até sobre o que são sindicatos. Nós estivemos na feira Qualifica, no Porto, e tínhamos um questionário que pedimos aos jovens para preencherem através de um QR Code. Uma das perguntas é ‘sabes o que é um sindicato?’ Muitos deles não sabiam. Achavam que era um partido ou alguma coisa na Assembleia da República”, conta.

Do lado da CGTP-IN, a explicação para a existência de uma estrutura dedicada aos mais novos passa pelas especificidades da abordagem que é necessária. “Mesmo que possam ser transversais às restantes faixas etárias, os problemas tendem a ter um peso muito concreto quando sofridos pelos jovens trabalhadores”, afirma Gonçalo Paixão.

“Os jovens trabalhadores estão numa posição no mundo do trabalho muito fragilizada, com a precariedade, mas também pela questão dos baixos salários e dos horários que vão limitando imenso a própria disponibilidade que os jovens têm a dar ao associativismo”, acrescenta. Mas a estas “barreiras” soma-se outra “muito mais potenciadora a afastar os jovens do sindicalismo”. “O que não tem faltado são pressões, atropelos e assédio que os próprios trabalhadores, particularmente os jovens, sentem por via por estarem sindicalizados”, denuncia.

Trabalhadores a ser questionados por chefias que questionam os motivos da sindicalização, mas também a ser ameaçados sobre a continuidade do vínculo laboral, “são problemas com que nos deparamos de forma cada vez mais frequente e de maneiras mais violentas”, afirma Gonçalo Paixão. O próprio diz estar em “processo de tentativa de despedimento por exercer os seus direitos sindicais”. Conta que trabalhava como técnico de redes e sistemas de segurança numa multinacional onde era delegado sindical e que começou a ser alvo de assédio e acabou despedido quando tentou exigir os créditos sindicais (horas mensais que os delegados sindicais têm direito mensalmente para exercício de funções).

Apesar de tudo, continua a acreditar que “é bom estar sindicalizado, que apesar de tudo, é mais seguro”. E apesar de garantir que na sua central sindical estão “perfeitamente conscientes” da “dificuldades” em chamar os jovens ao sindicalismo, vê sinais para otimismo. Os dados do último congresso indicam que entre 2020 e 2024 (mesmo com período marcado pela pandemia que “dificultou muito o contacto dos sindicatos com os trabalhadores”) a CGTP-IN somou 110 mil sindicalizações, das mais de 16 mil eram jovens entre os 18 e os 35 anos. Segundo os dados da central sindical, das sindicalizações no último ano, 3 755 são jovens, até aos 30 anos.

Necessidade de adaptação

Tânia Maltez diagnostica ainda outra necessidade. “Acho que o movimento sindical vai ter que se ajustar no futuro”, afirma. Com 35 anos, considera-se parte de uma geração que ainda valoriza a estabilidade de um “emprego para a vida”. Só que “os miúdos que agora começam a trabalhar já não pretendem ficar muito tempo nem no mesmo setor nem na mesma empresa”.

O atual esquema sindical organizado sectorial está assim desajustado, explica. Os jovens acabam por “não ver vantagem” em sindicalizar-se quando num ano são informáticos na banca e no seguinte num hospital, tendo de mudar de sindicato quando mudam de emprego, exemplifica. “Vai ter que haver aqui realmente um ajuste do movimento sindical para que efetivamente os jovens vejam que, embora possam mudar de emprego, aquele sindicato que já conhece, pode acompanhá-los na sua vida profissional.”

Mais, “há uns quantos temas que facilmente conseguem levar milhares de jovens à rua e os sindicatos têm aqui um papel também de fazer a diferença dentro destes temas em específico, para que também os jovens possam identificar connosco”, afirma. “Se queremos representá-los, temos de nos juntar à luta deles.”

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