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Visão | Explosão fatal, troca de tiros e cinco condenados à forca: O massacre do século XIX na origem do Dia do Trabalhador

Visão | Explosão fatal, troca de tiros e cinco condenados à forca: O massacre do século XIX na origem do Dia do Trabalhador

Greves e manifestações por jornada de oito horas de trabalho diárias redundaram em tragédia que inspirou este dia dedicado à classe trabalhadora, um pouco por todo o mundo

Portugal foi dos primeiros países do mundo a assinalar o 1º de maio como o Dia do Trabalhador, hoje comemorado em mais de 150 nações. Apesar de a celebração ter sido proibida durante as décadas em que vigorou o Estado Novo, a data foi instituída no nosso país logo em 1890, após proposta saída do primeiro congresso da Segunda Internacional, realizado em Paris no verão do ano anterior.

A ideia surgiu na Europa por influência dos movimentos trabalhistas e sindicais norte-americanos, cuja luta por melhores condições laborais já havia levado a fortes protestos nas ruas das principais cidades dos Estados Unidos, com lugar a confrontos mortíferos com a polícia.

Em 1884, ao contrário do que sucedia deste lado do Atlântico, a jornada de trabalho de oito horas diárias, sem perda de salário, já havia sido ali contemplada na Lei pelo Presidente Ulysses S. Grant, mas os patrões faziam dela tábua rasa. O habitual ainda era estenderem o horário dos trabalhadores muito para lá do que estava escrito, muitas vezes até às 16 horas por dia, castigando os que reivindicavam os seus direitos e boicotando a todo o custo os que tentavam fazê-lo em grupo, por exemplo infiltrando elementos desestabilizadores ou despedindo os principais instigadores à revolta.

É neste contexto de tensão crescente que uma federação de sindicatos decide, em outubro desse ano, definir o dia 1 de maio de 1886 – portanto, ano e meio mais tarde – como a data a partir da qual a jornada de oito horas diárias passaria a ser a norma vigente. Para dar mais força ao momento, foi posteriormente agendada uma greve geral para começar nesse dia.

Milhares aderiram à greve e às manifestações que a acompanharam nos dias seguintes, em vários pontos do país, mas para a História ficou, sobretudo, o massacre de Haymarket Square, em Chicago, bastião industrial dos EUA. Nesse dia 4 de maio de 1886, uma bomba caseira artesanal explodiu junto à linha policial que avançava para dispersar a multidão, o que resultou na morte de um agente. Nunca se soube ao certo quem lançou o engenho, mas os trabalhadores tinham ficado ainda mais revoltados com as notícias da morte de duas pessoas às mãos da polícia, no dia anterior.

Ilustração do massacre de Haymarket Square, em Chicago, no ano de 1886 Crédito: MPI/Getty Images

A explosão levou a uma resposta imediata das autoridades, o que desencadearia uma troca de tiros sangrenta. Mais seis polícias e pelo menos quatro trabalhadores acabaram mortos, entre dezenas de feridos.

Oito pessoas relacionadas com o movimento anarquista foram a julgamento, cinco das quais emigrantes nascidos na Alemanha e outro em Inglaterra. Acusados de conspiração e envolvimento no massacre, foram todas consideradas culpadas. Só uma não foi condenada à forca em primeira instância, apesar de outras duas terem visto a pena reduzida para prisão perpétua durante os recursos. Das restantes cinco condenadas à morte, uma suicidou-se na véspera do trágico desfecho.

Se, nos EUA, este episódio motivou um forte sentimento anti-imigração e arrefeceu as conquistas de então da classe trabalhadora – ainda hoje o dia do trabalhador é assinalado em setembro e não em maio, tal como também acontece no vizinho Canadá -, noutras latitudes os mártires de Haymarket, como ficaram conhecidos, são celebrados como heróis da luta pelos direitos laborais. Foi em sua homenagem, e à luta inicialmente travada nos EUA pela introdução das oito horas de trabalho por dia, que o Dia do Trabalhador acabou por ser decretado a 1 de maio na maior parte dos países do mundo, na tal reunião da Segunda Internacional, de forte pendor comunista.

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