eco.sapo.pteco.sapo.pt - 1 mai. 10:10

Inflação pressiona Reserva Federal a adiar (mais uma vez) primeiro corte das taxas de juro

Inflação pressiona Reserva Federal a adiar (mais uma vez) primeiro corte das taxas de juro

A resiliência da taxa de inflação em março deverá levar Jerome Powell a manter as taxas da Fed inalteradas pela sexta reunião consecutiva, adiando um pouco mais o primeiro corte.

A Reserva Federal dos EUA (Fed) conclui esta quarta-feira mais um encontro do Comité de Política Monetária que deverá marcar a sexta reunião consecutiva sem alterar as taxas de juro, com as Fed Funds a manterem-se no intervalo entre 5,25% e 5,50%.

Este cenário é amplamente esperado pelos analistas e reflete a resposta da Fed aos resilientes níveis inflacionistas que se têm verificado no país.

“A Fed precisa de ganhar confiança adicional de que a inflação está a mover-se de forma duradoura em direção ao seu alvo de 2%”, referiu Jeff Klingelhoferm, co-diretor de investimentos da Thornburg Investment Management, numa nota enviada aos clientes na segunda-feira, enfatizando a importância do banco central dos EUA não se desviar prematuramente do curso atual.

Os dados mais recentes do Departamento de Estatísticas dos EUA mostraram que, em março, o índice de preços ao consumidor (IPC) surpreendeu o mercado, ao apresentar um crescimento em cadeia de 0,4% (face a uma previsão de 0,3%) e um crescimento homólogo de 3,5% (eram esperados 3,4%). A tendência foi semelhante para a inflação subjacente, que registou um aumento homólogo de 3,8% (eram estimado 3,7%).

A mesma tendência foi expressa esta sexta-feira pela divulgação da evolução do índice de despesas de consumo pessoal das famílias norte-americanas, conhecido como índice PCE e acompanhado com particular atenção pela Fed.

Segundo o índice PCE, os preços de bens e serviços adquiridos pelos consumidores dos EUA em março subiram 2,7%, face a um aumento de 2,5% em fevereiro, afastando-se ainda mais do objetivo de 2% fixado pelo banco central norte-americano.

O banco central dos EUA precisa de mais confiança na trajetória da inflação antes de poder cortar os juros (…) O ciclo de redução das taxas apenas foi adiado, mas não está em causa.

Franck Dixmier

Diretor global de investimentos em obrigações da Allianz Global Investors

“Não estou a dizer que a Fed não seja capaz de trazer a inflação para menos de 2%, mas vamos assistir a mais picos da taxa de inflação como tivemos na pandemia”, destacou recentemente Kenneth Rogoff, ex-economista chefe do Fundo Monetário Internacional e professor de Harvard, numa entrevista à Bloomberg.

Jerome Powell, presidente da Fed, face ao contexto de incerteza relativamente à inflação e ao crescimento do PIB dos EUA, deverá reiterar no seu discurso a necessidade de o banco central dos EUA manter alguma prudência na condução da sua política monetária, ancorando as taxas de juro por mais algum tempo para evitar que a inflação alastre ainda mais as suas raízes.

“O banco central dos EUA precisa de mais confiança na trajetória da inflação antes de poder cortar os juros”, destaca Franck Dixmier, diretor global de investimentos em obrigações da Allianz Global Investors, numa nota enviada aos clientes do banco na terça-feira.

A decisão dea Fed manter as taxas pela sexta vez consecutiva poderá ser vista não apenas como um sinal de estabilidade, mas como uma declaração de confiança de que a economia dos EUA ainda tem o que é necessário para combater a inflação sem recorrer a medidas drásticas.

Franck Dixmier considera que “o ciclo de redução das taxas apenas foi adiado, mas não está em causa”, considerando que “o abrandamento da economia deverá contribuir para a normalização gradual da inflação, permitindo à Fed iniciar os cortes no segundo semestre do ano.”

A decisão da Fed manter as taxas pela sexta vez consecutiva poderá ser vista não apenas como um sinal de estabilidade, mas como uma declaração de confiança de que a economia dos EUA ainda tem o que é necessário para combater a inflação sem recorrer a medidas drásticas.

Por��m, por outro lado, os mercados começam também a mostrar alguma impaciência, dado que não há muito tempo o mercado de futuros descontava cortes acumulados de 150 pontos base das Fed Funds ao longo de 2024, com a primeira redução a surgir em março.

As reações têm sido mistas a esta prudência da Fed, com alguns setores a pedirem por um primeiro corte das taxas de juro que permita respirar, enquanto outros anseiam por um sinal mais forte de que a luta contra a inflação será intensificada. Enquanto as empresas tecnológicas enfrentam uma temporada de resultados divididos, a resposta da Fed poderá ser o catalisador que inclinará a balança para uma direção ou outra.

A decisão que será anunciada por Powell esta terça-feira pelas 14 horas locais (19 horas de Lisboa) não será apenas um evento de calendário, mas um momento de verdade para Powell e a sua equipa. A decisão que tomarão deverá ecoar por Wall Street e restantes bolsas europeias, moldando o investimento e a confiança dos consumidores nos próximos meses.

Com o equilíbrio entre crescimento e o controle inflacionário na balança, a Fed encontra-se no olho do furacão, pronta para liderar ou para ajustar o seu curso, dependendo das marés económicas que antecipa pela frente.

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