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Rui Vitória: “Antes os jogadores eram genuínos, jogar era o sonho de criança. Agora é ganhar o máximo de dinheiro e gerir a máquina à volta”

Rui Vitória: “Antes os jogadores eram genuínos, jogar era o sonho de criança. Agora é ganhar o máximo de dinheiro e gerir a máquina à volta”

Nasceu e cresceu a ver os pais a trabalhar de "manhã à noite". O irmão, aos 17 anos, entrou nas famosas “oficinas de Alverca” e foi um "alívio" para os pais - o mais velho já tinha o "futuro garantido". Nunca pensou chegar ao topo. Se não fosse jogador, treinador e professor, teria sido contabilista. Subiu de clube em clube até que chegou o telefonema de Luís Filipe Vieira. Nesta conversa conduzida por Bernardo Ferrão, o mister Rui Vitória fala sobre a infância, a carreira, a pressão mediática, os momentos difíceis na Luz e ainda e sobre o que pensa dos novos jogadores
Matilde Fieschi

“Um miúdo feliz, bonacheirão e simpático”. Rui Vitória nasceu e cresceu em Alverca, em 1970. A mãe era secretária na OGMA, uma empresa de manutenção e fabrico de materiais para os aviões, o pai era soldador na TAP.

Não passavam dificuldades, mas a família era “humilde”. Os pais trabalhavam “de manhã à noite” para sustentar os dois filhos e poupavam para as tão aguardadas férias no Algarve.

A viagem de férias no verão para Monte Gordo era uma “felicidade tremenda”. Saiam de Alverca de madrugada, com o carro carregado - “até iam as panelas, os tachos e os colchões”, recorda. Dormiam no parque de campismo e o pai fazia a mesma viagem dois meses antes para reservar lugar para as tendas.

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Em criança saía de manhã para jogar à bola com os amigos, regressava para almoçar e voltava a sair até à hora do jantar. “Quando era para ir comer, o meu pai assobiava para ir para casa”, lembra.

O desporto e o futebol estiveram sempre presentes. Licenciou-se em Educação Física na Faculdade de Motricidade Humana, durante o curso jogava à bola e com os 25 contos que ganhava ajudava os pais a pagar as despesas. Com 19 anos, começou por dar aulas na escola Secundária de Alverca, onde estudou. À noite tirava o curso de treinador e jogava futebol sénior.

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“Nunca imaginei ter a vida que tenho hoje”. A mãe foi sempre muito cética em relação ao futuro do filho - “Ela perguntava-me muito: ‘O que vai ser da tua vida?’”, confessa. Para a família e para a terra onde vivia “os horizontes sempre foram muito curtos".

Tudo mudou quando recebeu duas chamadas num domingo à noite. Tinha dois convites para ser treinador em dois clubes. Foi o clique para deixar de ser jogador. No dia seguinte fez as malas, mudou de casa e apresentou-se como técnico do Vilafranquense. Foram tempos complicados, houve salários em atraso e a “resolução de problemas era diária”. Foi nesta altura que apareceu o Benfica, mudou-se para o Seixal e passou a treinar os juniores.

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Foram dois anos a treinar a formação, mas sabia que o objetivo era chegar ao futebol profissional. Esteve no Fátima quatro épocas e continuava a dar aulas em Alverca. Deixou o ensino quando deu o salto para o Paços de Ferreira que mais tarde lhe abriu portas para o convite de Luís Filipe Vieira para ser treinador do Benfica.

“Especulava-se que podia ser um dos escolhidos, mas pensava que não era o passo que o Benfica queria dar”, desabafa.

Entrou no Benfica num momento delicado. Jorge Jesus tinha saído para o Sporting, os primeiros seis meses foram difíceis. “O barco era pesado e ninguém acreditava em mim”.

Foi já como treinador do Al Nassar, na Arábia, que acompanhou o caso que envolveu o antigo presidente do Benfica. A boa relação entre ambos é pública e confessa que não foi “fácil” ver “uma pessoa de quem gostamos ser exposta” daquela maneira.

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O treinador Rui Vitória é convidado do novo episódio do Geração 70.

Nesta conversa com Bernardo Ferrão conhecemos o outro lado do mister. Falamos sobre a infância, adolescência, carreira, evolução do futebol, a pressão mediática - dos adeptos, das claques, dos presidentes dos clubes - e até o que pensa sobre os jogadores de hoje: "O balneário tornou-se mais difícil para um treinador. A sua palavra tem menos impacto junto do jogador. Depois de um jogo não procuram saber se a prestação foi boa ou má, chegam ao balneário e agarram-se aos telemóveis", conclui.

Agora está sem clube, depois de uma curta passagem pela seleção do Egito. Não fecha a porta a um dia ser Selecionador Nacional, mas por agora descarta. “A Seleção está muito bem entregue”, diz.

Esta entrevista foi gravada antes da eleição de André Villas Boas para a presidência do FC Porto.

Paulo Alves

Geração 70 não é um podcast de política ou de economia, nem de artes ou ciência. É uma conversa solta com os protagonistas de hoje que nasceram na década de 70. A geração que está aos comandos do país ou a caminho. Aqui falamos de expectativas e frustrações. De sonhos concretizados e dos que se perderam. Um retrato na primeira pessoa sobre a indelével passagem do tempo, uma viagem dos anos 70 até aos nossos dias conduzida por Bernardo Ferrão

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