expresso.ptexpresso.pt - 28 abr. 10:00

Como os jornais das ex-colónias viram o 25 de Abril (que só lá chegou a 27... ou 28)

Como os jornais das ex-colónias viram o 25 de Abril (que só lá chegou a 27... ou 28)

Três dias depois da Revolução dos Cravos, que acabou com a guerra colonial, o matutino “Província de Angola” ainda tinha escrito na 1ª página “Visado pela Censura”. No 50º aniversário do 25 de Abril de 1974, o Expresso recorda 43 primeiras páginas dos jornais que se liam em Angola, Cabo Verde, Moçambique e na Guiné. São sete fotogalerias e um artigo que publicámos 24 de abril de 2017

“Tinha onze anos quando deixei de ser obrigada a dormir a sesta e comecei a preferir ler os jornais que o meu pai trazia para casa à hora de almoço, em vez de ir jogar à bola para o quintal”. Quem assim fala é uma mulher que cresceu em Moçambique, onde lhe nasceu “o vício da leitura de jornais” — Maria Manuel Leitão Marques, eurodeputada e ex-ministra da Presidência: “Vivíamos em Quelimane [a norte da cidade da Beira] e o meu pai todos os dias comprava o “Notícias da Beira”, o “Tribuna” e o “Notícias de Lourenço Marques”. Não havia televisão, e a rádio começava por volta das 19h... Comecei a ler os jornais do meu pai, na cadeira dele, depois do almoço, quando ele ia fazer a sesta”.

O sol em África nasce cedo e põe-se cedo. Leitão Marques, médico, começava a trabalhar por volta das 7h; havia que aproveitar a luz e fugir ao calor, que aumentava com a aproximação do meio-dia. Oriundo de Coimbra, onde estudou, rumou a Moçambique com a mulher, como alguns portugueses da sua geração, e foi lá que nasceram os filhos.

Na véspera das eleições na África do Sul, o jornal da segunda maior cidade de Moçambique dá um grande destaque ao que se passa no mundo: Chade, Rodésia, Níger, Chipre e Vietname ocupam grande parte da primeira página Na véspera das eleições na África do Sul, o jornal da segunda maior cidade de Moçambique dá um grande destaque ao que se passa no mundo: Chade, Rodésia, Níger, Chipre e Vietname ocupam grande parte da primeira página NOTÍCIAS DA BEIRA / HEMEROTECA MUNICIPAL DE LISBOA Na véspera das eleições na África do Sul, o jornal da segunda maior cidade de Moçambique dá um grande destaque ao que se passa no mundo: Chade, Rodésia, Níger, Chipre e Vietname ocupam grande parte da primeira página Na véspera das eleições na África do Sul, o jornal da segunda maior cidade de Moçambique dá um grande destaque ao que se passa no mundo: Chade, Rodésia, Níger, Chipre e Vietname ocupam grande parte da primeira página NOTÍCIAS DA BEIRA / HEMEROTECA MUNICIPAL DE LISBOA 18

O imenso espaço e o contacto com a natureza marcaram para sempre a personalidade de Maria Manuel. E a Guerra dos Seis Dias também: “Na altura já tinha 14 anos e segui as notícias como uma novela. Os jornais iam relatando o conflito” que opôs Israel ao Egito, Jordânia e Síria nos primeiros dias de junho de 1967: “Mas não davam notícias sobre a Guerra Colonial” e sobre os combates que se travavam a alguns quilómetros da cidade onde a família morava.

A luta dos movimentos de libertação era assunto tabu em quase toda a imprensa publicada nas colónias portuguesas em África durante o Estado Novo. Não que não houvesse ‘elites’ europeias que defendiam os direitos da população local e uma maior independência face ao poder central... mas a censura não permitia tais notícias.

Na véspera da Revolução dos Cravos o diário “Notícias da Beira” lembrava na primeira página que a “maioria não branca não tem direito a voto” nas eleições da vizinha África do Sul” [ver fotogaleria com 8 primeiras páginas deste título].

Para bom leitor meia palavra basta – e a nota sobre as restrições de direitos à população africana na África do Sul também se aplicava a Moçambique e restantes Províncias Ultramarinas, expressão por que passaram a ser designadas as colónias portuguesas depois da reforma constitucional de 1951.

Em Angola como na então chamada Metrópole, quem quisesse ler nas entrelinhas podia fazê-lo: O primeiro-ministro líbio Abdussalam Jalloud, em visita a Madrid criticou a ocupação espanhola do Sahara Em Angola como na então chamada Metrópole, quem quisesse ler nas entrelinhas podia fazê-lo: O primeiro-ministro líbio Abdussalam Jalloud, em visita a Madrid criticou a ocupação espanhola do Sahara DIÁRIO DE LUANDA / HEMEROTECA MUNICIPAL DE LISBOA Em Angola como na então chamada Metrópole, quem quisesse ler nas entrelinhas podia fazê-lo: O primeiro-ministro líbio Abdussalam Jalloud, em visita a Madrid criticou a ocupação espanhola do Sahara Em Angola como na então chamada Metrópole, quem quisesse ler nas entrelinhas podia fazê-lo: O primeiro-ministro líbio Abdussalam Jalloud, em visita a Madrid criticou a ocupação espanhola do Sahara DIÁRIO DE LUANDA / HEMEROTECA MUNICIPAL DE LISBOA 18

Em Angola, na véspera da Revolução dos Cravos, o vespertino “Diário de Luanda”, titulava na primeira página: “Durante a visita oficial a Madrid – O Primeiro-Ministro da Líbia Atacou a Presença Espanhola no Sará”. A Líbia de Mouammar Kadhafi – tal como outros países do Magrebe – não via com bons olhos a presença europeia no Sará; Abdussalam Jalloud aproveitou a visita oficial que realizou à Espanha de Francisco Franco para transmitir esta posição.

Na quinta-feira, 25 de Abril de 1974, a primeira página do “Diário de Luanda” publicava no topo da página uma nota informativa do governador-geral da ainda província ultramarina, onde se lia que “notícias naturalmente confusas, chegadas de Lisboa, dão conta de ter eclodido um movimento cujas características não se conhecem ainda”.

Este vespertino, o “Notícias da Beira”, “A Voz da Guiné” e “O Arquipélago”, de Cabo Verde, são os quatro títulos do conjunto dos sete que aqui mostramos que saíram no dia da Revolução.

Quarta-feira, 24 de abril de 1974. Este matutino destaca resoluções do Conselho de Ministros da Metrópole e vários temas da cena política internacional, nomeadamente as eleiçoes na África do Sul e a maior presença da China nos mercados internacionais Quarta-feira, 24 de abril de 1974. Este matutino destaca resoluções do Conselho de Ministros da Metrópole e vários temas da cena política internacional, nomeadamente as eleiçoes na África do Sul e a maior presença da China nos mercados internacionais A PROVÍNCIA DE ANGOLA / HEMEROTECA MUNICIPAL DE LISBOA Quarta-feira, 24 de abril de 1974. Este matutino destaca resoluções do Conselho de Ministros da Metrópole e vários temas da cena política internacional, nomeadamente as eleiçoes na África do Sul e a maior presença da China nos mercados internacionais Quarta-feira, 24 de abril de 1974. Este matutino destaca resoluções do Conselho de Ministros da Metrópole e vários temas da cena política internacional, nomeadamente as eleiçoes na África do Sul e a maior presença da China nos mercados internacionais A PROVÍNCIA DE ANGOLA / HEMEROTECA MUNICIPAL DE LISBOA 17

O matutino “A Província de Angola”, título lido pela ex- professora Teresa Ramos Santos, que viveu em Luanda até 1977, foi fundado em 1923, na I República: “Não havia jornais desportivos em Angola. Quando 'A Bola' chegava a Luanda, com muitos dias de atraso, era uma festa para o meu marido.”

Teresa migrou de Portugal para Angola, depois de se casar, em 1953. Antes, na década de 1920, houve uma leva migratória de Portugal para Angola. Muitas destas pessoas fixaram-se, constituíram família, tiveram filhos e não regressaram; as viagens eram longas e caras, as comunicações difíceis e muitos perderam os laços que os ligavam à Metrópole.

Em 1975, Portugal recebeu cerca de meio milhão de pessoas das ex-colónias africanas. Boa parte dos retornados – como ficaram conhecidos – tinha nascido em África e parte deles não tinha ligações familiares na Metrópole. Regressaram europeus e africanos e a vinda dessas pessoas foi decisiva para a estabilização da democracia portuguesa e o desenvolvimento da economia, embora muitos dos que voltaram nunca tivessem pensado migrar ou retornar a território europeu.

Congresso Internacional sobre Imprensa Colonial em Lisboa

Entre 22 e 25 de maio, Lisboa vai acolher congresso internacional sobre imprensa colonial, que reúne “investigadores, bibliotecários e arquivistas de 19 países que foram colonizados ou tiveram impérios coloniais”. Adelaide Machado e Sandra Lobo, duas das organizadoras desta reunião que vai debater de forma multidisciplinar a imprensa nos territórios do império português, francês, belga, holandês e espanhol, insistem na importância de “partilhar arquivos de forma acessível, para possibilitar um estudo aprofundado e comparado” sobre os colonialismos de vários países europeus.

Entre más heranças, sequelas, e outros malefícios permanecem patrimónios comuns como arquivos, laços afetivos e a língua.

Esta edição da Notícia, uma revista com papel melhorado e cor, já estaria pronta quando se soube da Revolução. Os jornalistas ainda foram a tempo de alterar páginas e colocar uma chamada na capa. Foi assim a primeira capa da Liberdade,no sábado, 27 de abril Esta edição da Notícia, uma revista com papel melhorado e cor, já estaria pronta quando se soube da Revolução. Os jornalistas ainda foram a tempo de alterar páginas e colocar uma chamada na capa. Foi assim a primeira capa da Liberdade,no sábado, 27 de abril HEMEROTECA MUNICIPAL DE LISBOA Esta edição da Notícia, uma revista com papel melhorado e cor, já estaria pronta quando se soube da Revolução. Os jornalistas ainda foram a tempo de alterar páginas e colocar uma chamada na capa. Foi assim a primeira capa da Liberdade,no sábado, 27 de abril Esta edição da Notícia, uma revista com papel melhorado e cor, já estaria pronta quando se soube da Revolução. Os jornalistas ainda foram a tempo de alterar páginas e colocar uma chamada na capa. Foi assim a primeira capa da Liberdade,no sábado, 27 de abril HEMEROTECA MUNICIPAL DE LISBOA 13

Isadora Ataíde da Fonseca, autora de uma tese de doutoramento intitulada “A Imprensa e o Império na África Portuguesa, 1842–1974”, diz ao Expresso que “a imprensa na África portuguesa, sendo uma fonte importante, ainda é pouco estudada enquanto objeto”. Normalmente era “muito opinativa e estava ligada aos colonos europeus”.

Recorde-se que a geração que fundou os movimentos de libertação das ex-colónias começou por ler essa imprensa e, na sua grande maioria, fez os estudos universitários na Metrópole.

Para Isadora Ataíde, o “Diário de Luanda” é “um exemplo de jornal que modificou a sua orientação editorial com o 25 de Abril, de apoiante do regime autoritário, tornou-se relativamente independente dos poderes políticos e económicos”. Se analisarmos os jornais portugueses dessa época chegaremos a conclusões muito semelhantes, já que a queda da ditadura e o fim da censura libertaram a forma de fazer jornalismo.

Isadora lembra que o “ABC de Angola”, na sua última edição, publicada a 13 de maio de 1974, tinha por manchete uma declaração do industrial António Champalimaud: “É-me difícil conceber como é que alguém de qualquer partido político ou mesmo fação de guerrilha possa conscientemente prescindir do esforço português em África.”

Fundado em 1926, o Notícias de Lourenço Marques de 24 de abril faz manchete com as eleições na vizinha África do Sul e destaca o excesso de trânsito na ponte sobre o Tejo em Lisboa. Também noticia um atentado falhado contra o Presidente do Egito, Anwar Sadat, que viria a ser assassinado a 6 de outubro de 1981 Fundado em 1926, o Notícias de Lourenço Marques de 24 de abril faz manchete com as eleições na vizinha África do Sul e destaca o excesso de trânsito na ponte sobre o Tejo em Lisboa. Também noticia um atentado falhado contra o Presidente do Egito, Anwar Sadat, que viria a ser assassinado a 6 de outubro de 1981 NOTÍCIAS DE LOURENÇO MARQUES / HEMEROTECA MUNICIPAL DE LISBOA Fundado em 1926, o Notícias de Lourenço Marques de 24 de abril faz manchete com as eleições na vizinha África do Sul e destaca o excesso de trânsito na ponte sobre o Tejo em Lisboa. Também noticia um atentado falhado contra o Presidente do Egito, Anwar Sadat, que viria a ser assassinado a 6 de outubro de 1981 Fundado em 1926, o Notícias de Lourenço Marques de 24 de abril faz manchete com as eleições na vizinha África do Sul e destaca o excesso de trânsito na ponte sobre o Tejo em Lisboa. Também noticia um atentado falhado contra o Presidente do Egito, Anwar Sadat, que viria a ser assassinado a 6 de outubro de 1981 NOTÍCIAS DE LOURENÇO MARQUES / HEMEROTECA MUNICIPAL DE LISBOA 18

Dos sete títulos que analisamos neste artigo – cujos direitos de imagem pertencem à Hemeroteca Municipal de Lisboa – somos tentados a dizer que os dois títulos de Moçambique são os mais próximos dos jornais contemporâneos.

Antes do golpe do MFA, o “Notícias da Beira” [de que foi chefe de redação o já falecido ex-jornalista do Expresso José Henriques Coimbra] e o “Notícias de Lourenço Marques” dão um forte destaque ao noticiário político internacional como forma de contornar as limitações impostas pela censura, que supervisionava todo o material noticioso que iria ser publicado.

Nos dias que se seguem ao 25 de Abril de 1974, o destaque passa para o acompanhamento da mudança de regime em Portugal; os dois títulos tentam relatar de forma exaustiva o que se passa, colocando-se do lado do novo regime.

O jornal do Bispo da Beira

D. Sebastião Soares de Resende, Bispo da Beira, teve uma ação determinante na denúncia das más condições de vida e da exploração laboral que atingia a população indígena.

Crítico do colonialismo português, foi acusado de ser comunista, como aconteceu a muitos que ousavam denunciar as práticas da ditadura. Quando morreu, em janeiro de 1967, “na sequência de um cancro – apesar de acompanhado por médicos em Lisboa, quis voltar para ficar sepultado em Moçambique. Sinal dos tempos e da abertura do homem, no momento da sua agonia, hindus, muçulmanos e ortodoxos rezavam, nos diferentes templos da Beira, pela saúde do bispo católico”, escreveu o jornalista António Marujo num artigo sobre a vida do fundador do “Diário de Moçambique”.

Na terça-feira, 23 de Abril, o vespertino Voz da Guiné titula que foi cancelada a eleição de “Miss” Guiné 1974 

Na terça-feira, 23 de Abril, o vespertino Voz da Guiné titula que foi cancelada a eleição de “Miss” Guiné 1974 Voz Da Guiné / Hemeroteca Municipal De Lisboa Na terça-feira, 23 de Abril, o vespertino Voz da Guiné titula que foi cancelada a eleição de “Miss” Guiné 1974 

Na terça-feira, 23 de Abril, o vespertino Voz da Guiné titula que foi cancelada a eleição de “Miss” Guiné 1974 Voz Da Guiné / Hemeroteca Municipal De Lisboa 14

Em São Tomé e Príncipe só existia em 1974 o “semanário A Voz de São Tomé”: “Não havia diários” explica Isadora de Ataíde, acrescentando que este título “não existe na Biblioteca Nacional”, nem na Hemeroteca Municipal de Lisboa.

O último número desta publicação saiu a 23 de abril de 1974. De acordo com Isadora, lia-se assim: “O problema que se nos pôs não é de partidarismo político, mas tão somente de salvação nacional, dado estar em jogo não o triunfo de um programa, mas a própria sobrevivência da nação”.

Não houve eleição de Miss Guiné 1974

“A Voz da Guiné”, um vespertino de publicação não diária, parece ser a única publicação nesse território em 1974. Isadora de Ataíde lembra que a Guiné tinha “poucas elites”, o que poderá explicar a ausência de jornais.

A primeira página das edições de 23 e 25 de abril, sendo que esta última foi feita antes do golpe do MFA, são as de um jornal muito incipiente, com grandes títulos e poucos conteúdos desenvolvidos na primeira página. Ficamos a saber que dia 26 era feriado municipal em Bissau e que uma bailarina tinha fugido da escola. As edições de 30 de abril e 9 de maio já têm primeiras páginas mais noticiosas.

Isadora lembra que quase todos estes jornais incluíam nas suas páginas o “Boletim das Forças Armadas, redigido num tom triunfalista”.

Em Cabo Verde não existiam jornais diários em 1974. A edição de 18 de abril do semanário “O Arquipélago”, publicado na cidade da Praia, não tem fotos na primeira página e fala sobre o problema das comunicações marítimas em Cabo Verde Em Cabo Verde não existiam jornais diários em 1974. A edição de 18 de abril do semanário “O Arquipélago”, publicado na cidade da Praia, não tem fotos na primeira página e fala sobre o problema das comunicações marítimas em Cabo Verde O ARQUIPÉLAGO / HEMEROTECA MUNICIPAL DE LISBOA Em Cabo Verde não existiam jornais diários em 1974. A edição de 18 de abril do semanário “O Arquipélago”, publicado na cidade da Praia, não tem fotos na primeira página e fala sobre o problema das comunicações marítimas em Cabo Verde Em Cabo Verde não existiam jornais diários em 1974. A edição de 18 de abril do semanário “O Arquipélago”, publicado na cidade da Praia, não tem fotos na primeira página e fala sobre o problema das comunicações marítimas em Cabo Verde O ARQUIPÉLAGO / HEMEROTECA MUNICIPAL DE LISBOA 15

“Estas terras de Cabo Verde parecem estar adormecidas, no meio do mar, desde a noite dos tempos, à espera de poderem ser Portugal” — era a espécie de epígrafe que encimava as cinco primeiras páginas de “O Arquipélago” em abril e maio de 1974 que aqui se reproduzem. O autor da frase é Adriano Moreira, que foi ministro do Ultramar de Salazar entre 1961 e 1963.

Sem imagens na primeira página, o semanário “O Arquipélago” teve a sua primeira edição em 1962, dirigido por Bento Levy. Este “órgão do regime (...) era propriedade do Centro de Informação e Turismo”, explica Isadora Ataíde.

“As guerras de libertação em África não existiam [neste título] e quando saíram conteúdos sobre os movimentos de libertação africanos, eram de ataque às suas causas”, escreve Isadora de Ataíde na sua tese de doutoramento; basta atentar numa notícia sobre a Guiné publicada na primeira página no próprio dia da Revolução dos Cravos. “A partir do 25 de Abril o jornal mudou de tom e de conteúdo”, mas não conseguiu sobreviver. O último número (619) foi publicado a 20 de junho de 1974.

Com todas as restrições que a censura impunha, os jornais das ex-colónias são uma importante fonte de informação sobre a vida da sua população. Memórias de um tempo em que a não existência de televisão levava as pessoas “a conversarem mais e conviverem mais. E também líamos bons livros”, recorda Teresa Ramos Santos. Já Maria Manuel Leitão Marques perdeu as primeiras imagens do homem na Lua: “mas acompanhámos tudo pela rádio”, acrescenta.

Através das 43 primeiras páginas que o Expresso reproduz neste 50º aniversário da Revolução de Abril, o leitor terá confirmado nas fotogalerias que o “Notícias da Beira” informa que “foi abolida a censura aos espetáculos” e filmes na edição de 29 de abril, quatro dias depois da queda do regime. E que a 28 de abril “A Província de Angola” ainda exibia o carimbo “visado pela censura”; idênticas situações verificaram-se com os outros títulos.

O Expresso agradece à Hemeroteca Municipal de Lisboa as imagens que aqui se reproduzem.

NewsItem [
pubDate=2024-04-28 11:00:00.0
, url=https://expresso.pt/50-anos-25-de-abril/2024-04-28-como-os-jornais-das-ex-colonias-viram-o-25-de-abril--que-so-la-chegou-a-27.-ou-28--08c502c3
, host=expresso.pt
, wordCount=2500
, contentCount=1
, socialActionCount=0
, slug=2024_04_28_1997275034_como-os-jornais-das-ex-colonias-viram-o-25-de-abril-que-so-la-chegou-a-27-ou-28
, topics=[50 anos do 25 de abril]
, sections=[]
, score=0.000000]