visao.ptvisao.pt - 27 abr. 12:08

Quais são os alimentos que contêm mais microplásticos?

Quais são os alimentos que contêm mais microplásticos?

O que dizem os estudos mais recentes sobre os microplásticos

Há cada vez mais estudos que têm encontrado microplásticos, pequenos fragmentos de plástico que resultam da degradação de plásticos maiores ou, então, fabricados com tamanhos diminutos, nos mais variados sítios, inclusive na neve do topo do Monte Evereste.

Mas o que tem deixado os investigadores em alerta maior são aqueles encontrados nos alimentos, na água e no ar que nos rodeia. Um estudo publicado em fevereiro deste ano na revista Environmental Research deu conta de que, de todas as amostras com proteínas animais e vegetais analisadas, 90% continham microplásticos.

Para a realização deste estudo, a equipa analisou mais de uma dúzia de proteínas de consumo comum, incluindo carne de vaca, camarão panado e outros tipos de camarão, peitos e nuggets de frango, carne de porco, marisco, tofu e outras alternativas de carne à base de plantas. Os investigadores concluíram que o camarão panado continha, de longe, o maior número de microplásticos; os nuggets à base de plantas ocuparam o segundo lugar e os nuggets de frango ficaram em terceiro lugar.

Os investigadores estimaram ainda que a exposição média dos adultos norte-americanos aos microplásticos varia entre 11 mil e 29 mil partículas por ano, com uma exposição máxima estimada de 3,8 milhões de microplásticos por ano.

Arroz, fruta e legumes

Um estudo realizado por investigadores da Universidade de Queensland, em Brisbane, na Austrália, concluiu que, por cada 100 gramas de arroz ingeridos, são consumidos três a quatro miligramas de plástico, mas o número salta para 13 miligramas por porção no caso do arroz instantâneo. Os investigadores acreditam, contudo, que, lavando o arroz, é possível reduzir a contaminação por plástico em até 40%.

Em 2020, dois estudos descobriram que os micro e nanoplásticos estão presentes nos legumes e nas frutas que comemos, e que as maçãs e as cenouras são os alimentos mais contaminados.

Um dos estudos, publicado na revista Environmental Research, foi elaborado por uma equipa de investigadores da Universidade de Catania, em Itália, e comparou seis variedades diferentes de alimentos (maçãs, cenouras, pêras, bróculos, batatas e alface), provenientes de diferentes locais. Os alimentos foram limpos e descascados, exepto os bróculos e as alfaces, antes de serem colocados no liquidificador. De seguida foram desidratados no forno e analisados.

“Pela primeira vez, detetámos microplásticos (MPs) em frutas e vegetais comestíveis. Os resultados abrem um novo cenário, tanto nas ciências ambientais quanto nas médicas”, explicaram os autores do estudo, acrescentando que “os MPs representam uma preocupação atual de saúde pública, uma vez que a toxicidade ainda não foi totalmente investigada”.

O segundo estudo, publicado na revista Nature Sustainability pouco tempo depois, descobriu que é através da água absorvida pelas raízes que os micro e nanoplásticos “entram” nos alimentos.

Já uma investigação realizada em 2021 concluiu que as frutas e legumes podem absorver microplásticos através dos seus sistemas radiculares e transferi-los para os caules, folhas, sementes e frutos da planta.

Nem o sal ou o açúcar escapam

Um estudo de janeiro deste ano, realizado por investigadores da Universidade de Andalas, na Indonésia, detetou microplásticos no sal de cozinha, tendo identificado até 33 partículas por quilograma. Isto representa, de acordo com a equipa, uma ingestão de mais de mil microplásticos todos os anos.

Já no ano passado, uma investigação tinha concluído que o sal grosso rosa dos Himalaias, extraído do solo, é o que contém mais microplásticos, seguido do sal preto e do sal marinho.

Um estudo de 2022 também definiu o açúcar como “uma importante via de exposição humana a estes micropoluentes”.

As saquetas de chá também são responsáveis pela libertação de grandes quantidades de plástico, descobriu uma equipa de investigadores da Universidade McGill, no Quebeque, Canadá. De acordo com os cientistas, a preparação de um chá com apenas uma saqueta de plástico liberta cerca de 11,6 mil milhões de microplásticos e 3,1 mil milhões de partículas nanoplásticas para a água.

Em janeiro deste ano, um estudo publicado na revista PNAS concluiu que a água das garrafas de plástico contém até cem vezes mais partículas minúsculas de plástico do que estimado até agora. Ao utilizarem uma tecnologia inovadora, os cientistas contabilizaram em média 240 mil fragmentos de plástico detetáveis por litro de água, depois de terem testado o produto de várias marcas populares.

“Se as pessoas estão inquietas a propósito dos nanoplásticos na água engarrafada, é racional considerar alternativas, como a água da torneira”, disse um dos autores do estudo, Beizhan Yan, à agência de notícias AFP.

Os microplásticos têm menos de cinco mil micrómetros, o que representa cinco milímetros, ao passo que os nanoplásticos têm menos de um micrómetro (a milésima parte de um milímetro). São tão pequenos que podem entrar no sistema sanguíneo e, portanto, em órgãos, como o cérebro ou o coração.

As investigações sobre as suas consequências nos ecossistemas e na saúde humana ainda são limitadas, mas alguns estudos já evidenciaram os seus efeitos nefastos, por exemplo no sistema reprodutivo.

Além disso, os investigadores têm descoberto que os microplásticos têm um impacto significativo no nosso sistema digestivo e que conseguem deslocar-se a partir do intestino para os tecidos de outros órgãos, como os rins, o fígado e até o cérebro.

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