expresso.ptexpresso.pt - 2 out. 19:00

“É impossível deixar de ter motores a combustão”

“É impossível deixar de ter motores a combustão”

O BP Energy Outlook deste ano avisa que a transição energética tem de ser mais rápida, mas não a todo o custo, como ficou claro na conferência de apresentação do relatório que decorreu esta quarta-feira em Lisboa e a que o Expresso se associou como media partner

O processo de transição energética ou de descarbonização já está em curso e não há volta a dar. “Tem mesmo de se fazer”, diz Nichola Silveira, CEO da PSA Sines, a empresa que gere o Terminal XXI (contentores). A bem do planeta e até da saúde. Mas “uma coisa é reduzir as emissões, a outra é reduzir as emissões e acabar com o petróleo”, repara Gustavo Paulo Duarte, CEO da Transportes Paulo Duarte. E acabar com o petróleo não parece possível para muitos dos que estiveram esta manhã na conferência que a BP organizou para apresentar o Energy Outlook 2024 e que contou ainda com Sílvia Barata, CEO da BP Portugal, Robert Spicer, responsável da área de mobilidade e transportes da BP; Paulo Carmona, o novo diretor-geral da Direção Geral de Energia e Geologia (DGEG); Teresa Ponce Leão, presidente do Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG); Nuno Lapa, professor na Universidade Nova e Rui Rei, presidente da Parques Tejo. Estas foram as principais conclusões.

1. Acelerar a transição

  • O BP Energy Outlook 2024 é claro nas suas conclusões: ou se anda mais depressa na transição ou vai ser muito mais difícil atingir as metas de Paris e a reduzir as emissões de carbono. Difícil porque se vai gastar mais dinheiro e porque as pessoas vão ser mais afetadas, repara Robert Spicer.
  • E para Nuno Lapa e Rui Rei, a transição que se tem estado a fazer já não é totalmente justa. Porque, por exemplo, nem toda a gente tem capacidade financeira para comprar um carro elétrico.
  • Seja como for, ela tem mesmo de se fazer, e são precisas novas tecnologias, porque só a eletrificação não vai ser suficiente.
    Por exemplo, há indústrias que não conseguem usar eletricidade para aquecer os fornos e precisam de gás, mas em vez de ser fóssil pode ser hidrogénio verde, ou seja, feito através de energias renováveis. O hidrogénio também é considerado uma boa solução para os navios, mas também se fala em combustíveis à base de óleos vegetais hidrogenados (HVO).
  • Nos transportes pesados, o hidrogénio já não é tão falado. Em cima da mesa têm estado mais os biocombustíveis e os combustíveis sintéticos.
  • E há depois soluções que não são tão tecnológicas, como a eficiência energética, reparou Teresa Ponce Leão, lembrando os ganhos financeiros que pode trazer a uma empresa. Ou melhorar os licenciamentos dos projetos de energia, referiu Paulo Carmona, que há um mês assumiu o cargo de diretor geral de Energia.

2. Acabar com o petróleo

  • Ao longo dos anos, o BP Energy Outlook dá sempre nota de uma redução significativa do consumo de petróleo e de gás natural que serão substituídos por eletricidade e por combustíveis e/ou gases renováveis. Mas para Nuno Lapa, para Gustavo Paulo Duarte e para Paulo Carmona “é impossível acabar com os motores a combustão”.
  • A opção, diz Gustavo Paulo Duarte é manter tudo como está e aposta na captura do carbono emitido pelos camiões.
  • Já Nuno Lapa aponta para os biocombustíveis e para os combustíveis sintéticos, mas contesta os sinais contraditórios dados por Bruxelas. “Não permitir as vendas de carros a combustão a partir de 2035 não foi um sinal positivo, porque desincentiva ao fabrico de biocombustíveis ou de combustíveis sintéticos”, remata.
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