www.sabado.ptPaulo Lona - 30 set. 16:33

Itália e os ataques ao Estado de Direito

Itália e os ataques ao Estado de Direito

Opinião de Paulo Lona

O Estado de Direito e a independência do judiciário obrigam a uma vigilância constante e salvaguarda contra os múltiplos ataques de que são alvo.

A MEDEL (Associação de Magistrados Europeus pela Democracia e Liberdades) emitiu recentemente um comunicado expressando a sua profunda preocupação relativamente aos ataques, através da comunicação social e declarações públicas de altos oficiais do Governo italiano, contra o judiciário italiano, em que os magistrados são acusados de conduzirem investigações e processos com viés político.

Um novo limiar de interferência foi cruzado com as recentes declarações sobre os procuradores envolvidos em um julgamento que tem como arguido um Ministro da República, por impedir o barco Open Arms, que transportava 147 migrantes resgatados no mar, de atracar em Itália. Sem qualquer consideração pelos argumentos jurídicos apresentados pelos procuradores e pleno cumprimento dos procedimentos previstos no ordenamento jurídico no caso de processos penais contra ministros, tais declarações "venderam" à opinião pública o guião de um Judiciário que desempenha um papel de oposição ativa ao governo e às suas políticas de migração, agindo em desafio ao princípio da separação de poderes.

Tudo isto soa ainda mais alarmante tendo em conta os planos de reforma para alterar o quadro constitucional que até agora garantiu em Itália a independência dos procuradores e do poder judicial como um todo.

A Medel já anteriormente tinha afirmado a necessidade de ser dada prioridade ao salvamento de vidas humanas, iniciando novamente uma missão pública europeia de busca e salvamento no Mar Mediterrâneo Central (a rota de migração mais perigosa do mundo), devendo ser assegurado o princípio da solidariedade entre os Estados na gestão dos fluxos de migrantes e requerentes de asilo e prestada assistência, adequada e humanitária, em todos os setores e fases.

Numa sociedade em que se apliquem as regras do Estado de Direito o Judiciário está sujeito a regras de prestação de contas à sociedade que serve e a uma avaliação crítica das suas ações.

Contudo, numa sociedade onde se aplica o Estado de Direito, a fronteira é clara entre a crítica pública ao poder judicial - que implica o respeito institucional mútuo próprio da dialética democrática - e a sua deslegitimação, que representa antes uma perigosa ameaça à sua independência e um ataque à confiança dos cidadãos na sua imparcialidade e justiça.

Num Estado onde se aplica o Estado de Direito, os juízes e os procuradores atuam como garantes da igualdade das pessoas perante a lei, sem distinção dos seus papéis e funções, e protegem aqueles direitos fundamentais que as nossas Constituições e normas supranacionais concedem, como direitos universais, a todos os indivíduos.

Tendo como pano de fundo a experiência de erosão do Estado de Direito na Europa, mostrando que o poder judicial é muitas vezes o primeiro alvo de processos regressivos, a MEDEL fez um apelo ao respeito pelo papel constitucional do poder judicial e expressou a sua solidariedade para com todos os magistrados europeus empenhados na defesa dos direitos fundamentais e do Estado de direito. Mais crónicas do autor 07:00 Itália e os ataques ao Estado de Direito

Um novo limiar de interferência foi cruzado com as recentes declarações sobre os procuradores envolvidos em um julgamento que tem como arguido um Ministro da República, por impedir o barco Open Arms, que transportava 147 migrantes resgatados no mar, de atracar na Itália.

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