observador.pt - 17 set. 20:38
"Chamou-me mentiroso". Reunião da Assembleia Municipal de Lisboa suspensa após Moedas ser acusado de mentir
"Chamou-me mentiroso". Reunião da Assembleia Municipal de Lisboa suspensa após Moedas ser acusado de mentir
Presidente da Câmara Municipal de Lisboa abandonou reunião do executivo durante intervenção do Bloco de Esquerda, após vereadora o acusar de culpar administração de Medina por painéis publicitários.
A presidente da Assembleia Municipal de Lisboa suspendeu esta terça-feira a reunião plenária após discussão entre deputados do PSD e do BE, na sequência da decisão do presidente da câmara sair da sala por ter sido acusado de mentir.
“Chamou-me mentiroso e vou-me retirar da sala enquanto estiver o BE a falar”, afirmou o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas (PSD), durante a reunião da Assembleia Municipal, onde se encontrava a prestar contas do trabalho do executivo camarário entre julho e agosto.
Essa decisão surgiu na sequência da intervenção da deputada municipal do BE Maria Escaja sobre a colocação de painéis publicitários de grande dimensão na cidade, criticando Carlos Moedas por “culpar reiteradamente o anterior executivo” quando o contrato com a JCDecaux foi assinado no atual mandato.
“Carlos Moedas mente. Porque é que não assume as responsabilidades?”, interpelou a bloquista. Em defesa da honra, o presidente da câmara decidiu sair da sala, o que ocorreu pelas 17h27.
Posteriormente, a intervenção do BE continuou com a deputada Joana Teixeira, que considerou que a atitude de Carlos Moedas revela a incapacidade de responder às questões colocadas.
Com isto, houve uma discussão entre deputados do PSD e do CDS-PP e a bancada do BE e dos deputados independentes do movimento Cidadãos Por Lisboa (eleitos pela coligação PS/Livre).
Miguel Graça, dos Cidadãos Por Lisboa, disse que as interjeições dos deputados da direita aconteciam por a bancada do BE ser composta por “deputadas mulheres”, o que aumentou a discussão e que levou a presidente da Assembleia Municipal de Lisboa, Rosário Farmhouse (PS), a suspender a reunião.
“Os trabalhos vão-se suspender por cinco minutos”, avisou Rosário Farmhouse, pedindo aos serviços para suspenderem a transmissão em direto.
“O que está aqui a acontecer é uma vergonha. Ou se acalmam e conseguem trabalhar juntos ou então a reunião termina aqui. Enquanto não se acalmarem os trabalhos não retomam”, expôs a presidente da assembleia municipal, tendo depois reunido a conferência de líderes no palco do auditório.
Pelas 17h55, os trabalhos foram retomados, com a continuação da intervenção da deputada do BE Joana Teixeira.
Em representação do executivo municipal, na ausência de Carlos Moedas, o vice-presidente da câmara, Filipe Anacoreta Correia (CDS-PP), lamentou o incidente na assembleia.
Pelas 18h05 e após a intervenção do BE, o presidente da câmara voltou a entrar na sala. No âmbito do decorrer dos trabalhos, o deputado do Chega Bruno Mascarenhas apresentou dois planos do incidente: “Não vejo que haja qualquer espécie de misoginia […] e não entendo que o BE tenha tido uma atitude que ponha em causa a honorabilidade do presidente da câmara”.
“É normal na política dizer-se que os políticos metem, faz parte da dialética política”, expôs Bruno Mascarenhas, considerando que faltou “um bocadinho de estofo” a Carlos Moedas para se manter na sala.
Em resposta, o presidente da câmara recusou essa maneira de fazer política, “de atar a idoneidade das pessoas, chamar mentiroso”.
Da bancada do PSD, Carlos Reis criticou “quem faz da política um exercício maniqueísta”, referindo que as acusações de mentir “desqualificam o próprio debate político democrático” e avisando que quem exerce ou exerceu funções governativas tem de avaliar “que companhias quer ter para defrontar o presidente da câmara”, numa alusão às próximas eleições autárquicas em 2025, dando como certa a recandidatura de Carlos Moedas.
A instalação de até 125 painéis de publicidade digital de grande formato em Lisboa fez o Automóvel Club de Portugal (ACP) apresentar uma providência cautelar contra a Câmara de Lisboa e as empresas JCDecaux e MOP – Multimédia Outdoors Portugal, por considerar que a sua localização e dimensão são “claramente atentatórias da segurança rodoviária”.
A este propósito, a Câmara de Lisboa pediu à JCDecaux para suspender a colocação de mais painéis publicitários de grande formato na cidade e vai negociar com a empresa soluções para os que já foram instalados.
Apesar de o processo se ter iniciado no anterior executivo municipal, o contrato de concessão à JCDecaux para a instalação e exploração publicitária em Lisboa foi aprovado pela atual câmara, em setembro de 2022, tendo um prazo de 15 anos, com a empresa a pagar à CML “a remuneração anual de 8,3 milhões de euros” como contrapartida.
Esse contrato inclui “900 mupis, dos quais pelo menos 10% devem ser de natureza digital”; 2.000 abrigos; 75 sanitários públicos; 40 mupis amovíveis, para publicidade institucional; “um número de painéis digitais de grande formato não superior a 125 e que, no seu conjunto, compreenda uma área total de faces publicitárias entre 2.500 m2 [metros quadrados] e 3.000 m2; e 20 mupis de natureza digital e cinco painéis digitais (4×3 metros), a utilizar exclusivamente como equipamento informativo municipal”.