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TAP: comprar sem dinheiro é tudo menos uma compra

TAP: comprar sem dinheiro é tudo menos uma compra

Relatório da Inspeção-Geral de Finanças trouxe para o espaço público revelações importantes e indícios fortes de crime, relativos à privatização da companhia aérea em 2015.

O Governo, que não resolveu os problemas do SNS — muito menos com a urgência prometida na campanha eleitoral , que não resolve outros assuntos em áreas tão diversas e fundamentais para o desenvolvimento do país, por esgotamento das suas ideias e dos seus decisores políticos, insiste em inventar medidas avulsas de tom eleitoralista. E não consegue fugir à realidade consequente dos seus atores de hoje e de sempre.

Antes das eleições, para satisfazer as necessidades apaziguadoras da vida interna do PSD, Luís Montenegro empurrou Miguel Pinto Luz para Faro. Depois de indigitado, o primeiro-ministro puxou-o para dentro do Governo e concretizou em pleno o acordo interno a troco de um lugar ministerial. Ora, o ministro das Infraestruturas, já ex-secretário de Estado, não tinha gostado das declarações do primeiro-ministro António Costa, em outubro de 2023, na Assembleia da República, sobre o negócio da TAP feito “às três da manhã”. No contexto dessa discussão política e mediática, Pinto Luz prometeu guardar para si a “faculdade” de defender o seu “bom nome”.

Agora, de regresso a funções governativas e com a reprivatização da TAP em mãos, o homem que foi secretário de Estado por 27 dias, e que vendeu a TAP nessa altura, tem novamente a mesma tutela, o mesmo dossier e a mesma responsabilidade política (hoje acrescida por ser ministro). E a recente divulgação do relatório da Inspeção-Geral de Finanças sobre a TAP trouxe para o espaço público revelações importantes e indícios fortes de crime, relativos à privatização da companhia aérea em 2015 e aos respetivos erros de gestão.

O PS pagou um preço político elevado pela TAP durante a sua última governação. Diga-se, em abono da verdade, que António Costa se demitiu por um parágrafo a mais e se desgastou, entretanto, por um parágrafo a menos (o que não aconteceria se durante os seus governos soubéssemos das conclusões deste relatório). Mas importa também sublinhar que o PS agiu prontamente e de forma transparente face à situação herdada no processo da TAP, defendeu sempre o interesse público, assumiu as suas responsabilidades, demonstrou permanentemente a sua disponibilidade para discutir na Assembleia da República a situação da companhia aérea e rejeitou liminarmente qualquer tentativa de promover debates fúteis sobre um tema reconhecidamente complexo.

O que agora sabemos sobre o processo de privatização de 2015 e sobre os seus protagonistas em nada contribui para a credibilização da classe política, dos gestores ou das instituições. É preciso uma governação capaz de recuperar a imagem de confiança do país e das suas principais bandeiras.

Por agora, o mínimo que se exige politicamente ao primeiro-ministro é bom senso para convidar o Ministro das Infraestruturas e da Habitação a sair, já que o relatório do IGF o reduziu à condição de “não-ministro”. Seja por tostões ou por milhões, comprar sem dinheiro é tudo menos uma compra.

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