www.sabado.ptTiago Silva - 5 set. 17:44

FC do Porto em Alvalade e as Comissões

FC do Porto em Alvalade e as Comissões

Opinião de Tiago Silva

1. O FC do Porto perdeu e bem em Alvalade perante aquele que me parece ser o melhor e mais consistente Sporting deste século.

Depois de 15 minutos de bom nível onde o FC do Porto foi capaz de pressionar alto e condicionar imenso a saída de bola do rival, o Sporting tomou conta do jogo e foi criando boas oportunidades para se adiantar no resultado.

À semelhança do que já havia sucedido na Supertaça, o FC do Porto nunca foi capaz de tirar Pote do jogo, concedendo-lhe sempre imenso espaço para receber, pensar e enquadrar para a nossa baliza, tendo passado, quase sempre, pelos seus pés, o jogo ofensivo do Sporting.

Ao intervalo o resultado até era lisonjeiro para o FC do Porto que foi resistindo, como pôde, às sucessivas investidas de um triangulo ofensivo do Sporting que junta criatividade, potência e explosão e que é, presentemente, um dos mais perigosos e completos do futebol europeu.

A segunda parte começou com um cardápio idêntico, o Sporting continuava a criar e a desperdiçar oportunidades e o FC do Porto revelava sempre imensas dificuldades em segurar a bola e construir com critério, nunca tendo o seu meio campo revelado capacidade para fazer respirar a equipa e controlar o jogo com bola.

Paradoxalmente, quando o jogo parecia entrar numa fase de maior equilíbrio e o Sporting aparentava menor fulgor ofensivo, preparando-se Vítor Bruno para fazer as primeiras substituições no jogo por forma a dar mais dinâmica ofensiva ao jogo do FC do Porto, Otávio deitou tudo a perder com aquele duplo erro aos 70 minutos de jogo (a este nível não é admissível que o último elemento de uma linha defensiva, excluindo o guarda redes, entre "à queima" sobre Gyokeres quando se sabe que o avançado Sueco é muito forte fisicamente e procura, incessantemente, a profundidade), permitindo ao Sporting chegar à vantagem.

A partir daí o FC do Porto foi à procura do resultado mas, em boa verdade, nunca teve capacidade para incomodar a linha defensiva do Sporting, acabando por sofrer o 2-0 já nos descontos, num resultado que não pode deixar de considerar-se justo face a tudo o que se passou em campo.

Este resultado pode explicar-se pelo facto de o Sporting ser, presentemente, uma equipa com princípios de jogo já consolidados e com elementos nucleares da equipa já muito rotinados e com muita qualidade, enquanto o FC do Porto é uma equipa ainda em construção que procura assimilar as ideias de um novo treinador, que perdeu muitos elementos nucleares do onze titular e que está ainda a integrar muita gente nova que acabou de chegar ao Dragão e outra tanta que tem agora outro protagonismo.

O FC do Porto tem, e este jogo comprovou-o, muito para crescer e vai certamente crescer com os novos reforços que prometem acrescentar qualidade à equipa e com o contínuo desenvolvimento dos jogadores que formam o ouro da casa.

O FC do Porto, como as contratações de vários jovens jogadores o atesta, está a construir um projecto desportivo que visa ser competitivo no presente e vencedor no futuro.

Saibamos ter paciência, sem abrandar a exigência, pois Roma e Pavia também não se fizeram num dia.

2. O FC do Porto nas seis contratações que fez neste mercado só pagou comissões a intermediários numa delas (na aquisição de Samu Omorodion, num valor total de 1 milhão de euros, que correspondeu a uma comissão inferior a 7% do valor total do negócio), poupando com isso milhares de euros.

Afinal, e contrariamente ao que era prática corrente no clube – relembro que só nas últimas quatro épocas cujos exercícios são conhecidos o FC do Porto gastou cerca de 27.500.000,00 Euros (!!!) em comissões a empresários na aquisição e renovações de passes de jogadores – era possível acabar com o despautério das comissões que todos os anos enchiam os bolsos a alguns empresários à custa do FC do Porto.

Os adeptos do FC do Porto há muito que reclamavam mais rigor, transparência e melhor gestão dos dinheiros do clube e esta amostra faz-nos crer que o clube está, finalmente, no bom caminho e muito bem entregue.

3. Como era mais do que previsível, Roger Schmidt acabou por ser despedido do Benfica, não resistindo a mais um resultado negativo e a uma nova má exibição.

O que surpreende no meio deste processo não é tanto o despedimento do ex técnico encarnado nesta fase inicial do campeonato mas o facto de o Benfica só agora ter-se desvinculado dele.  

É que Roger Schmidt acabou a temporada anterior completamente desacreditado junto da massa adepta do Benfica e com uma relação muito deteriorada com os adeptos encarnados.

Para além disso, o Benfica revelou sempre no ano passado lacunas gritantes em termos colectivos e de ideias de jogo pelo que só mesmo uma fezada de Rui Costa é que o poderia levar a pensar que tudo mudaria radicalmente de um ano para o outro.

Não mudou, como era evidente, e o Benfica parte para uma nova época com um plantel formado segundo as ideias de um treinador que estava mais do que fora do prazo de validade e que já não mora para os lados da Luz.

Segue-se Bruno Lage, um nome que também não parece empolgar a massa associativa do Benfica fruto dos seus recentes trabalhos (foi despedido do Wolverhampton e Botafogo fruto de resultados sofríveis) e do último ano traumático ao serviço do clube da luz, onde caiu de forma ainda mais estridente do que Roger Schmidt (quem não se recorda do apedrejamento ao autocarro do Benfica e das casas de Pizzi, Rafa e Bruno Lage vandalizadas?).

Contrariamente ao que sucedeu quando ascendeu a técnico principal do Benfica, em que era tido pela estrutura encarnada como uma solução interina de recurso e onde gozava, por isso, de uma dose maciça de tolerância por parte dos benfiquistas, Bruno Lage terá agora a obrigação de vencer no imediato pelo que será objecto de uma pressão acrescida, não beneficiando de qualquer margem de erro devido ao insucesso do passado pelo que só lhe resta apresentar bons resultados no curto prazo sob pena de regressarem em força os fantasmas da sua última passagem pela Luz.

A estratégia da estrutura encarnada até pode resultar em cheio e levar o Benfica à conquista do título mas em boa verdade o que parece visto de fora é não haver estratégia nenhuma.

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