MARGARIDA LOPES - 5 set. 13:29
Visão | Haverá melhoras em 2030. Até lá, sobrevivamos
Visão | Haverá melhoras em 2030. Até lá, sobrevivamos
Depois de uma crise, virá um período de recuperação em que as instituições recuperam a sua força e o individualismo é posto de lado. Sempre foi assim, e este ciclo não será diferente. Espero eu
De acordo com a Teoria geracional de Strauss-Howe, desenvolvida pelos historiadores norte-americanos William Strauss e Neil Howe, a História divide-se em vários saeculum – períodos de cerca de 85 anos, o equivalente a uma vida longa. Cada saeculum é, por sua vez, constituído por quatro vagas, que duram, em média, 21 anos cada, e que se repetem sucessivamente. A saber: uma era de Fortaleza (High), uma era de Despertar (Awakening), uma era de Descoberta (Unraveling) e uma era de Crise (Crisis).
É, precisamente, nesta última que nos encontramos atualmente, segundo os mesmos autores – que, no seu livro The Fourth Turning, escrito em 1994, previram a sua chegada precisamente para a época em que o mundo viu estalar a grande crise do sub-prime, em 2008.
A Teoria de Strauss-Howe descreve as épocas de crise como eras de destruição, que envolvem revoluções ou guerras. É durante este tempo que se percecionam ameaças à sobrevivência das nações, que promovem o crescimento de movimentos extremistas e o descrédito das instituições democráticas – esta enumeração recorda-lhe algo?
Dizem, também, os autores, que depois destes períodos – a última vaga de crise que o mundo viveu antes desta culminou com a II Guerra Mundial – surge sempre uma era de Fortaleza (uma tradução muito livre do termo inglês High). É durante essas décadas que as instituições democráticas voltam ao seu esplendor, as pessoas percebem que fazem parte de um bem maior e deixam de lado as ideias individuais, olhando mais para o bem comum do que para o seu próprio umbigo. A sociedade torna-se mais confiante no que quer e no que pretende conquistar coletivamente, ainda que algumas franjas se possam sentir um bocadinho incomodados pelo statu quo.
Estes são períodos muito relevantes para a História, onde geralmente se consegue uma melhoria genérica da qualidade de vida, estabilidade política, financeira e social e comunidades mais fortes e coesas. Se tudo correr bem, é nesse período que entraremos em 2030, o que a mim, pelo menos, me sossega um pouco.
Tomei conhecimento desta teoria no final do ano passado, em conversa com um gestor português que vive fora do País. Foi ele quem me falou deste livro, The Fourth Turning, que comecei a ler logo no dia 1 de janeiro de 2024, em vésperas das nossas eleições legislativas. Porque, confesso-lhe, precisava de algo que me explicasse o que se passava no mundo.
É absolutamente impressionante como a História se repete desde séculos antigos, e como nós parecemos aprender pouco com ela. É curioso como as gerações vão cursando trilhos tão idênticos, mesmo que separadas por tantos anos, simplesmente porque quem as educa passou por situações semelhantes. Mas para além da indignação pela dificuldade de aprendizagem, há um grande alívio nisto de a História se repetir. Porque, se por um lado, temos de assistir a novas atrocidades – a Guerra na Ucrânia, a Guerra em Israel, o perigo do regresso de Trump e a vergonha da vitória da extrema-direita na Alemanha… – por outro temos a certeza de que “também isto passará”.
E isso, por agora, tem de chegar para manter viva a nossa esperança. E para nos ajudar a ignorar o ruído que muitos tentam fazer sobre coisas que importam pouco no grande esquema das nossas vidas. E da nossa História.