Rui Carrilho Gomes - 4 set. 07:00
Os sismos. A sociedade. Há um programa de ação?
Os sismos. A sociedade. Há um programa de ação?
Sendo o risco sísmico um problema que depende de muitas variáveis, só uma atuação coerente e coordenada pode, de facto, mitigar de forma eficaz o risco sísmico. A resiliência é a capacidade de recuperar após o evento sísmico. Se planearmos a cidade, se tomarmos medidas de prevenção e mitigação, a recuperação, que em sismos noutras localizações chegou a demorar mais de uma década, será muito mais rápida
Recentemente ouviram-se afirmações do tipo “estamos preparados”, “funcionou tudo o que devia ter funcionado”, "a capacidade de resposta (foi) muito rápida", que dão uma falsa sensação de segurança. Transmitem a ideia de que está tudo bem e de que temos o controlo da situação.
A história mostra que os sismos têm uma forte componente de incerteza: quanto à data e hora de ocorrência, quanto ao local de origem e quanto à sua magnitude. Mas temos a absoluta certeza da sua repetição.
Os dados disponíveis da sismicidade em Portugal permitem definir zonas de maior probabilidade de ocorrência de sismos.
A ciência e a engenharia desenvolveram ferramentas para reduzir significativamente os danos humanos e materiais causados pelos sismos, mesmo os sismos mais intensos e com custos tendencialmente mais reduzidos.
João Carlos Santos Há 195 mil pessoas em Lisboa a viver em casas sem construção antissísmicaHá mais de duas dezenas de anos que a comunidade científica promove contactos regulares com decisores locais e nacionais, sem que tenha sentido que as suas preocupações tenham resultados práticos relevantes.
Nos últimos anos, a visibilidade de sismos em países relativamente próximos como a Turquia e Marrocos, captaram a atenção da comunicação social e da sociedade.
Sendo o risco sísmico um problema que depende de muitas variáveis, só uma atuação coerente e coordenada pode, de facto, mitigar de forma eficaz o risco sísmico.
O programa ReSist, iniciado na Câmara Municipal de Lisboa, é o primeiro programa coerente e abrangente lançado em Portugal visando aumentar a resiliência sísmica de Lisboa.
A resiliência é a capacidade de recuperar após o evento sísmico. Se planearmos a cidade, se tomarmos medidas de prevenção e mitigação, a recuperação, que em sismos noutras localizações chegou a demorar mais de uma década, será muito mais rápida.
Em Mafra, a população tem acesso aos mapas por freguesia com pontos de fuga em caso de sismo Getty Images Só há um concelho do continente com plano especial de fuga para a população em caso de sismoA comunidade científica tem o conhecimento, mas passar à prática tem sido um desafio por alcançar plenamente. O programa ReSist, com a colaboração de universidades, institutos do estado e associações profissionais, definiu e está a implementar 47 medidas. Este programa tem conseguido ultrapassar algumas limitações legais que limitam a aplicação prática das medidas necessárias.
Ano após ano, o programa ReSist tem feito muitas conquistas que merecem ser acarinhadas por todos nós e muito especialmente pelos decisores políticos.
Algumas das ações implementadas incluem:
- normalização de metodologias para avaliação da vulnerabilidade sísmica de edifícios;
- Inspeção dos edifícios municipais para definição de prioridades de intervenção;
- Implementação de ferramentas que facilitem a partilha de informação;
- Formação de técnicos para realizar inspeções, projetos e construção de estruturas sismo-resistente;
- ações de divulgação junto da população, em particular em escolas.
Porém, há uma questão fundamental que ainda não foi ultrapassada e que coloco na forma de questão a todos, em particular aos decisores nacionais:
Em nome da coesão nacional, quando é que o programa municipal ReSist passa a ser um programa de implementação nacional?