www.sabado.ptPedro Proença - 4 set. 19:19

Assaltaram a polícia!

Assaltaram a polícia!

Opinião de Pedro Proença

"Andamos sempre a dizer que somos um dos países mais seguros do mundo, mas se a evolução da criminalidade é desta natureza não vamos ser um dos países mais seguros do mundo durante muito tempo."  

A frase é de Rui Moreira e foi dita em Junho deste ano numa entrevista a propósito da publicação do Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) relativo ao ano de 2023, do qual se retira um acréscimo na criminalidade e na violência em Portugal. 

Depois daquele relatório podemos perguntar: O que mais poderia acontecer ao MAI, numa semana em que a Proteção Civil portuguesa está de luto pelo trágico acidente de helicóptero que vitimou cinco militares da GNR? 

A resposta à pergunta chegou rápida, sob a forma de uma tragicomédia. Por ventura mais comédia do que tragédia por força do caricato da situação. É que, por incrível que pareça, a Secretaria Geral do MAI foi assaltada! 

Não, não é uma anedota. É mesmo verdade. O meliante em causa trepou por um andaime de uma obra adjacente, partiu um vidro e sorrateiramente esgueirou-se com oito computadores do MAI.  

O meliante terá sido detido poucas horas depois. Os computadores sumiram. Terão sido vendidos a terceiros no curto espaço de tempo entre o furto e a detenção do suspeito. 

A Ministra da Administração Interna, uma especialista em segurança interna com experiência como Directora do SIS e como membro do Conselho de Fiscalização dos Serviços de Informações da República, veio a público informar que tudo não passou de uma ação isolada de um toxicodependente cadastrado, que levou uns computadores ainda sem uso.  

A senhora Ministra insurgiu-se ainda contra quem ousou dar relevo ao caso, nomeadamente em relação à facilidade com que o  toxicodependente furtou o MAI, esclarecendo que afinal as câmaras de vigilância do edifício até estavam ligadas. Ao que parece, e segundo a própria Ministra, falhou apenas um pormenor: As câmaras de vigilância  estavam ligadas mas não gravaram... 

Chegado a este ponto do texto terei necessariamente de relembrar o leitor que não está a ler o enredo de uma peça cómica, mas sim a ler a reprodução de declarações da máxima responsável pela segurança interna do país, exactamente a mesma pessoa que dirigiu o SIS e que ainda há dias anunciou, numa visita a Matosinhos, a instalação de sistemas de videovigilância na respectiva marginal, como medida de reforço da segurança naquela área. 

Senhora Presidente da Câmara Municipal de Matosinhos, aqui fica uma recomendação: Verifique, por favor, se o equipamento de videovigilância instalado na sua marginal não é da mesma qualidade do que está instalado no MAI em Lisboa... É que o seguro morreu de velho! 

Para apimentar a coisa chegou a notícia que uma agente da PSP foi alvo de furto das armas de serviço que havia deixado na viatura pessoal, estacionada junto às Festas de Corroios, no Seixal. Para além da arma  com carregador, desapareceu um bastão extensível, bem como um casaco da PSP, algemas e gás pimenta. 

Pode ser que alguma câmara de videovigilância das redondezas ajude a localizar o meliante que agora anda por aí com arma e farda da PSP. Desde que tenha gravado as imagens, claro está... 

Chegados a este ponto sou obrigado a apelar à lei, mais concretamente ao Decreto-Lei n.º 126-B/2011, de 29 de dezembro, que aprovou a?Lei Orgânica?do MAI. Diz o artigo 2º desse diploma legal que na prossecução da sua missão, são atribuições do MAI, entre outras: Assegurar a protecção da liberdade e da segurança das pessoas e seus bens e prevenir e reprimir a criminalidade. 

Pois é, senhora Ministra: Prevenir a Criminalidade. Então não era fácil de perceber que uns andaimes colados ao edifício do MAI constituíam uma falha grave de segurança e um convite aos amigos do alheio, impondo um reforço nas medidas preventivas de segurança nas instalações? 

Na minha modesta opinião, era. Mas como nunca fui Diretor do SIS se calhar estou enganado. 

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