expresso.ptJosé Conde Rodrigues - 21 nov. 10:29

Um governo socialista que destruiu o Estado

Um governo socialista que destruiu o Estado

É urgente retomar a tradição reformista, comum a democratas liberais e sociais liberais, para melhorar o funcionamento do Estado e dignificar os seus serviços, enquanto pilares imprescindíveis de um mercado eficaz e de uma sociedade livre e decente

Para além das circunstâncias atuais, objeto de outro tipo de análise, este é um dos grandes paradoxos da nossa vida política. Um governo socialista, que se anunciou sempre como defensor do grande papel do Estado na sociedade e na economia, foi quem, afinal, contribuiu para a destruição desse mesmo Estado, em todos os domínios da sua atividade.

Mais Estado, mas pior Estado. Mais impostos, mais despesa pública, mais funcionários, mas menos investimento público e piores serviços para todos.

Quem ainda se recorda de tirar um cartão de cidadão, um passaporte ou uma carta de condução na hora?

Quem ainda se recorda de ser atendido sem prévia marcação numa repartição de Finanças ou da Segurança Social?

Quem ainda se recorda de aceder a uma Conservatória ou à secretaria de um Tribunal para aí, presencialmente, tratar dos seus assuntos no próprio dia?

Quem ainda se recorda de tentar resolver assuntos relacionados com imigração ou nacionalidade sem ter de passar um calvário de vários meses até conseguir um resultado palpável?

Quem se recorda que o Governo teve a brilhante ideia de privilegiar os funcionários, voltando a dar-lhes um regime especial de 35 horas de trabalho por semana, quando no sector privado, onde se produz a riqueza que alimenta o funcionamento do Estado, todos continuaram a trabalhar 40 horas?

Sendo que, com essa medida populista, a Administração Pública voltou a necessitar de mais recursos humanos e a pagar mais horas extraordinárias e prestações de serviços escandalosas, como se tem visto no escândalo do funcionamento lastimoso do sistema de saúde, apenas para citar o exemplo mais chocante.

Ou ainda, apenas para dar mais alguns exemplos, as demoras inqualificáveis e inexplicáveis nos hospitais e centros de saúde, o caos nas escolas do ensino básico e secundário ou nos serviços de luta contra a toxicodependência, o adiamento de milhares de diligências no sector da justiça devido à falta de recursos humanos qualificados e equipamentos mais modernos. Por fim, mas não menos importante, a fragilidade das nossas Forças Armadas, quer face ao novo contexto geopolítico mundial, quer perante os compromissos do Estado português no quadro da Aliança Atlântica.

E os exemplos podiam multiplicar-se, evidenciando a degradação do atendimento, a demora ou o adiamento das decisões, o bloqueamento da atividade dos cidadãos, das famílias e das empresas, a par de uma constante aposta igualitarista na dependência de subsídios, enquanto modo de vida de muitos portugueses. Com a circunstância agravante de os mais desfavorecidos serem os que mais sofrem e, corrermos o risco, tendo em conta os padrões europeus de, dentro de pouco tempo, podermos vir a ser todos desfavorecidos.

Mas não haverá um legado destes últimos oito anos?

Sim, talvez o grande legado seja mesmo, em jeito de comédia, a tão badalada e já polémica Web Summit, essa grande feira de pequenas vaidades onde a dupla Câmara Municipal de Lisboa e Governo enterraram 17 milhões dos contribuintes em cada edição, sem que alguma vez fossem devidamente avaliados seus benefícios. A não ser, claro, para o respetivo promotor e respetivos parceiros que, aliás, já tinha sido corrido do seu próprio país, a Irlanda.

É, pois, urgente retomar a tradição reformista, comum a democratas liberais e sociais liberais, para melhorar o funcionamento do Estado e dignificar os seus serviços, enquanto pilares imprescindíveis de um mercado eficaz e de uma sociedade livre e decente. Ultrapassando, ao mesmo tempo, o nosso bloqueio cívico assente numa direita "rentista", que gosta do Estado e numa esquerda retrógrada, que nele vive pendurada.

Foi Winston Churchill quem afirmou: “o socialismo é o cemitério da inveja; e a única virtude do socialismo é a partilha equitativa da miséria”. Talvez essa frase ajude a explicar o grande paradoxo da governação em Portugal nos últimos oito anos.

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