www.dn.ptdn.pt - 21 nov. 15:10

Diz-me o que fazes, dir-te-ei quem és?

Diz-me o que fazes, dir-te-ei quem és?

Se tivesse de resumir o cinema de Christian Petzold numa palavra, essa palavra seria "identidade". É através dela que as suas personagens se movem tanto nas ruínas da história da Alemanha, como em contextos de migração ou até dentro da mitologia. Em Céu em Chamas, por sua vez, o cineasta de Phoenix apurou uma ideia que já vinha definindo a sua forma de ver a identidade: o nosso Cartão de Cidadão é aquilo que fazemos, a nossa profissão. E, mais do que nunca, isso é verdade num filme onde a personagem principal, um jovem escritor chamado Leon, de-férias-a-trabalhar numa casa de verão que partilha com um amigo, fica de olho na jovem mulher que está também lá hospedada. "O que é que ela faz?", pergunta ao amigo quando a vê sair de manhã na sua bicicleta. Estamos algures na costa báltica e ela vende gelados à beira da praia. Apesar da agradável aura misteriosa, não será uma pessoa com o intelecto de Leon, supõe o próprio.

Se tivesse de resumir o cinema de Christian Petzold numa palavra, essa palavra seria "identidade". É através dela que as suas personagens se movem tanto nas ruínas da história da Alemanha, como em contextos de migração ou até dentro da mitologia. Em Céu em Chamas, por sua vez, o cineasta de Phoenix apurou uma ideia que já vinha definindo a sua forma de ver a identidade: o nosso Cartão de Cidadão é aquilo que fazemos, a nossa profissão. E, mais do que nunca, isso é verdade num filme onde a personagem principal, um jovem escritor chamado Leon, de-férias-a-trabalhar numa casa de verão que partilha com um amigo, fica de olho na jovem mulher que está também lá hospedada. "O que é que ela faz?", pergunta ao amigo quando a vê sair de manhã na sua bicicleta. Estamos algures na costa báltica e ela vende gelados à beira da praia. Apesar da agradável aura misteriosa, não será uma pessoa com o intelecto de Leon, supõe o próprio.

O cerne dramático de Céu em Chamas, autêntica preciosidade rohmeriana, aloja-se no princípio dessa pergunta. O escritor que está a terminar o seu (fraco) segundo romance, e que olha com desdém a aparente ligeireza do seu amigo fotógrafo na preparação de um portefólio, ou o nadador-salvador que a certa altura entra na equação das férias, vai cegando na perceção da realidade à medida que se deixa consumir pelo ego ferido, tal como as chamas que consomem a floresta perto da casa. É nessa personagem observadora por excelência, e incapaz de ver - a personagem identificada pelo trabalho - que Petzold imprime uma nota de tristeza lassa, num filme que leva o seu tempo a enunciar as energias dos corpos contrastantes, para urdir um desfecho com gentil ressonância literária.

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