Bruno Batista - 21 nov. 12:47
O romance associado à tomada de decisão
O romance associado à tomada de decisão
Nunca tive medo de falhar, faz parte do processo, já sabemos isso. O que me continua a chatear é perder dinheiro, nunca me dá jeito e teria sempre formas mais divertidas de ficar sem ele.
Escrevo este texto nas notas do telemóvel. São cinco e um quarto da manhã e estou acordado há pouco mais de uma hora. Sei que estes espaços de opinião são usados para dissertações sobre o setor ou reflexões sobre o mercado, que são esperadas demonstrações de inteligência sobre tendências ou futurologia (mesmo que depois fiquem longe da realidade). Mas, o que vou partilhar tem muito pouco de romântico. Não se trata de erro ou falhanço, até porque acabámos o dia com a notícia de que conquistámos mais um cliente, mas é a minha realidade.
Enquanto penso porque durmo tão pouco, acabo a concluir que a vida de um empresário, daqueles que arriscam o seu dinheiro e a sua reputação neste país, onde fazer negócios é cada vez mais uma atividade radical, chego à conclusão de que o motivo da falta de sono continua a ser o mesmo: a responsabilidade e o risco.
Cerca de duas décadas depois de ter aberto a primeira empresa, continuo a dormir pouco e a passar as noites a pensar no que vem aí, principalmente antes de tomar decisões estruturais.
Estamos no final de um ano em que a crise não só tomou conta da narrativa, como se reflete já nos dados do consumo e consequentemente nos números do mercado.
Decidimos internamente que o nosso 2024 começa agora e estamos a fazer alterações significativas na orgânica das empresas, de forma a estarmos mais bem preparados para o ano que aí vem e para os desafios que se impõem.
Em contraciclo e contra todos os manuais de gestão, vamos investir com o mercado em baixa. A visão que temos indica que precisamos de responder com mais talento, com mais profissionais em áreas que são estratégicas e fundamentais para respondermos aos nossos clientes com mais eficácia. Por tudo isto, fica difícil (para um empresário responsável) dormir descansado. Fico a projetar cenários e com dúvidas, raramente tenho qualquer certeza sobre as decisões que tomo.
Este artigo tem como único objetivo destruir todo o romance associado à tomada de decisão. Apesar de todos os brainstormings sobre estratégia e caminho que devemos seguir na gestão, continua a ser na solidão e silêncio de uma madrugada que penso sobre o que fazer, dou voltas na cama a projetar cenários, com muito pouco sonho, e muita realidade.
O meu cão mais carente (o mais jovem dos três) já me sentiu acordado e veio fazer companhia, não me consegue aconselhar, mas tem o dom de me distrair e fazer sentir a simplicidade das coisas.
Nunca tive medo de falhar, faz parte do processo, já sabemos isso. O que me continua a chatear é perder dinheiro, nunca me dá jeito perder dinheiro e teria sempre formas mais divertidas de ficar sem ele.
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