dinheirovivo.pt - 21 nov. 14:36
PE quer ″remover″ carbono para sempre através da agricultura e dos materiais de construção
PE quer ″remover″ carbono para sempre através da agricultura e dos materiais de construção
″Para cumprir metas, os esforços para reduzir emissões devem ser complementados por medidas para retirar carbono da atmosfera″, avisa a posição do Parlamento Europeu redigida pela deputada Lídia Pereira (PSD/PPE).
O relatório da eurodeputada portuguesa Lídia Pereira (Partido Social Democrata / Partido Popular Europeu), sobre novas formas de "remover" de forma permanente os gases de dióxido de carbono da atmosfera e sua respetiva certificação foi aprovado, esta terça-feira, por esmagadora maioria no Parlamento Europeu (PE).
Usar mais e melhor a agricultura e a construção em madeira para fazer desaparecer o CO2 da atmosfera e certificar tudo isto são algumas ideias agora aprovadas em Estrasburgo.
Com isto, o PE diz que "adotou a sua posição sobre o novo quadro de certificação da União Europeia (UE) para a remoção tecnológica e natural de carbono, necessário para alcançar a neutralidade climática até 2050".
"Com 448 votos a favor, 65 contra e 114 abstenções, os eurodeputados concordaram com a criação de um sistema para melhorar a capacidade da União para quantificar, monitorizar e verificar as remoções de carbono", diz o PE numa nota oficial.
O Parlamento também concordou em ter "um instrumento para aumentar as remoções de carbono, reforçar a confiança das partes interessadas e da indústria e combater o branqueamento ecológico [green washing, o uso abusivo ou fraudulento de marketing ambiental por parte de empresas e outras instituições]".
Ou seja, "para cumprir as metas climáticas da UE, os esforços para reduzir as emissões deverão ser complementados por medidas para retirar o carbono da atmosfera", refere a instituição.
"Ajudar a biodiversidade e a economia circular"
Segundo o PE, "para incentivar e acelerar a implantação de atividades de remoção de carbono eficazes e de alta qualidade na UE, a Comissão propôs em novembro de 2022, estabelecer um esquema de certificação para remoções de carbono em toda a UE".
Mas ficou assente também que "a certificação permite garantir que as atividades de remoção de carbono sejam medidas de forma precisa, armazenem o carbono o maior tempo possível e tragam benefícios (ou pelo menos não sejam contraproducentes) para outros objetivos ambientais, como a biodiversidade, a poluição zero ou a economia circular".
"A certificação harmonizada serviria para criar confiança e orientar o financiamento, tanto público como privado, para as atividades de remoção de carbono".
Na sessão do PE que decorre esta semana em Estrasburgo, a relatora portuguesa, Lídia Pereira, defendeu que "as alterações climáticas já são tão graves que não podemos depender apenas da redução das emissões, mas também precisamos eliminar o carbono", através da sua "remoção" definitiva.
"Este instrumento torna-o possível, uma vez que estamos a avançar com regras para regular um mercado que tem sido atormentado pelo branqueamento ecológico, pela falta de clareza e pela desconfiança", argumentou a deputada do PSD.
Assim, a ideia é emitir certificados de qualidade que espelhem a eficácia que cada agente logra atingir no processo de eliminação de CO2 (dióxido de carbono).
"A certificação ajudará a atrair investimento privado para projetos de remoção de carbono", acrescentou a parlamentar.
"Embora a UE deva sempre dar prioridade a reduções rápidas e previsíveis das emissões de gases com efeito de estufa", há sempre poluição que não pode ser eliminada ou que é muito difícil de capturar, até.
Assim, "as remoções de carbono devem desempenhar um papel crescente para atingir a neutralidade climática da UE até 2050", contrabalançando desta forma "as emissões que não podem ser eliminadas".
Com a aprovação do relatório redigido por Lídia Pereira, o Parlamento diz que "está agora pronto para iniciar negociações com os Estados-Membros da UE".
Evitar o branqueamento ecológico
Diz o PE que "a principal ferramenta para atingir emissões zero consiste em reduzir rapidamente as emissões de gases com efeito de estufa", mas acontece que "a remoção do dióxido de carbono da atmosfera será necessária para complementar essas reduções de emissões".
Assim é porque "em alguns setores, como a agricultura, a produção de cimento e aço ou a aviação e o transporte marítimo, é difícil conseguir uma produção de zero emissões", explica a posição do Parlamento Europeu.
"Neste sentido, a UE está a trabalhar num sistema de certificação para garantir que qualquer remoção de carbono na UE permita um claro benefício para o clima e ainda evitar o branqueamento ecológico."
Exemplos práticos
"As remoções de carbono são atividades que removem e armazenam duravelmente o dióxido de carbono da atmosfera", defende o Parlamento.
E existem três grandes formas de fazer desaparecer o CO2 de forma mais definitiva.
A primeira visa "o armazenamento permanente (o carbono é capturado diretamente no ar e armazenado de forma estável)".
A remoção também pode acontecer através de "agricultura de carbono, ou seja, atividades que melhorem a captura de carbono em solos e florestas (por exemplo, restauração florestal, turfeiras e gestão de zonas húmidas)". As plantas transformam o carbono em oxigénio e, prazo, contribuem decisivamente para a mineralização dos solos.
Uma terceira forma é que o armazenamento de carbono também pode ser feito aprisionando o gás poluente em produtos. "Por exemplo, o carbono capturado por árvores é armazenado em construções à base de madeira", diz o PE.
* Em Estrasburgo. O jornalista viajou a convite do Parlamento Europeu.