expresso.pt - 21 nov. 20:26
Paulo Raimundo não quer que se escorregue na “casca de banana” que são os “fait divers” entre PM e PR
Paulo Raimundo não quer que se escorregue na “casca de banana” que são os “fait divers” entre PM e PR
Em ambiente pré-eleitoral, o secretário-geral do PCP criticou o “desmantelamento” do SNS e apontou o “reforço” do partido como oportunidade para “abrir um caminho novo”. Pelo meio, deixou críticas aos “fait divers” entre o primeiro-ministro e o Presidente da República, que servem de distração para “resolver problemas reais”
Com uma comitiva de quase quatro dezenas de pessoas, Paulo Raimundo foi recebido com abraços e pedidos de fotografias em Alhandra, município de Vila Franca de Xira. Ao lado do Centro de Saúde da freguesia, o secretário-geral do PCP ouviu algumas das queixas dos utentes como a falta de médicos de família. Mote dado, Paulo Raimundo desdobrou-se em críticas ao “desmantelamento” do Serviço Nacional de Saúde (SNS) levado a cabo pelo PS – “com a complacência de PSD, Iniciativa Liberal e Chega” – e à transferência de recursos financeiros para o setor privado. “É preciso salvar o SNS do negócio do privado. Não podemos ficar à espera, se a situação é esta, significa que há razões para aumentar a reivindicação e a exigência”, defendeu. Já com o foco nas eleições de março, o líder comunista deixou um apelo ao “reforço” do PCP como forma de colocar a política “ao serviço de todos” e não a um “punhado que se vai enchendo” à custa dos trabalhadores. No curto discurso, houve ainda tempo para críticas às “tricas” entre as mais altas figuras do Estado que “não dizem nada à vida das pessoas”.
Depois de ter passado a manhã no protesto dos enfermeiros, em Lisboa, esta terça-feira, o líder comunista manteve-se no tema da saúde desta vez numa Tribuna Pública com o mote “defender o SNS”. Em Alhandra, Paulo Raimundo voltou a defender que o problema do setor público da saúde não está na “falta de dinheiro”, mas nas “opções políticas” tomadas até aqui pelos governos socialistas e sociais-democratas. “Não venham com a ladainha de que não há dinheiro, há dinheiro e muito. O problema não é de dinheiro, mas de opções e da transferência [desse mesmo valor] para o setor privado”, atirou.
Apesar do foco estar na saúde, não houve quaisquer palavras sobre o decreto-lei que cria novas Unidades Locais de Saúde (ULF) – que o PSD e o Chega pediram a suspensão da entrada em vigor ou, pelo menos, que a nomeação dos dirigentes seja feita em regime de substituição e o Bloco de Esquerda exigiu mesmo a revogação do documento socialista, em declarações esta terça-feira, dia 21. O PCP preferiu não tomar nenhum dos lados e manter-se focado na resolução dos “problemas da vida real das pessoas”. “Estamos perante tantos problemas, falta de médicos, de consultas, de acesso a tratamentos, isso é que é fundamental dar resposta agora. E não estarmos aqui com jogos para trás e para a frente que não têm nenhuma consequência para a vida das pessoas”, respondeu.
Com o calendário para as eleições legislativas a apertar, o PCP aproveitou a audiência favorável para insistir no “reforço” no partido nos resultados eleitorais de março. “As eleições são uma oportunidade para abrir um caminho novo com o reforço do PCP e da CDU. Cada um que está aqui sabe que quando o PCP e a CDU avançam, a vida de cada um anda para a frente”, vincou Paulo Raimundo já a repetir aquele que será o mote da campanha eleitoral dos comunistas.
Paulo Raimundo com militantes e utentes do Centro de Saúde de Alhandra, em Vila Franca de Xira ANTÓNIO COTRIMAlém do apelo à ida às urnas, o secretário-geral do PCP deixou também uma crítica aos “fait divers” e às “tricas” entre o primeiro-ministro demissionário e o Presidente da República - que cresceram após a demissão de António Costa, com as críticas do primeiro-ministro à dissolução “desnecessária” decidida por Marcelo Rebelo de Sousa. “Não escorreguem nas cascas de banana que surgem todos os dias”, lançou Paulo Raimundo. Num primeiro momento, o comunista não quis adereçar diretamente quais eram as “tricas” que não “interessam às pessoas”. Depois, em resposta aos jornalistas, tirou as teimas e falou num “conflito institucional” que não “desvaloriza”, mas que “vale o que vale”. “Não menosprezo a sua importância, mas está muito longe das preocupações das pessoas. Por cada minuto que perdemos a comentar cada um desses acontecimentos, é menos um minuto que passamos a resolver os problemas das pessoas”.
Ainda sobre as “tricas” que têm “enchido os jornais”, o líder comunista acusou os partidos de as utilizarem como forma de não discutir os “problemas reais”. “Tem sido um alívio [para os partidos]. Passam o tempo a comentar aquilo que tem interesse pontual em vez de comentar problemas reais como a falta de médicos no SNS”. Para o secretário-geral do PCP, é preciso utilizar os quatro meses até às eleições - que ainda é “muito tempo” - e no “Governo em funções” para dar passos concretos, a começar por um acordo com os médicos. Este apelo ao avanço nas políticas surge numa fase em que aumenta a incerteza sobre a identidade do próximo executivo.