SARA NUNES - 20 nov. 11:47
Visão | Obesidade e Saúde Mental: Quando as emoções se entrelaçam com as moléculas
Visão | Obesidade e Saúde Mental: Quando as emoções se entrelaçam com as moléculas
A obesidade e a saúde mental estão intimamente entrelaçadas. Só com a abordagem de ambas, com compreensão e cuidado, podemos alcançar um resultado positivo para esta equação tão complexa
Num mundo em busca constante pela “imagem ideal”, a obesidade surge como um capítulo difícil e multifacetado na vida de milhões de pessoas. Não é apenas um número na balança; é uma história complexa que se desenvolve nas profundezas da mente, onde as emoções se entrelaçam com as moléculas, criando uma narrativa pessoal muito para além da aparência e com profundo impacto na saúde mental.
A sociedade, implacável nas suas expectativas de beleza em que idealiza corpos magros e musculados, impõe um fardo emocional e uma insatisfação com o próprio corpo. A pressão para nos enquadrarmos nessas normas inatingíveis pode levar a uma distorção da autoimagem, gerando ansiedade e depressão.
O estigma social da obesidade baseia-se num erro muito comum, de que a perda de peso está totalmente sob autocontrolo; que é preciso apenas ter força de vontade para comer menos e exercitar mais. Essa narrativa ignora os desafios individuais da doença e a influência de fatores metabólicos, genéticos, ambientais e psicológicos. Apesar de causar grande stress e sofrimento psicológico, esta realidade está em todo o lado: emprego, serviços públicos, media, relações interpessoais e até mesmo nos cuidados de saúde. Associa-se ainda a sintomas de vergonha e insatisfação com o corpo, depressão, ansiedade, baixa autoestima, isolamento social e pior desempenho, académico ou profissional.
Existe uma relação bidirecional entre depressão e obesidade em que uma agrava a outra. Além da discriminação social, as pessoas com obesidade têm mais limitações físicas e doenças crónicas que prejudicam a qualidade de vida, elevando o risco de depressão. Por outro lado, o aumento do apetite, a diminuição da atividade física e a ausência de energia são alguns dos sintomas da depressão, e favorecem o ganho de peso.
Os nossos comportamentos são o resultado da forma como pensamos e sentimos. Somos cultural e geneticamente programados para procurar conforto e prazer nos alimentos. Após eventos traumáticos, como a morte de um familiar, uma doença grave, um divórcio ou desemprego, é frequente o refúgio na comida e a menor vontade de praticar exercício. Por outro lado, a ansiedade e o stress, aumentam a produção de uma hormona (o cortisol), o que contribui para o aumento de peso a longo prazo.
Portanto, a obesidade não é apenas uma doença física. É extraordinariamente complexa, com alterações ao nível da química cerebral, padrões hormonais, sensações de prazer, ansiedade e em diversas hormonas que controlam o apetite, o humor e a regulação de energia.
Mas há esperança nesta história. Os profissionais de saúde estão, finalmente, a entender a necessidade de um tratamento integrado, fundamental para colaborar nesta narrativa sobre Humanidade, empatia e resiliência. Tratar a obesidade e a saúde mental é muito mais do que contar calorias. Exige um acompanhamento médico, nutricional e psicológico, abordando aspetos físicos e psicológicos, tratando a pessoa na sua totalidade.
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