www.dinheirovivo.ptdinheirovivo.pt - 20 nov. 13:32

Pode Ventura ser moderado?

Pode Ventura ser moderado?

Pode, de um momento para o outro, o Partido Chega moderar-se? Querer aparecer como o sensato na sala? Consegue ser Ventura moderado e fugir ao soundbite acutilante? Estabilizar numa linha política? Tem o Chega quadros políticos e técnicos suficientes que produzam conhecimento e orientações políticas em vez de lançar medidas avulsas, sem qualquer ponderação das suas consequências, apenas para agradar a nichos da sociedade sem voz?

Ou seja, poderá o Chega criar massa crítica, um corpo de políticos estável, ter domínio dos dossiers para conseguir fugir ao populismo mais vil?

Sabemos que, na sua grande maioria, os votos do Chega são votos de protesto de quem há muito estava afastado da participação democrática, de quem há muito não votava. A esses votos, aos poucos, juntaram-se os votos dos desiludidos dos partidos mainstream zangados com uma determinada política ou um novo líder...

Mas terá o Chega capacidade de consolidar esses votos? Já serão seus? Terão estas pessoas confiança neste partido e nos seus rostos políticos em próximas eleições? Ou seja, tirando o voto de protesto, haverá já um voto fidelizado no Chega? E qual será o seu tamanho?

É muito difícil responder a estas perguntas, será necessária a passagem do tempo e a existência de mais chamadas às urnas nas diferentes eleições para perceber o fenómeno.

Todavia, sabemos como as coisas se passaram em outros países. Gosto particularmente de comparar com a realidade francesa, que parece em certos momentos um decalque de muitos dos passos até agora dados pelo Chega: Um líder forte. Poucos quadros. Pouca implantação local inicial...

Sabemos que, a Front National, só cresceu em França quando conseguiu ter mais rostos e dirigentes publicamente reconhecidos para além de Jean-Marie Le Pen. Sabemos que, o líder forte com um enorme atributo de tribuna e um profundo sentido de oportunidade consolidou e fez o partido crescer. Mas quando o partido se quis institucionalizar e passar a contar para as contas da governação; quando o partido quis crescer para além do voto de protesto (muito dele até vindo do antigo partido comunista francês!); teve que ir procurar uma nova líder, Marine Le Pen; fazer crescer novas figuras com peso no partido e no país político e nos municípios. E até acabou por mudar de nome, em 2018, para Rassemblement National

O Chega ainda não está nessa fase. André Ventura é one man show e o partido é ainda apenas o seu rosto. O Chega ainda está pouco representado nos diferentes níveis políticos existentes no país. E para se poder moderar deverá, primeiro, conseguir consolidar todo o voto de protesto para depois conseguir ir buscar mais votos à sua esquerda, ou seja, ao centro político. Parece sarcasmo, mas o Chega só poderá crescer para a esquerda, andar numa das extremidades não lhe permite crescer tão facilmente.

Mas atenção, fazer todas essas alterações antes do tempo poderá também ser a sua morte. Já o vimos acontecer com partidos como o PRD, ou mais recentemente, com o PAN. Após resultados eleitorais inesperados, houve o desaparecimento abrupto do fenómeno a números quase residuais.

A Ventura não resta outra possibilidade, que não, a de continuar a ser Ventura; e se o partido precisar de crescer, nessa altura, por ironia, esse já não será mais o seu tempo.

(O autor escreve segundo a antiga ortografia)

("Até às eleições" é o mote para uma sequência de artigos de opinião, de segunda a sexta-feira, de Duarte Mexia (duarte.mexia@gmail.com), que serão publicados, precisamente, até à realização das próximas eleições Legislativas, marcadas para 10 de março.)

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