publico.pt - 19 nov. 05:30
Cartas ao director
Cartas ao director
Mundo da Canção
Tinha 16 anos quando naquele distante mês de Dezembro de 1969 saiu o primeiro número da revista de âmbito musical Mundo da Canção. Apaixonado pela música pop e rock de expressão anglo-americana e de expressão italiana e francesa – e não só, visto apreciar os intérpretes portugueses de baladas de intervenção que, subliminarmente, já ameaçavam a estrutura política do regime –, foi com satisfação que, ao tempo, adquiri o primeiro número de Mundo da Canção e quase todos os números subsequentes que saíram ao longo dos poucos anos de existência da publicação. Ainda bem que Nuno Pacheco no seu artigo “Quando um mundo de canções nos bateu à porta pelo Natal” (PÚBLICO, 23 de Dezembro de 2019) nos trouxe a agradável novidade da saída, para breve, de uma revista comemorativa dos 50 anos de Mundo da Canção. Na verdade, esse mundo contribuiu para forjar a minha sensibilidade e os meus gostos musicais e, desse ponto de vista, foi um mundo que também foi meu. Mal-grado, a revista comemorativa ainda não saiu ou não chegou a sair. O que aconteceu para até hoje a revista não ter saído?
António Cândido Miguéis, Vila Real
Sensação de impunidade
Perante os indícios que originaram a investigação do Ministério Público, é pouco relevante sabermos da existência de almoços ou jantares entre os intervenientes, mas seria mais útil sabermos ao que os mesmos deram origem, o que claramente não sabemos, e passa para os cidadãos a ideia de que a justiça não se ocupa daquilo que realmente importa à sociedade.
Não é aceitável que estejamos a pagar o preço de uma crise institucional espoletada por elementos de um Governo que soma polémicas umas atrás de outras, e que culmina com a sua demissão perante factos que nos dão a ideia de que este é um país onde tudo é permitido, menos encontrar respostas aos problemas. A sensação de impunidade decorre do eventual condicionamento da justiça, perante a vitimização dos responsáveis pela crise que vivemos, em discursos que não convencem muitos dos cidadãos.
Américo Lourenço, Sines
O cidadão comum e a PGR
Num simples comunicado de imprensa da PGR ficámos a saber que o primeiro-ministro de um Governo estável e com maioria parlamentar estava a ser investigado por possíveis delitos. Veio a saber-se depois que essa investigação durava há algumas semanas. Com um comunicado destes é natural que o primeiro-ministro apresentasse a sua demissão, criando-se uma crise política.
A PGR não pode tratar um caso destes como se fosse o de um cidadão qualquer, porque as consequências deste são incomparavelmente maiores para todos os cidadãos. Pelos vistos, não existem procedimentos específicos para casos desta natureza, mas deveria haver. Se daqui a muito tempo, como é usual na nossa justiça (PGR incluída), se concluir pela inocência do primeiro-ministro, ficamos a saber que tivemos uma crise política inútil.
Acham estranho que o Presidente da Assembleia da República peça à PGR que chegue a uma conclusão qualquer até à data das eleições? Ele apenas pede à PGR que permita aos eleitores votarem em consciência e não na dúvida sobre o comportamento do primeiro-ministro cessante, o que arrasta consigo o partido a que pertence.
Carlos Anjos, Lisboa
O Governo e o Estado
Esta crise governamental que assola Portugal tem que ver com a forma como este Governo dirige o Estado. Tomámos conhecimento de que nesta acção judiciária, o Governo entregou às grandes sociedades de advogados a elaboração de leis com vista a dar resposta a necessidades postas pelo investimento estrangeiro. Também soubemos, pelo caso do lítio, que houve a mudança do director da Direção-Geral do Ambiente, por forma a não obstaculizar os contratos em torno da exploração do lítio. Há igualmente suspeitas de que, em Sines, as zonas protegidas não estão a ser respeitadas pelas obras de instalação das novas empresas. O Estado deve ser independente do poder político para realizar as tarefas com autonomia e independência relativamente aos governos. Estes acontecimentos levam-nos a pensar na mistura entre grandes interesses privados e interesses do Estado ao serviço dos cidadãos, em conformidade com as leis da República. Estes exemplos mostram o Estado ao serviço do Governo e os cidadãos têm todo o direito a pensar que o Estado está a ser uma correia de transmissão deste Governo. Perante isto pergunto: onde estão os sistemas de escolha dos altos quadros da Administração Pública e de outros funcionários?
Mário Pires Miguel, Reboleira