rr.sapo.pt - 20 set. 00:37
"Madeira é uma região estatisticamente rica marcada pela pobreza muito cruel e primária"
"Madeira é uma região estatisticamente rica marcada pela pobreza muito cruel e primária"
Cabeça de lista da CDU às eleições regionais de domingo na Madeira denuncia as desigualdades sociais gritantes que existem na região e o aumento da pobreza. Edgar Silva acredita que a coligação vai ganhar votos e descida de impostos só se for para os trabalhadores, reformados e pensionistas, mas nunca para “aqueles que tem conseguido lucros fabulosos”.
O cabeça de lista da CDU às eleições na Madeira, Edgar Silva, acredita, em entrevista à Renascença, que no domingo haverá um reforço de votação na coligação.
Edgar Silva fala nas desigualdades sociais gritantes que existem na região e no aumento da pobreza.
Questionado sobre a redução de impostos, o candidato da CDU diz que só se for para os trabalhadores, reformados e pensionistas, mas nunca para ��aqueles que tem conseguido lucros fabulosos”.
Edgar Silva é cabeça de lista da CDU às eleições regionais na Madeira. A coligação elegeu a primeira vez um deputado em 1980. Dezasseis anos depois, conseguiu um grupo parlamentar, mas nas últimas eleições, elegeu apenas um deputado.
O objetivo da CDU para as eleições de domingo é voltar a ter um grupo parlamentar na Assembleia Legislativa?
Sim, na Madeira faz falta uma voz mais forte que seja capaz de ser a força reivindicativa das populações. As populações das zonas altas, das pessoas que trabalham e que são a grande maioria dos trabalhadores precários, daqueles que são os mais explorados na sociedade, faz falta no Parlamento quem possa dar maior expressão, dar voz e força reivindicativa ao povo ou povo das zonas altas.
Uma sondagem divulgada esta segunda-feira coloca em risco a eleição de um deputado, o que não acontece aqui na Madeira há 35 anos.
Nós vamos ter mais vida na Madeira no dia das eleições. Outros elegem nas sondagens, nós vamos eleger no dia das eleições. No terreno temos um conhecimento empírico. É verdade que não tem reflexo nas sondagens, atendendo a que nós temos uma área de intervenção de representação em determinadas localidades, mas específicas. Então, no terreno nós temos todos os indicadores que nos permitem dizer com alguma segurança que vamos ter mais CDU no Parlamento da Madeira.
Ao longo desta campanha, a CDU tem focado o discurso na injustiça social que existe na região, que é a maior do país. Diz também que é necessário combater as desigualdades sociais. Estamos a falar de salários baixos, de falta de acesso à saúde, à habitação. O que é que é prioritário fazer nesta altura?
É tudo isso, desde logo, o agravamento das grandes desigualdades e da concentração da riqueza criada na Madeira, na mão de uma minoria. Há cerca de dez anos, 5% dos mais ricos detinham 56% da riqueza criada. Passados estes anos, hoje, 5% da população mais rica tem já 58% da riqueza criada.
A riqueza existe, há potencialidades, a região é geradora de riqueza. Só que à custa dos baixos salários, da muita exploração, da muita precariedade e também da errada definição de prioridades no investimento público. As desigualdades que eram escandalosamente gritantes no passado e têm vindo a aumentar cada vez mais na Madeira. E se o PIB inegavelmente tem vindo a crescer a riqueza tem vindo a aumentar.
Mas não chega a todos …
Sim, a distribuição da riqueza tem sido perversa, tem sido profunda e escandalosamente desigual e tem vindo a aumentar a desigualdade. Esta é a região mais desigual do país. E é esta questão da desigualdade e injustiça que nós consideramos que tem de ser o problema da agenda política regional.
O Governo do PSD, que está no poder há 47 anos, não tem tido essa preocupação social? Até com o agravamento do custo de vida e com o custo da habitação.
O problema de habitação é o problema, mas há questões mais básicas, há muitas localidades que nem têm acesso à rede de esgotos, não têm o saneamento básico, E, portanto, há esta grande desigualdade, há uma ilha que acolhe bem os turistas e tudo se sacrifica ao turismo. Mas a riqueza criada esquece quem é capaz, e são a grande maioria dos residentes nesta ilha, que fazem com que o turismo cresça e contribua muito significativamente para o crescimento do PIB, para os indicadores da riqueza.
Mas a mão de obra escrava que temos na Madeira, os muitos dos hotéis que são emigrantes, mas que são também pessoas de cá da Madeira, que vivem numa situação de extrema precariedade, que é na hotelaria, mas também se regista muito nos setores do comércio e serviços.
Este problema não consta das grandes preocupações deste Governo. Basta dizer que o número de precários que deveria ter diminuído, de acordo com o programa do Governo, aumentou exponencialmente. O Governo tem prioridade, desde que tudo esteja submetido à vaca sagrada do turismo e ao crescimento pelo crescimento, ao lucro, pelo lucro desenfreadamente.
Esse é o tema central da campanha da CDU?
E é essa a grande questão que nós queremos trazer para o debate e para estas eleições é a necessidade de se trazer estas ultraperiferias sociais, estas áreas de quem vive na margem, estas ultra periferias sociais que existem dentro da ilha, as ilhas dentro da ilha, trazê-las para o debate político, que essas são zonas de completo silêncio e de esquecimento.
E é preciso dar voz a essa multidão que está muitas vezes resignada, que vive num certo desalento social, à volta da ideia de que temos que criar, sacrificando tudo e resignando sempre à ideia de que para haver turismo, temos que criar a ideia de que somos uma ilha muito cosmopolita, muito moderna, se bem que, no concreto, a região que é estatisticamente rica, na realidade é marcada pela pobreza muito cruel, muito primária.
Um dos temas que tem marcado esta campanha é a redução de impostos. O Partido Socialista promete reduzir o IVA e o IRS. Considera que o caminho deve ser esse, para dar mais rendimento às famílias nesta altura?
De modo nenhum. Era o que faltava avançar para uma redução indiscriminada dos impostos sem reduzir os impostos para os trabalhadores por conta de outrem. Ao nível do IRS, para os reformados e pensionistas, com certeza.
Agora, para aqueles que têm conseguido lucros fabulosos, que têm, como está a acontecer com o setor bancário, com as seguradoras, com a área do combustível e da energia, quer na produção, quer na distribuição, no ramo alimentar, na área da distribuição, também essas empresas estão a ter lucros colossais, como nem sequer imaginavam nas melhores projeções vir a ter.
Para esses não ….
Então, esses lucros extraordinários, esses lucros fabulosos, vão ser ainda por cima, isentos de impostos. Mas o Partido Socialista e aqueles que o seguem eu admiro-me. Eles têm de contribuir e muito mais.
Como é que o Partido Socialista pode avançar com ideias tão extravagantes? Nós precisamos de ter receita orçamental para investir nas funções sociais, para que o desenvolvimento atenda aos mais desvalidos da sociedade e reduzir os impostos, sim, para alguns, para quem de facto é mais desfavorecido.
O candidato do Partido Socialista deixou nesta última semana a porta aberta a possíveis entendimentos pós-eleitorais. O PCP estaria disponível para uma geringonça regional para impedir que a direita se mantivesse no poder?
Neste momento, estamos a tratar da eleição de deputados para o Parlamento regional e o grande objetivo da CDU é conseguir mais votos e mais mandatos. E é para isso que vamos trabalhar, depois das eleições, veremos com quantos deputados fica cada um dos partidos e logo veremos. Mas agora há só uma questão que importa, que é garantir a possibilidade, que está ao nosso alcance, ter mais votos na CDU.