expresso.pt - 19 set. 18:48
Empresas familiares "têm muito a ganhar" se investirem na sustentabilidade
Empresas familiares "têm muito a ganhar" se investirem na sustentabilidade
Estudo apresentado esta terça-feira mostra que a transição para uma economia neutra em carbono representa “uma grande oportunidade” para garantir competitividade a longo prazo. Conheça as principais conclusões
Mais do que um custo, a jornada rumo à sustentabilidade deve ser encarada como um investimento no futuro. E não apenas no futuro do planeta, mas na competitividade que as empresas podem ou não vir a ter – tudo depende de como endereçam hoje os desafios da transição. Se é verdade que este é um imperativo generalizado, o estudo da KPMG apresentado esta terça-feira, no Porto, mostra que existem entidades bem posicionadas neste processo. “As empresas familiares estão especialmente preparadas e capacitadas para a sustentabilidade e para o ESG [environmental, social, and corporate governance] e também têm muito a ganhar”, afirma Pedro Cruz, responsável pela área de ESG na consultora internacional.
De facto, o presidente da Associação Empresas Familiares reforça que este processo não pode ser evitado e que, pelo contrário, deve ser central na gestão das organizações. “Este é um conceito relativamente simples. Envolve duas coisas: a mudança de atitude e, para as empresas industriais, uma redução do consumo de água, de matérias-primas e a utilização de energia de fontes renováveis”, afiança Peter Villax.
No debate participaram (da esq. para a dir.) Bernardo Brito e Faro (Sogrape), António Carlos Rodrigues (Grupo Casais) e Cristina Amorim (Corticeira Amorim), com moderação de Luís Magalhães (KPMG) FERNANDO VELUDOOs resultados da pesquisa realizada pela KPMG em 70 países, entre 2021 e 2023, foram o pano de fundo para uma mesa-redonda que juntou três negócios de raiz familiar numa reflexão conjunta sobre o percurso que têm feito em matéria de sustentabilidade – ambiental, social e de governança. O debate contou com a presença de Cristina Amorim, administradora da Corticeira Amorim, António Carlos Rodrigues, CEO do Grupo Casais, e Bernardo Brito e Faro, CFO da Sogrape.
Para a representante da família Amorim, “a estratégia ESG não é separada da estratégia corporativa” e esse é, assegura, um dos ingredientes para o sucesso desta transição. Apesar deste caminho no grupo empresarial ter começado há vários anos, Cristina Amorim lembra que o trabalho é contínuo, exige permanente adaptação e, sobretudo, implica “um alinhamento muito estreito” com os acionistas. “Somos desafiados permanentemente para fazer mais e melhor”, acrescenta.
Conheça abaixo as principais conclusões deste evento:
Visão de longo-prazo
- Capacidade de planeamento a longo-prazo é, segundo o estudo, uma das características que melhor define as empresas familiares. “Uma das preocupações [destes negócios] é o legado. Isso facilita muito esta lógica de investimento multigeracional”, acredita Pedro Cruz.
- António Carlos Rodrigues, do Grupo Casais, reconhece o impacto negativo do sector da construção no ambiente e explica que tem procurado acelerar a transição não apenas na sua empresa, mas também junto dos restantes operadores do mercado. A principal transformação prende-se com a alteração na forma de construir edifícios, utilizando cada vez mais matérias-primas reutilizáveis e com menor pegada carbónica, mas também com investimento na componente social. “Percebemos que não conseguimos criar atratividade para o nosso sector se não oferecermos melhores empregos”, aponta.
- A Sogrape, contudo, é mais um caso em que a sustentabilidade não é um tema recente. Aliás, Bernardo Brito e Faro diz mesmo que esta preocupação está na base do seu “corpo estratégico” – entre vários projetos em curso, as principais preocupações estão relacionadas com a redução do consumo de água na vinha e da quantidade de fertilizantes e tratamentos fitossanitários. “Tudo isto envolve investimentos muito elevados. Se nós somos muito pequeninos e estamos a fazer este esforço, é importante que este esforço seja feito por todos”, remata.
- De acordo com o estudo “A road well-traveled”, 43% das empresas familiares apresenta elevados níveis de sustentabilidade. Para este resultado contribuem oito fatores descritos no documento, dos quais se destacam a visão de futuro no seio destas organizações, assim como grande maturidade digital que potencia os objetivos ao nível do ESG.