svicente - 19 set. 10:36
Visão | Não há progresso sem o avanço da bondade
Visão | Não há progresso sem o avanço da bondade
Todos os políticos da extrema-direita vivem do ódio. Fomentam e fermentam o ódio. Nesse caos odioso, o progresso será sempre impossível
Nos seus livros, Steven Pinker evidencia o declínio das guerras e da violência ao longo dos últimos séculos, e faz uma associação entre esse declínio e o avanço da ciência, da democracia e do desenvolvimento económico. Enfim, uma herança benigna do iluminismo. Yuval Harari vai no mesmo sentido, frisando o quanto os regimes democráticos são um travão à guerra e à violência (menos guerras civis, menos golpes de estado, menos invasões).
Porém, a última década tem posto em evidência uma tendência alarmante: o crescimento forte dos partidos e candidatos da extrema-direita que conseguem bons resultados eleitorais e catalisam o ódio nas pessoas, cavalgando um discurso baseado no ódio ao diferente (emigrantes, LGBTQIA+, dependentes do apoio do Estado ou todos os que pensam de forma diversa) ou a fantasmas (dizer, por exemplo, que a ONU é uma assembleia de comunistas ou que os direitos humanos são marxismo cultural).
Pessoas descontentes com a vida sempre houve e sempre haverá. Mas os líderes comunitários podem canalizar esse descontentamento para a esperança em soluções reais para os problemas, ou podem alimentar esse ódio com a velha estratégia do bode expiatório.
Newsletter A subscrição foi submetida com sucesso! VISÃO Plus O melhor da semana multimédia: histórias, fotogalerias, videos e podcastsNo mundo não democrático isto é um não problema na medida em que os cidadãos não se podem expressar, nem fazer valer as suas vontades. Mas, nas democracias, as exigências e as expectativas são grandes. E é verdade que temos assistido a uma erosão na confiança nos políticos e nas instituições democráticas, muito porque estes estão a ser incapazes de gerar progresso continuado. No passado, este processo já se verificou, por excessiva desregulação dos sistemas económicos, originando-se a ascensão do nazismo e do fascismo e as consequentes guerras em países, à época, muito instruídos. Hoje, as mais recentes sondagens na Alemanha dão 21% de intenções de voto para a AfD, colocando o partido neonazi como o segundo mais votado. As próximas eleições europeias serão, aliás, um momento importante para verificar o que vai acontecer ao parlamento europeu, quando já temos a extrema-direita nos governos de Itália, da Hungria, da Polónia, da Suécia e da Finlândia. No Brasil e nos EUA já tivemos essa extrema-direita no poder, e corre-se o risco de isso suceder na Argentina. Todos estes políticos da extrema-direita vivem do ódio. Fomentam e fermentam o ódio. E não só aumentam o ódio nas suas hostes como geram ódio nas hostes contrárias, criando o caldo perfeito para o conflito.
Nesse caos odioso, o progresso será sempre impossível. É que só há verdadeiro progresso quando há crescimento da bondade e da paz. Há, por isso, uma responsabilidade maior para os políticos decentes: catalisar a bondade e a esperança com políticas concretas que melhorem a vida das pessoas, algo que passará, sempre, pelo combate estrutural às desigualdades.
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