www.publico.ptpublico.pt - 6 jun. 05:20

Cartas ao director

Cartas ao director

Desigualdade

A desigualdade de direitos e oportunidades, sendo um dos dramas mais grosseiros da nossa vida colectiva, deveria ser o combate primeiro de qualquer governo com sensibilidade social. Infelizmente o quotidiano não o confirma. Exemplos: os funcionários judiciais aguardam resolução da questão profissional há tempo infindo. Afirma-se que têm razão, mas não se resolve o problema com custos “brutais” para toda a sociedade; há funcionários de saúde pública há mais de quinze anos sem concursos de progressão. Reconhece-se o absurdo do impasse mas não se resolve o problema; os professores reclamam uma contagem de tempo que ainda ninguém disse ser ilegal. Mas parece mais adequado à boa gestão da política escolar estimular a luta reivindicativa com greves que acarretam custos para toda a juventude escolar de hoje, e afirme-se, claramente, impedindo muitos de terem amanhã; os banqueiros reivindicam uma redução no rendimento dos certificados de aforro e, sem greves, manifestações ou atrasos, o Governo reduziu aquele rendimento em 28,57%. É isto a desigualdade e é por isto que ela cresce onde, exemplarmente, deveria reduzir-se: no mundo do poder democrático, mormente, se ele se pretender socialista.

M. M. Camilo Sequeira, Algés

É só pedir

A banca pediu e o Governo obedeceu. Em vez de manter a taxa de 3,5% nos certificados de aforro e assim obrigar os bancos a subir a taxa de juros dos depósitos, o que seria mais do que lógico, o Governo escolheu obedecer à banca e penalizar os portugueses. O Governo de António Costa continua, tal como já tinha feito Passos Coelho, a favorecer de forma absolutamente descarada a banca. Porquê? Uma vez mais, porquê? É o que pergunto. Fernando Medina, como ministro das Finanças, deve uma explicação ao país. Tenho, todavia, a impressão de que tal não acontecerá, uma vez que Medina usa e abusa da atitude de se esconder. A banca pediu e o Governo, uma vez mais, obedeceu. Triste, mas verdadeiro.

Manuel Morato Gomes, Senhora da Hora

O poder, a tranquilidade de consciência...

...e o dinheiro, por esta ordem. E a ordem é que me interessa. Ainda há dias, no café, discutia com um amigo sobre qual o primeiro escopo, nos "tranquilos de consciência", acrescento agora. Isto depois de ler António Barreto e de saber que esse meu amigo também o lê. Sei que o "anda tudo ao mesmo" ocupa larga parte do "pensamento" contemporâneo, a que se junta, convenientemente, um "o mundo é mesmo assim", mas tenho para mim que o "poder" é o primeiro passo e a "consciência tranquila", a estudada "salvação". O dinheiro vem através do primeiro, executado pelos "peões" (num vasto leque, indo de "peõezinhos" a "peõezões") que, despidos de "alma", servem os que o acumulam obscenamente com o seu poder de manipulação de pessoas e do sistema, "tudo" corroendo. Não sou um indefectível de António Barreto, mas no PÚBLICO de sábado tem toda a razão, até porque só fala de "consciência tranquila" e "poder", relevando a primeira no título e no texto...

O "mistério" dos certificados de aforro com que os bancos nada tiveram a ver... é bem uma variante de tudo isto.

Fernando Cardoso Rodrigues, Porto

Boaventura de Sousa Santos

A tempestade informativa que há poucas semanas caiu inesperadamente no Centro de Estudos Sociais em Coimbra e que levou à suspensão de funções do seu director emérito Boaventura de Sousa Santos e do seu vice Bruno Sena Martins, agora aparentemente amainada enquanto decorre um inquérito conduzido por uma comissão independente, deu azo a que o sociólogo poeta deitasse a cabeça de fora e viesse dizer em jeito de autocrítica que fica sempre bem, que assume por inteiro haver praticado "comportamentos inapropriados, senão mesmo machistas", mas que, segundo o próprio, no seu tempo (que não o nosso) eram aceites pela sociedade, recusando, todavia, haver praticado actos graves!

Disse também, para nossa tranquilidade, que doravante vai estar mais vigilante e evitar ser protagonista de situações críticas, mas esqueceu-se de dizer a quem o ouviu ou leu qual a distância entre actos inapropriados e actos graves, pormenor não despiciendo para que nos inquéritos caseiros ou nos palcos da justiça onde o processo for parar possa haver medidas e provas capazes de garantir às vítimas aquilo a que aspiram e têm direito.

José Manuel Pavão, Porto

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