www.publico.ptpublico.pt - 5 jun. 05:00

Cartas ao director

Cartas ao director

Preconceito ou mudança?

Quem de novo vem de velho não escapa, e em Portugal há cada vez mais idosos. Se, em 2001, havia 102 idosos para cada 100 jovens, em 2011 já havia 128 e presentemente o fosso revela ter aumentado sobremaneira: 182 idosos. São os Censos que apontam para esta realidade, ou seja, a sociedade portuguesa está cada vez mais velha porque a crise tem desaconselhado os casais a terem filhos ou, pelo menos, tantos quantos gostariam. É claro que a sociedade não vê a velhice com bons olhos e, indiferente à qualidade que cada idoso possa garantir, tem a tendência para tratá-los a todos como aproximando-se do fim do prazo de validade. Daí que a corrente do idadismo, ao apontar para o preconceito da idade, tem a sua razão. A vossa reportagem de sábado último para isso aponta à sociedade.

Mas sendo, em cada idoso, cada caso um caso, também deve ser um motivo de mudança. A vida não acaba com a reforma. Pelo contrário, esta pode corresponder apenas a uma mudança de agulha, em que, finda uma actividade, podem desabrochar outras. Haja vontade a funcionar e cabeça em condições. Haja capacidade de inovar e de acrescentar valor a cada ruga ou cabelo branco. A sociedade pode apontar os idosos para o sofá. Cabe a estes, em percentagem maior ou menor, mostrar-lhe como se engana.

Eduardo Fidalgo, Linda-a-Velha

A insuportável febre do lítio

Para que serve, caro leitor, a Agência Portuguesa do Ambiente? Para proteger o ambiente? Desengane-se! Como podemos respeitar uma agência governamental que permite a exploração de lítio — a céu aberto! — numa área adstrita ao Património Mundial da Agricultura? Têm motivos de sobra para estar revoltados, sem dúvida, os habitantes das Terras de Barroso. Restar-lhes-á, por certo, nos anos vindouros, uma paisagem lunar. Como o tratamento do lítio exige o consumo de quantidades astronómicas de água, cuja disponibilidade diminui cada vez mais — por força da crescente recorrência dos períodos de seca extrema —, não será difícil antever o futuro: a iminência do Inferno. É de tal ordem o desrespeito, por parte do poder central, pelos valores da biosfera e dos estilos de vida da gente barrosã, que se justifica aqui, porventura, o apelo para a desobediência civil. Não se trata, claro está, de uma bravata estéril, mas de uma acção popular que tem tutela constitucional: o direito de resistência (cf. art.º 21.º da CRP).

Eurico de Carvalho, Vila do Conde

Preocupado

Olho à minha volta e já não sei se sou eu que estou a ficar mal da cabeça. Não percebo. Confesso que estou a ficar preocupado com as pessoas que deviam falar claro para mim, que faço parte do povo. Foi para isso que votei. (…)

A comissão de inquérito à TAP quase não fala da TAP. O primeiro-ministro diz que não disse o que disse. O Presidente da República usa os trocadilhos para não dizer o que dá a entender. Há um secretário de Estado que fala, fala, fala e não diz nada. Há um ministro que tão depressa diz que se demite como uns dias depois diz que afinal tem todas as condições para continuar como ministro.

Ninguém se confessa, pelo que sou obrigado a admitir que foi por obra e graça do Espírito Santo que o SIS soube que um rapaz adjunto que se ia embora do gabinete por ter sido acabado de despedir levava documentos importantes para o Estado num computador que é do Estado e que ele queria roubar. Mas o que é isto? Tenham pena de mim.

José Rebelo, Caparica

Este barato sai caro

Sou parte daquele grupo de portugueses que, congratulando-se com os sucessos financeiros de que o nosso Governo faz colecção, não sentem na pele os efeitos benéficos de tanta perícia contabilística. O Estado enriquece a olhos vistos, com louvores para todos quantos conseguiram baixar o rácio da dívida, domar o défice, disciplinar o desemprego, refrear a inflação, esquecendo-se, contudo, de cuidar das centenas de portugueses, em especial velhos, que se mantêm “hospedados” nos hospitais, depois de curados, porque são lá abandonados pelos familiares, não porque estes sejam “desnaturados”, mas porque, simplesmente, não possuem as condições necessárias a tratá-los em casa. Não quero viver num país rico com uma “plêiade” de esfaimados, onde as desigualdades não param de crescer, até nos mínimos vitais. (…). Quem tem medo do futuro?

José A. Rodrigues, Vila Nova de Gaia

PÚBLICO Errou

No artigo "Em Boticas, não se quer que o lítio transforme a 'vida pura em poluída'", publicado na edição de ontem, refere-se que este concelho do distrito de Vila Real tem "mais de 300.000 quilómetros quadrados de área", o que está obviamente errado. Boticas tem sim uma área de aproximadamente 320 km2.

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