observador.ptobservador.pt - 5 jun. 18:51

Câmara do Porto condena atuação da Misericórdia sobre exposição no Conde Ferreira

Câmara do Porto condena atuação da Misericórdia sobre exposição no Conde Ferreira

Em causa está o encerramento, de forma inusitada, da instalação "Adoçar a alma para o Inferno III" no Centro Hospitalar no Conde Ferreira. "Não devemos permitir que haja censura", afirmou Rui Moreira.

O executivo da Câmara do Porto aprovou esta segunda-feira, com o voto contra do PSD, um voto de condenação à atuação da Santa Casa da Misericórdia do Porto em relação a uma exposição no Centro Hospitalar do Conde Ferreira.

Apresentado pelo Bloco de Esquerda, o voto insta a Câmara do Porto a condenar “veemente” a atuação da Santa Casa da Misericórdia do Porto “ao encerrar, de forma inusitada, o espaço expositivo patente no Centro Hospitalar Conde Ferreira, relativo à instalação ‘Adoçar a alma para o Inferno III’, da autoria de Dori Nigro e de Paulo Pinto”.

No âmbito da Bienal de Fotografia do Porto, o Centro Hospitalar Conde Ferreira acolhe a exposição “Vento (A)mar”, que inclui a referida instalação com “dados relativos ao passado esclavagista do primeiro Conde de Ferreira”.

“Terão sido estas alusões históricas o motivo para o encerramento, por iniciativa da Santa Casa da Misericórdia do Porto (…), numa atuação ainda mais autoritária e invasiva por se ter verificado já no decurso da referida exposição”, refere.

O BE acrescenta ainda que, depois de o caso se ter tornado público, a direção do hospital reabriu a sala, “mas, desta vez, retirando, por sua iniciativa os objetos artísticos julgados arbitrariamente como inconvenientes“.

Na reunião do executivo, a vereadora Teresa Summavielle, do BE, considerou “inaceitável” a atuação da administração do hospital.

Também o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, concordou “inteiramente” com o voto apresentado pelo BE, destacando que o evento é cofinanciado pela autarquia e que este foi “um ato censório”.

Não devemos permitir que haja censura, independentemente de concordar ou não com a expressão artística”, acrescentou.

Pelo PS, a vereadora Rosário Gamboa destacou que o caso é “uma censura a um ato de curadoria autónomo”, à semelhança da vereadora da CDU, Ilda Figueiredo, que também condenou a atuação.

Já a vereadora Mariana Macedo, do PSD, afirmou que a “censura à cultura é inaceitável”, destacando, contudo, o serviço “tão importante” que aquela unidade hospitalar presta à população.

“Não podemos julgar a parte pelo todo, com total liberdade que todas as exposições têm”, referiu, dizendo ter tido conhecimento que a obra — “um espelho que continha a frase ‘quantos escravos valem um hospital psiquiátrico'” — foi encarada pela administração do hospital “como uma provocação“.

“Não podemos permitir que usem a arte para pôr em causa o trabalho da entidade”, acrescentou a social-democrata.

Em comunicado enviado na quinta-feira à Lusa, a SCMP considerou que havia “referências ofensivas à memória do Conde de Ferreira” e que estavam “disponíveis para, imediatamente”, procederem à entrega dos objetos nas instalações da direção artística da bienal, “em momento a acordar”.

“Como instituição de espírito inovador e tolerante, a Santa Casa da Misericórdia do Porto manterá, sempre, as suas portas abertas e não terá dificuldade, na forma adequada, de discutir a sua história, os seus comportamentos, os seus benfeitores. Como diria Ortega y Gasset, somos nós e a nossa circunstância”, concluía o comunicado.

Por seu lado, a equipa da bienal “aplaudiu e acarinhou” a opção dos artistas e da curadora, que “souberam trazer estes assuntos” para a programação da Bienal de Fotografia do Porto.

Em comunicado, a organização reiterou o apoio a Dori Nigro e Paulo Pinto e salientou que a restante exposição vai permanecer no Panóptico do Centro Hospitalar Conde de Ferreira, “onde o público continua a poder visitar nove das 10 peças produzidas para esta mostra até 1 de julho.

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