sol.sapo.ptEdgar Clara - 5 jun. 00:00

A dessacralização da política

A dessacralização da política

Não nos mandem areia para os olhos… Nós vemos as movimentações… maridos e mulheres ao serviço da política controlam os ministérios e os serviços públicos. Já vimos bem onde fomos encontrar a Dra. Constança Urbano de Sousa? Nunca ninguém que está na política entra no fundo de desemprego.

Saí de Portugal há quinze dias em peregrinação à Terra Santa. Quando saí, estava o nosso país à volta da ativação dos Serviços Secretos no caso Galamba. Na altura, lembro-me de ter pensado: Como é que tudo isto aconteceu? Como é que começou tudo isto?

Esta história parece não ter fim: começou pela saída voluntária de um membro de direção da TAP que parece que não saiu pelo seu próprio pé com uma indemnização. Mas quem sai pelo seu pé não tem direito a indemnizações. Percebemos, então, afinal que a indemnização foi fruto de um acordo para que a direção da TAP se visse livre de Alexandra Reis.

Ninguém sabia quem era Alexandra Reis que, não tendo saído de sua própria vontade, recebeu a dita cuja indemnização, mas, de repente, vimo-la assumir o cargo de secretária de Estado. Então, mas quem não serve para gerir uma empresa estatal, serve para dirigir um país? Depois do escândalo da sua indemnização a secretária de Estado demite-se e começou a bulha em Portugal.

Foi assim que se chegou à ativação dos Serviços Secretos, porque a Assembleia da República organiza uma Comissão de Inquérito e, como é obvio, sabemos que é prática comum não dizer toda a verdade, começaram as muitas mentiras para abafar outras mentiras. O problema não é tanto que mintam, porque isso já sabíamos, mas que nos estejam a chamar de burros. Estamos a ver que não nos estão a dizer toda a verdade, mas, mesmo assim, continuam a dizer que o obvio afinal não é.

Isto é assim em muitos casos na ‘democracia’ portuguesa, mas esta telenovela está a dar que falar porque estamos a escrutinar os acontecimentos e a forma como funcionam os serviços políticos e os serviços do Estado. Agora vemos que se dão indemnizações e se passam pessoas de um setor do Estado para outro setor com indemnizações chorudas sem se dar explicações a ninguém…

A política estava, até agora, como a religião estava no passado: uma instituição sagrada habituada a estar acima dos comuns dos mortais. Na realidade a política, atualmente, como a religião, deixou de ser sagrada. Hoje, o que os políticos dizem é e deve ser motivo de escrutínio público. Não existem mais temas tabus. Não existem mais temas ou pessoas sagradas. E temos de nos habituar a isso…

É bom que se escrutine estas pessoas e estes acontecimentos, mas também seria bom que, ao mesmo tempo, se avance com o governo do país para a frente.

Não podemos continuar com esta forma de Governo… Para governar é preciso ter não apenas competência técnica, mas também competência moral.

É notório que este Governo está há tempo demais a tentar justificar-se a si próprio. De facto, cumpre-se o ditado popular: ‘Quanto mais alto se sobe, maior é a queda’. Uma maioria absoluta não é fundamento suficiente para suportar um Governo estável. O que está na base de uma instituição é, acima de tudo, uma ética de trabalho que torna inabaláveis as suas decisões.

Não há mais governos sagrados, inquestionáveis, porque, acreditando na democracia, temos de ter claro que o dever de informação está acima de quaisquer interesses particulares ou partidários. O que é sagrado na democracia atual é, acima de tudo, a informação da Opinião Pública.

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