www.dinheirovivo.pt - 27 mai. 01:00
Quando os rebuçados acabarem
Quando os rebuçados acabarem
A estratégia de António Costa torna-se mais óbvia conforme um novo episódio é revelado envolvendo algum dos seus em novo escândalo ou suspeita. E não se esgota na propaganda de chavões que vai aprendendo e repetindo, com os ministros do seu núcleo duro a fazer eco deles nos espaços de comentário que lhes vão sendo cedidos para dar largas à narrativa do governo socialista em funções. Nem sequer termina com os delírios legislativos expelidos ao ritmo dos sucessivos casos que se colam à pele de Costa & cia.
Não é difícil reparar como a cada novo caso corresponde um pacote que gera falatório - do absurdo do Mais Habitação à inenarrável Lei do Tabaco. Mas surge também um subsidiozinho, uma linha de apoio com tantos "ses" que quase ninguém lhe chega, uma esmola para os miseráveis ou um reforço que era devido mas foi retido à espera de dias piores. Foi assim, por exemplo, com a revisão do aumento aos funcionários públicos, reforçado e aplicado retroativamente, como com as reformas, que os pensionistas conseguiram afinal recuperar, depois de o governo lhas ter cortado a meio porque o aumento de lei "faria perigar as contas" - mas afinal parece que não.
Esta campanha eleitoral em permanência governamental até pode parecer boa notícia para quem dela beneficia. Mas é mais ou menos como deixar o saco dos doces ao cuidado da criança gulosa. Quando se for por ele, estará irremediavelmente vazio.
Acontece que se está a criar despesa com receita extraordinária - nunca o governo fez tanto dinheiro à custa dos impostos recolhidos graças a uma inflação galopante que todos rezamos para que não se repita e num momento em que os portugueses tinham ainda alguma almofada da pandemia para se suportarem. São gastos cujo único racional é mais uma semana de sobrevivência política de um Executivo de protagonistas estafados e esvaziados, como João Galamba ou Céu Antunes. Rebuçados para distrair, pagos do bolso dos portugueses.
É dos nossos impostos - em receita recorde pelo terceiro ano consecutivo - que vem cada euro anunciado pelo governo como novo apoiozinho. Merece recordar que Portugal tem uma das maiores cargas fiscais sobre o trabalho entre os países da OCDE, apresenta uma das mais exigentes taxas reais de IRC cobrado às empresas e exige a todos nós IVA sobre tudo quanto consumimos bem acima, por exemplo, da vizinha Espanha (onde não existem produtos alimentares acima do IVA intermédio, já de si num patamar mais baixo do que os nossos 13%). Já para não falar de todos os extras feitos para durar (ISP, ISV, álcool, tabaco, etc.) e dos extraordinários que perduram há mais de uma década.
É o preço a pagar por um orçamento feito ao contrário, que pesa o que quer gastar para determinar quanto e como o vai tirar da carteira dos portugueses. E que fica mais caro conforme os contribuintes vão envelhecendo ou desistindo de ser espoliados, optando por viver onde as regras são mais fiáveis e justas.
Projetos de futuro, nem vê-los. Planeamento, zero. Políticas públicas dignas desse nome, um deserto. Nada é feito para melhorar o país e criar riqueza. Pelo contrário, cada novo delírio de ideologia ou manobra de circo para distrair de nova palhaçada resulta na fuga de investimento e capacidade. Dizemos que queremos empresas grandes e ricas, mas penalizamos o tamanho e os resultados, dizemos que queremos atrair investidores estrangeiros, mas pomo-los a fugir à custa de burocracias bacocas e leis em constante mutação e que penalizam o investimento e a iniciativa. Dizemos que venham, que aqui é que é bom, mas depois renacionalizamos empresas como a TAP por motivos eleitoralistas, acabamos com os vistos gold por operações cosméticas com potencial de voto, passamos sentença de morte às plataformas.
Quando Costa terminar a viagem, o que sobrará de Portugal? Um imenso esbulho fiscal, então por razões de sobrevivência dos que não puderam fugir