observador.ptObservador - 26 mai. 00:22

A camisola do professor Cavaco Silva

A camisola do professor Cavaco Silva

Não, o professor Cavaco Silva não quis simplesmente dar uma boleia ao presidente do PSD; deu voz àquilo que antigamente se chamava patriotismo, e que assim devemos chamar, sem ironias.

Que a oligarquia socialista não entenda o professor Cavaco Silva, é o que se poderia esperar dela. Mas que muitos dos que aplaudiram o discurso de Cavaco Silva no Encontro Nacional dos Autarcas do PSD também não o tenham entendido, já é mais inquietante. Não, o antigo Presidente da República não resolveu simplesmente dar uma boleia ao presidente do PSD, mesmo que esse possa ter sido um dos efeitos secundários das suas palavras.

Para o Primeiro-Ministro, o professor Cavaco Silva vestiu a “camisola partidária”. Na cultura política de cinismo da oligarquia socialista, é o único tipo de camisola que existe. Mas no mundo de Cavaco Silva, existe outra camisola: a camisola do país. Foi essa que ele vestiu agora. Já era, aliás, a que ele vestia enquanto foi governante, quando, sem medo das ironias da classe letrada, celebrou a convergência da economia portuguesa com as economias da Europa mais rica, e as grandes expectativas que havia por volta de 1990. Não era apenas a satisfação de um político, mas o entusiasmo de uma geração que via finalmente Portugal sair da “cauda da Europa”. Cavaco Silva e a sua geração também sabiam o que isso significava. Não eram apenas lugares num ranking. Era a possibilidade de mudar de vida, de realizar aspirações, de que aliás as suas vidas e carreiras eram exemplo. Cavaco Silva, mesmo com as suas reticências sociais-democratas ao liberalismo, sempre soube que nenhuma outra política é mais eficaz a promover coesão e mobilidade social do que a que mantém uma economia aberta e dinâmica, como ele quis que fosse a economia portuguesa.

Para perceber Cavaco Silva, não basta, ao contrário do que se tem dito, lembrar os resultados do seu governo de 1985-1995. É preciso também lembrar a grande aposta no futuro do país, que foi a decisão de aderir à futura moeda única em 1992. Exprimiu a sua convicção de que seria possível criar riqueza em Portugal sem ser através de salários baixos, e de governar sem ser através de défice e de inflação. E é isto que explica o “intervencionismo” de Cavaco Silva. Trinta anos depois, vê o seu país substituído por outro, onde as expectativas baixaram, a divergência em relação à Europa passou a ser aceite, e a moeda única serve apenas para garantir a assistência do BCE a uma governação má e cara.

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