dinheirovivo.pt - 19 mar. 17:48
Inflação alimentar: há fumo em toda a cadeia de valor agroalimentar. E onde há fumo, há fogo
Inflação alimentar: há fumo em toda a cadeia de valor agroalimentar. E onde há fumo, há fogo
Provavelmente, tem sido alguma ″mão invisível″ a atear o fogo.
Provavelmente, tem sido alguma "mão invisível" a atear o fogo.
Senão, vejamos. O governo atira culpas para as empresas de distribuição.
As empresas de distribuição manifestam-se, com toda a veemência, contra a "campanha de desinformação" em curso e empurram responsabilidades para as cadeias de produção.
A Confederação Nacional de Agricultura refere que a inflação mais alta dos alimentos não é culpa dos produtores.
A Associação Nacional dos Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias rejeita qualquer responsabilidade na desproporção dos preços de venda ao consumidor final registada nos bens alimentares.
A Comissão Europeia pede aos Estados-membros para estes incentivarem os operadores do retalho a conter os preços na venda ao consumidor final.
Alguns Estados-membros, incluindo Espanha, reviram e baixaram o IVA sobre os bens alimentares. Portugal não o fez. E parece não ter intenção de o fazer.
Agora, alguns factos. A DECO - Defesa do Consumidor conclui que o cabaz de alimentos essenciais atingiu o preço mais elevado desde que esta monitorização começou a ser realizada, há cerca de catorze meses.
Segundo a DECO, num ano, o preço do peixe subiu cerca de 26%, o da carne escalou 25% e o das frutas e legumes básicos registou um aumento de perto de 35%.
De acordo com informação da ASAE, divulgada a 15 de março, foram 141 os operadores económicos fiscalizados. Resultaram 25 processos-crime pela prática do crime de especulação de preços. Já no decurso de uma operação de fiscalização anterior, a ASAE dava nota de ter encontrado margens de lucro superiores a 50%, por exemplo, na cebola.
O Índice de Preços de Produtos Agrícolas no Produtor (janeiro de 2023), que surge no Boletim mensal de janeiro da Agricultura e Pescas do INE, dá conta de aumentos de cerca de 100% no preço da batata, de perto de 87% nos preços dos produtos hortícolas frescos, de 77% nos preços dos ovos, de mais 71% no preço dos suínos, de mais 65% no preço do azeite a granel, e assim por diante.
Não restam dúvidas de que também se tem vindo a registar um aumento muito significativo dos preços na origem, ou seja, no "campo", onde ocorre a produção e a criação.
A subida dos preços no "campo" reflete as variações significativas em alguns fatores de produção. Os adubos e fertilizantes ficaram 93% mais caros. O preço da energia e lubrificantes subiu 41%. A ração para animais aumentou 35%. O gasóleo agrícola/combustíveis registouuma escalada de quase 42%.
Concluindo, o fogo parece arder em toda a cadeia de valor agroalimentar. Provavelmente, tem sido uma "mão invisível" a ateá-lo.
Professor Auxiliar no IADE/Universidade Europeia