observador.pt - 19 mar. 11:42
Dos pés descalços aos reis de todos os passos: breve história das marcas de calçado (parte 1)
Dos pés descalços aos reis de todos os passos: breve história das marcas de calçado (parte 1)
A evolução do calçado tem sido ditada mais pelos caprichos da moda do que por considerações práticas. Não é de estranhar que seja fértil em bizarrias e pés deformados. Este é um retrato histórico.
Talvez por os pés estarem situados no extremo oposto da cabeça, a segunda raramente gasta tempo a pensar nos primeiros e, quando pensa, fá-lo com sobranceria, o que contribui para que os pés sejam, em geral, vistos como uma parte menos nobre no corpo (os fetichistas de pés são dos poucos a divergir desta perspectiva). Esta subalternização dos pés ajuda a explicar por que, apesar dos apreciáveis progressos feito noutros domínios da existência humana, insistimos em encarcerar os pés nessas estruturas quase sempre insalubres, desconfortáveis e ineficazes que são os sapatos.
Os sapatos são escolhidos pela cabeça sem consultar os pés, ignorando imperativos anatómicos e fisiológicos básicos e atendendo quase exclusivamente a critérios de moda, que estão tão entranhados que nem nos damos conta de quão arbitrários e absurdos são. A moda é quase sempre má conselheira, mas permite que os fabricantes façam fortuna, quer no mercado de massas quer nas criações mais requintadas e elitistas, numa interminável catadupa de novos modelos que reduzem à obsolescência os modelos anteriores, embora raramente tragam melhoramentos objectivos. Na língua inglesa usa-se a expressão “sensible shoes” para designar sapatos práticos, confortáveis, resistentes e adequados às circunstâncias, por oposição a sapatos que privilegiam as aparências e seguem os ditames da moda, mas a verdade é que o adjectivo “sensible” (que significa “sensato, razoável” e, neste contexto, “prático, funcional” – e não “sensível”, como por vezes é atabalhoadamente traduzido) não se aplica à maioria dos sapatos.
Antes de abordar os nomes e história das marcas de sapatos mais conhecidas, impõe-se um “preâmbulo” (do latim “praeambulus”, de “prae” = antes + “ambulare” = caminhar) sobre a evolução do calçado ao longo dos tempos, pois parte das características dos artefactos que hoje calçamos resultam, não de descobertas da ciência ergonómica, mas de opções discutíveis e vogas estultas, que são tão antigas e entranhadas que não as percebemos como tal e não nos passa pela cabeça questioná-las.
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