jornaleconomico.ptJoão Miguel Fernandes - 18 mar. 10:07

Manual de economia para totós | O Jornal Económico

Manual de economia para totós | O Jornal Económico

A linguagem hermética do “economês” inibe a população de tomar decisões mais esclarecidas e de estar mais consciente dos seus direitos.

Todos nós ainda nos recordamos da devastação que se seguiu ao colapso do Lehman Brothers em 2008, que deixou marcas em todas as áreas.

A forma mais rápida de criar ressentimento popular contra as elites governantes é apontar as injustiças e desigualdades nos casos em que os bancos foram salvos ou nacionalizados. Aliás, ainda hoje o caso do ex-Banco Espírito Santo é uma espinha cravada na garganta dos portugueses, que causou danos irreparáveis que minaram a confiança dos cidadãos nas instituições. A revolta e a raiva, grande parte dela justificada, acaba por ser o combustível que dá palco aos demagogos-populistas.

E se tivéssemos uma sociedade mais informada e menos dada à iliteracia económica e financeira? Se compreendêssemos melhor o que está em jogo, teríamos previsto a crise e recessão de 2008? Se aprendêssemos desde cedo como o sistema funciona, em vez de deixarmos tudo nas mãos de uma minoria que se protege apenas a si própria, teríamos sido mais poupados à tempestade?

De acordo com dados divulgados pelo Banco Central Europeu, em 2020, Portugal ocupava a última posição do ranking de literacia financeira dos 19 países da zona euro. É um enorme problema que temos em mãos quando a população desconhece como desenvolver melhores hábitos de poupança, como tomar as decisões financeiras certas junto de instituições bancárias, como recorrer ao crédito sem riscos e com maiores precauções, como calcular o rendimento ou como identificar e compreender como funcionam certos impostos e taxas.

Dar mais conhecimento é dar mais poder de decisão às pessoas para controlarem as suas vidas e não serem apanhadas numa turbulência altamente prejudicial.

O mercado não quer promover inclusão financeira porque sabe que quanto mais ignorantes formos na altura de assinar papéis, mais facilmente os clientes caem numa rede que esconde os riscos e exagera os benefícios. E embora tenhamos visto alguns esforços de tornar a linguagem económica e financeira numa linguagem cada vez menos direcionada para especialistas, ainda temos um longo caminho a percorrer.

É demasiado perigoso manter este tipo de exclusão num mundo polarizado, em que a desinformação digital é deliberada e usada como arma pelo anarcocapitalismo.

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