www.jn.ptjn.pt - 28 jan. 16:32

A mulher de 30 anos e os seus Golden Numbers

A mulher de 30 anos e os seus Golden Numbers

Thamiris Carvalho apresenta este sábado, no Porto, o primeiro espetáculo de um ciclo que se realizará a cada década para assinalar o amadurecimento no feminino

Thamiris Carvalho deparou-se com o término da sua juventude na pandemia, ao tentar candidatar-se a um concurso, em que percebeu que estava a dois meses de cumprir 30 anos, idade-limite dos candidatos.

Aqui nasceu a ideia de assinalar o começo da sua finitude: um espetáculo que reunisse a cada dez anos a equipa criativa para fazer um balanço do que tinha sido cada década. O resultado é um objeto performático chamado "Golden numbers - o início do fim" hoje, às 21.30 horas, e amanhã, às 17 horas, no Teatro do Campo Alegre, no Porto. A cada década, como explica, "a série de objetos performáticos pode ser diferente, pode ser uma canção, ou um livro, sempre sobre a mesma temática, biográfica, mas com outra idade".

Dez anos é a medida exata de tempo desde que se mudou para Portugal, "uma acumulação de bagagem drástica de tudo o que viveu entre os 20 e os 30 anos".

A ideia biográfica não contempla todas as mulheres, mas não deixa de ser representativa de uma geração na qual está inserida, a dos anos 90, e de ter um forte pendor político. "Sou uma mulher brasileira, negra e emigrante. Estas são as as minhas referências. São 30 anos de vivências de alguém que nasceu nos anos 90, vivenciou os anos 2000, 2010 e por aí em diante. Há um traço forte das projeções externas e de como as pessoas me leem".

Embrulho disco

Numa outra camada, o espetáculo de "dança plural" goza de um embrulho disco. "Sempre tive uma paixão pela música disco, a Diana Ross, a Gloria Gaynor, mesmo não sendo dessa época".

Uma alusão à sua infância: "No Brasil todas a festas têm sempre dança, seja uma festa de crianças, de adultos, e especialmente na minha família, que está relacionada com a dança. E depois no Rio de Janeiro há bailes, na quinta-feira do estilo X, no sábado do estilo Y e eu ia a todas com a minha mãe". Isso fez com que a sua projeção da vida adulta fosse "um luxo muito brega e meio cafona, mas com pessoas tristes e deprimidas que viviam de uma fachada social. Uma fotomontagem de vida perfeita, na sociedade, com mulheres objetificadas e de exotização".

Este subtexto político, como explica, inclui também as relações bilaterais Portugal-Brasil : "Não foram bem conversadas, é um assunto delicado e muito complexo. Há um passado que não está bem resolvido nem foi bem articulado. Há uma dificuldade para ouvir, e não se pode agir sem ouvir". Nestas referências cabe também uma cinematográfica, um filme que a marcou indelevelmente, "Priscilla, a rainha do deserto".

Palcos Instáveis, uma montra para emergentes

O espetáculo decorre no âmbito da iniciativa Palcos Instáveis, um ciclo criado em 2012 que incentiva o trabalho de criadores emergentes da cidade do Porto e do Norte do país. Os criadores integrados neste projeto têm a possibilidade de realizar uma residência artística na Instável - Centro Coreográfico. Para concretizar as suas propostas contam com uma bolsa de criação, mentoria artística, apoio à produção e divulgação e integram o ciclo mensal de apresentações "Palcos Instáveis/1as Obras" no Teatro Municipal do Porto - Campo Alegre, coprodutor .

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