eco.sapo.pt - 26 jan. 07:08
“Teremos de investir tempo e recursos para nos adaptar a uma legislação obsoleta”, diz general manager da Glovo Portugal
“Teremos de investir tempo e recursos para nos adaptar a uma legislação obsoleta”, diz general manager da Glovo Portugal
Com 140 trabalhadores e 3.800 entregadores em Portugal, a Glovo critica as alterações na Lei de Trabalho portuguesa que antecipam a Diretiva Europeia das plataformas digitais.
Num momento em que ainda se aguarda a formulação final da Diretiva Comunitária para regular as relações das plataformas digitais com os estafetas ou motoristas, no final de 2022 foi aprovado no Parlamento português alterações à Lei de Trabalho, no âmbito da Agenda do Trabalho Digno, que impacta este setor.
O objetivo é acabar com os falsos trabalhadores independentes e dar maior segurança laboral às pessoas que trabalham para este tipo de plataformas, mas para Joaquín Vázquez, general manager de Portugal da Glovo, a adaptação das plataformas à futura lei de trabalho portuguesa representa um gasto de tempo e recursos porque o diploma, com a futura adaptação da Diretiva, tornar-se-á “obsoleto em menos de nada”.
“(Adaptar ao diploma português) quando a Diretiva Europeia for implementada será tempo investido em algo que ficará obsoleto muito rapidamente”, diz o general manager da Glovo. O responsável da Glovo lamenta ainda a forma como decorreu o processo, que “poderia ter sido gerido melhor em termos de colaboração entre as diferentes partes”, defendendo a existência de um período de carência, à semelhança da Lei em Espanha, para as plataformas se adaptarem às alterações legislativas.
Em Portugal, a Glovo tem 140 trabalhadores e 3.800 entregadores ligados à aplicação, que ganham em média 7,4 euros por hora. “Há entregadores que ganham muito mais e outros menos, mas em média um entregador em Portugal ganha 7,4 euros por hora. Pensamos que é justo. Depois têm um seguro, estão cobertos quando estão a trabalhar e quando não estão porque tiveram um acidente. Tomamos mesmo conta dos entregadores e penso que nisso somos um exemplo”, revela.
O Governo tem “esperança que seja aprovado este mês na AR” a Agenda do Trabalho Digno.
Um dos desafios para 2023 é o novo pacote legislativo que mexe com a relação dos entregadores com as plataformas digitais. Há uma Diretiva europeia a ser discutida, espera-se a publicação do novo diploma do Parlamento português. Que impacto pode ter na operação?É ainda cedo para avaliar porque o texto final ainda não foi publicado. Sabemos os contornos da Diretiva, mas está ainda a ser finalizada. Estamos ainda dependentes disso. A ideia de regular era proteger centenas de trabalhos, melhorar as condições destes trabalhadores independentes, mas o que vemos é que isso não está a ir nessa direção. Mais, está a ir contra o que a Europa está a ditar. Por isso, provavelmente, todos teremos de investir tempo e recursos para nos adaptar a uma legislação que será obsoleta em menos de nada.
Refere-se ao diploma português?A ideia de regular era proteger centenas de trabalhos, melhorar as condições destes trabalhadores independentes, mas o que vemos é que isso não está a ir nessa direção, mais está a ir contra o que a Europa está a ditar. Por isso, provavelmente, todos teremos de investir tempo e recursos para adaptar para uma legislação que será obsoleta em menos de nada.
(Adaptar ao diploma português) quando a Diretiva Europeia for implementada será tempo investido em algo que ficará obsoleto muito rapidamente.
Por último, penso que o processo poderia ter sido gerido melhor em termos de colaboração entre as diferentes partes e deveria haver um período de carência que nos permitisse fazer ajustamentos. Pretendem que, a partir do momento que a Lei é publicada, estejamos prontos e, dependendo das mudanças que teremos de fazer para nos adaptar, pode levar muito tempo. Por isso, estamos desapontados com isso, mas iremos dar o nosso melhor e estaremos preparados.
Que período de adaptação faria sentido, do vosso ponto de vista?O problema é que não sei as mudanças que preciso fazer. E as mudanças em tecnologia, apesar do que as pessoas possam pensar, levam muito tempo. Penso que, entre três a seis meses seria razoável. A legislação espanhola não é um exemplo do que deveria ser feito, mas é um exemplo no período de carência. Deram às plataformas em Espanha seis meses para se adaptarem, é um tempo justo.
Em França, plataformas e representantes dos trabalhadores acordaram um rendimento mínimo por viagem para os motoristas da TVDE, de mais de 7 euros. Seria um modelo interessante para Portugal?É um modelo interessante. Através do “Couriers Pledge” (da Glovo) o que tentamos é assegurar que os entregadores têm rendimentos, seguros, ajudando-os a progredir e a crescer. Não sei se um modelo único de que se tem de pagar um montante fixo é possível devido à flexibilidade de muito do staff, mas penso que vai na direção certa do que estes trabalhadores precisam e de proteção dos entregadores.
Carlos Moedas na inauguração do escritório de Lisboa instou a Glovo a cuidar das suas pessoas. Têm feito o suficiente, podiam fazer mais?Há entregadores que ganham muito mais e outros menos, mas em média um entregador em Portugal ganha 7,4 euros por hora. Pensamos que é justo. Depois têm um seguro, estão cobertos quando estão a trabalhar e quando não estão porque tiveram um acidente. Tomamos mesmo conta dos entregadores e penso que nisso somos exemplo.
Em termos genéricos, podemos sempre fazer mais pelas pessoas, mas penso que nisto a Glovo tem sido pioneira. Cuidamos mesmo das nossas pessoas, não só entregadores, como parceiros e trabalhadores. Monitorizamos em todos os países quanto os entregadores estão a ganhar para garantir que ganham um mínimo.
E nesse ranking onde fica Portugal posicionado? Quanto ganha um entregador da Glovo Portugal?Posiciona alto. Há entregadores que ganham muito mais e outros menos, mas em média um entregador em Portugal ganha 7,4 euros por hora. Pensamos que é justo. Depois têm um seguro, estão cobertos quando estão a trabalhar e quando não estão porque tiveram um acidente. Tomamos mesmo conta dos entregadores e penso que nisso somos um exemplo.

Será, de facto, um ano desafiante, por isso as nossas principais prioridades, em termos de investimento, estão focadas em oferecer a opção com os preços mais acessíveis aos nossos utilizadores. Estamos a reduzir as nossas tarifas de entrega, para que ficam o mais baixas possível, e da nossa oferta Prime. A segunda prioridade será garantir que temos o melhor conteúdo para os utilizadores portugueses. Sabemos que a razão para usar uma aplicação e não outra é ter o parceiro favorito e estamos a trabalhar nisso.
Referem expectativas de crescimento na ordem dos 30-40%. Face ao atual momento económico – inflação elevada com quebra de rendimento das famílias –, o que o faz ser t��o otimista?Ao oferecermos a opção mais em conta, e ao termos o melhor conteúdo, acreditamos que mais utilizadores vão começar a usar a Glovo ou repetir mais compras. Não se trata apenas de adquirir novos utilizadores, que nunca experimentaram entregas em casa, e fazer crescer globalmente o mercado, mas também ganhar quota de mercado.
Qual é o objetivo de crescimento de quota? É ser o número 1? Qual é a atual posição?Temos um objetivo que não posso partilhar. Não há dados de mercado, por isso não sabemos (qual a nossa quota de mercado). O nosso objetivo é manter as nossas taxas de crescimento sabendo que, se as mantivermos, atingiremos as nossas ambições. Temos uma quota relevante de mercado e o investimento que estamos a fazer, está a permitir-nos crescer mais rápido do que a nossa concorrência.
Estão em mais de 100 cidades e querem expandir este ano. Para onde?Estamos em 132 cidades e cobrimos cerca de 70% da população e vamos expandir para mais duas localizações: Benavente (distrito de Santarém) e Vila Verde (distrito de Braga). Estamos já em cidades com menos de 10 mil habitantes, não há muito mais espaço para continuar a expandir. Vamo-nos focar em consolidar a nossa pegada e crescer nas cidades onde já estamos.
O setor tech tem estado agitado, com anúncios de despedimentos afetando milhares de trabalhadores. Pesou na decisão de, neste ano, manter estável o número de colaboradores?Tentamos sempre ter uma abordagem e uma mentalidade enxuta no que toca ao quadro de colaboradores, por isso, é que estamos muito confiantes que temos a equipa certa e que não vamos precisar de mais, nem menos. Temos as bases para crescer de forma rentável.
A decisão vem de muito antes. Quando assumi como country manager em outubro de 2021 decidimos qual seria a estrutura perfeita que necessitávamos para dar o melhor serviço aos nossos utilizadores, aos nossos parceiros e aos nossos entregadores. Já a alcançamos. Contratamos de forma massiva durante 2022, agora é altura de estabilizar, crescer através da nossa equipa e investir na equipa. Já somos uma equipa grande (140 colaboradores espalhados pelo escritório de Lisboa e Porto) e não precisamos de mais pessoas.
Quando temos a Microsoft a anunciar um despedimento de 10 mil pessoas, face ao atual momento na economia, com impacto no ecossistema, antecipa em algum cenário uma redução de pessoal na Glovo em Portugal?Não sei o que se poderá passar. Mas temos muita certeza que a nossa estrutura nos vai permitir crescer de muita forma rentável e saudável. Algumas companhias sobrecarregaram ao nível de pessoal para atingir certos objetivos que requeriam muitas pessoas e agora há um período de quebra e não precisam de tantas, ou então cresceram demasiado num modelo não sustentável.
Tentamos sempre ter uma abordagem e uma mentalidade enxuta no que toca ao quadro de colaboradores, por isso, é que estamos muito confiantes que temos a equipa certa e que não vamos precisar de mais, nem menos. Temos as bases para crescer de forma rentável.
O crescimento será apenas orgânico? No passado compraram a portuguesa Kitch e o Mercadão. Novas aquisições ainda estão em cima da mesa?A porta está sempre aberta. Portugal já provou já ser uma fantástica fonte de talento. A Glovo tem um compromisso com Portugal, adquirimos Kitch e o Mercadão, não estamos ativamente a negociar com ninguém sobre algum negócio, mas se a oportunidade certa surgir iremos considerá-la.
Estamos constantemente a olhar para este tipo de oportunidades. A ideia, quando compramos estas empresas, não é sequer geri-las – são geridas pelos seus CEO –, queremos é escalar o que construíram para os restantes países onde a Glovo está presente.
Alguma proposta em cima da mesa?Não, neste momento.