observador.pt - 26 jan. 06:31
"Ursos Não Há": do Irão, com desalento, frustração e brilhantismo
"Ursos Não Há": do Irão, com desalento, frustração e brilhantismo
"Ursos Não Há" é o último dos filmes que Jafar Panahi rodou clandestinamente, antes de ser enviado para a cadeia por seis anos pelo regime teocrático do Irão. Eurico de Barros dá-lhe cinco estrelas.
A dado momento de “Ursos Não Há”, o novo filme do realizador iraniano Jafar Panahi (que está preso desde julho do ano passado, cumprindo uma sentença de seis anos de cadeia por “propaganda contra o regime”), e onde ele se volta a pôr em cena, vemo-lo de noite, sobre a linha invisível da fronteira entre o seu país e a Turquia, onde tem a equipa a rodar uma fita sob a sua supervisão remota. Panahi não dá o passo que poderia dar, não transpõe essa linha para se refugiar na Turquia e volta para trás, para a pequena aldeia fronteiriça em que se instalou para controlar o filme à distância. E vem-nos à cabeça uma frase que o realizador de “O Círculo” disse há alguns anos, quando ainda tinha liberdade para sair do Irão: “Não o faço porque sei que não me deixarão voltar”.
Apesar de estar proibido de trabalhar pelas autoridades iranianas, Jafar Panahi tem continuado a filmar clandestinamente, em sua casa e fora dela, aproveitando a miniaturização e a portabilidade das câmaras digitais. “Ursos Não Há” é o último filme feito antes do seu encarceramento. E tal como nos anteriores, é uma autoficção muito chegada à realidade, em que Panahi interpreta um cineasta com o seu nome, que alugou uma casa numa aldeola perto da fronteira da Turquia, para daí dirigir a equipa que está para além da fronteira, numa cidade situada a poucos quilómetros, a fazer uma fita. O tema: um casal de refugiados iranianos está à espera de conseguir passaportes falsos para fugir para França.
[Veja o “trailer” de “Ursos Não Há”:]
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