publico.pt - 24 jan. 05:20
Cartas ao director
Cartas ao director
Se é para ser assim, que seja assim para todos
Depois de algumas semanas de verdadeira loucura mediática e política, tudo a reboque do Correio da Manhã e do Chega, os dois grandes vencedores, termine isto como terminar, só faltava o Presidente da República vir agora propor que o já famoso questionário seja também alargado aos actuais membros do governo. É assim como se, a meio de um jogo de futebol, o árbitro decidisse mudar as regras do jogo.
Chegados ao ponto a que isto chegou, já não basta que só os membros do governo da República passem a prova do questionário. É preciso alargá-lo a todos os detentores de cargos públicos, seja por eleição ou nomeação política. A ideia de que só existem "trapalhadas" no governo é limitada. Governo dos Açores, Madeira, deputados, autarcas, dirigentes dos partidos políticos, etc., todos têm a obrigação de passar no teste do algodão. Mas para as futuras nomeações, não retroactivamente.
J. Sequeira, Lisboa
O pântanoTudo. António Costa tinha tudo para levar de vento em popa a governação desta legislatura: a maioria no Parlamento garantia uma invejável estabilidade, o partido não ousava questionar a sua orientação, a oposição vinha revelando uma incapacidade de crítica credível.
A verdade, porém, é que o Governo vem revelando uma intolerável arrogância e uma sucessão de "casos e casinhos", ao ponto de, em dez meses, termos assistido a dez demissões, quando as suspeitas se vêm avolumando. Os escândalos, tumultos e greves atingem uma constante insuportável. Lembram-se de Guterres se ter afastado dum "pântano" muito menor que este miasmático lodaçal? Até quando suportaremos este opressivo e doentio ambiente apodrecido? Quando virá o murro na mesa, senhor Presidente? Basta!
José Sousa Dias, Ourém
A imagem da escola denegriu-seO artigo de Carmen Garcia no PÚBLICO sobre a imagem que construiu da escola enquanto lá andou não me deixou indiferente. Desde aí já se passaram algumas décadas; certamente as mesmas em que essa imagem da escola se foi gradualmente deteriorando. As causas não cabem todas neste pequeno comentário, mas todas se encadeiam. Basta invocar uma, e muitas outras vêm por arrasto formando uma bola de neve. Todo o mundo exterior à escola parece ser mais valorizado pelos alunos, tendo a escola que lutar contra adversários que deveriam ser seus incondicionais aliados. Aparentemente esta degradação de imagem tem sido aproveitada para menorizar o papel dos seus agentes e assim lhes diminuir a respectiva compensação. A escola deve descartar responsabilidades sobre o que tem corrido mal na evolução que, sem ela, não teria acontecido.
José M. Carvalho, Chaves
O desaparecimento da noiteA notícia do PÚBLICO sobre os altíssimos índices de poluição luminosa (edição de sábado) dá‑nos uma imagem negra (mais uma!) de Portugal. Com efeito, estamos entre os maiores poluidores da Europa, o que não deixa de ser escandaloso num tempo de crise energética.
Além de se afigurar um gigantesco obstáculo à investigação astronómica, a perda da noite constitui um desastre ambiental, cujas consequências negativas, por certo, para o futuro da Humanidade ainda hão‑de ser objecto de um juízo que elucide a opinião pública e satisfaça a comunidade científica. (São evidentes, pelo menos, e para já, as perturbações do sono.) Mas o Homem só se tornou Homem, ao longo de milénios, nesta alternância — cósmica — de luz e treva. Ora, perante a perspectiva apocalíptica de um término de tal bipolaridade, é caso para fazer nosso o célebre verso de Álvaro de Campos: Vem, Noite antiquíssima e idêntica, e devolve‑nos as estrelas do Universo!
Eurico de Carvalho, Vila do Conde
À espera de GodotRecolho a bonita - e gratuita - agenda de Janeiro a Julho de 2023 do Teatro Nacional São João e, em vez de olhar apenas para o lado positivo da coisa, tenho imediatamente este pensamento negativo: “Pego nisto mas depois não tenho dinheiro para ir ver seja o que for. O teatro está caríssimo. É sempre para a mesma elite e para o mesmo beautiful people de sempre!” Gostaria que apenas fosse mais um dos meus recorrentes pensamentos negativos, mas, infelizmente, quase-quase 50 anos depois de Abril de 1974, como já disseram Lídia Jorge e muitos outros intelectuais, a falta de democracia plena no acesso às várias formas de cultura é - ainda! - um dos grandes falhanços da democracia portuguesa. Não será plenamente o falhanço da democracia tout court? E lá tenho eu mais um pensamento negativo: “Depois queixem-se se a Liberdade não resistir mais 50 anos", mais 50 anos neste país-palco eternamente à espera de Godot (vulgarmente conhecido aqui como Sebastião).
Nelson Bandeira, Porto