Ana Pina - 25 nov. 08:10
Proibido poupar
Proibido poupar
Uma sociedade que oprima a poupança e reduza o indivíduo a uma máquina de consumo será, indubitavelmente, opressora.
De tempos a tempos, surgem nos motores de busca notícias acerca de testes feitos pela China num novo yuan digital e destaca-se a possibilidade de que essa e outras moedas digitais dos bancos centrais (CBDC), possam ser programáveis para terem características diferentes do dinheiro como o conhecemos.
Para além da rastreabilidade que a tecnologia blockchain permitiria, a China estará, segundo as notícias, a testar uma moeda com prazo de validade.
O objetivo principal será o de incentivar a economia, obrigando a que se gaste o dinheiro em vez de poder ser guardado ou investido, sendo que as moedas também podem ser configuradas de forma a só terem validade em determinadas atividades.
Onde termina a realidade e começa o rumor é difícil saber, embora estas notícias já tenham aparecido em jornais de referência como o “Wall Street Journal”. Mas é consensual entre os especialistas que a programação e rastreabilidade de uma moeda digital é possível e plausível, o que levanta questões seríssimas sobre democracia e liberdade.
Decisores e público em geral poderão ser seduzidos por novas ferramentas de política monetária (e económica), mas também arriscam abrir uma caixa de Pandora.
Por um lado, o detentor de moeda poderá ver o seu ativo invalidado ou rastreado a qualquer momento pela autoridade monetária e, por outro, devemos notar que a escolha de poupar é um ato reflexivo de liberdade. Poupo porque quero e posso e por ter poupado tenho mais graus de liberdade sobre o futuro.
Não pensemos que este conceito das moedas com validade é exclusivo de regimes mais obscuros. Há menos de um ano, o Banco Central do Canadá publicou o documento de trabalho “Best Before? Expiring Central Bank Digital Currency and Loss Recovery”, de acesso público, no qual se enaltecem as vantagens de uma moeda com data de validade. É assim que as coisas começam.