www.publico.ptpublico.pt - 2 out. 05:40

Cartas ao director

Cartas ao director

É só pecado!

Dei comigo a pensar que a triste história de pedofilia de bispo Ximenes Belo desencadeou em nós, crentes e não crentes, uma enorme tristeza. Tive de engolir o meu pensamento algo compassivo, pois percebi que foi mais um desconsolo que nem isso merece. Realmente o PÚBLICO ao noticiar (30/9) que o “Vaticano aplicou sanções a Ximenes”, juntando que estas foram em 2020, diz-nos - mais uma vez - que o problema está mesmo na instituição Igreja Católica. Sanções? Entregou o caso à justiça civil que nos rege a todos? Claro que não! Deslocou-o daqui para acolá e abafou, nada mais! Não há Francisco que lhe valha! Termino com aquilo que muita gente diz: para a Igreja Católica a pedofilia é um pecado e não um crime punível por lei. E tudo isto ao mais alto nível, como é patente no que escrevi acima.

Fernando Cardoso Rodrigues, Porto

A linha de alta velocidade Lisboa-Porto

O ministro das Infra-Estruturas Pedro Nuno Santos clarificou em entrevista à RTP3 que a linha seria construída em bitola ibérica, o que se é uma boa notícia vem também dizer que não é uma linha de alta velocidade (saloiamente designada em Portugal pela designação francesa de TGV), mas uma linha de velocidade elevada.

De facto as normas da UIC (União Internacional dos Caminhos de ferro) designam linhas de alta velocidade aquelas onde se praticam velocidades iguais ou superiores a 250km/h e de velocidade elevada as linhas onde a velocidade a praticar seja entre 200 e 250km/h.

As regras da União Europeia apenas permitem financiar linhas de alta velocidade em bitola europeia (1,435). Como a nova linha é felizmente de bitola ibérica, a linha não poderá ser de alta velocidade.

Ao PÚBLICO, Carlos Fernandes, responsável pela Infra-Estruturas de Portugal, disse que está previsto a linha ser construída em regime de PPP, entregando a privados a concepção do projecto, financiamento e manutenção das instalações, mas não a exploração da linha que será feita por eles. E se não está incluída é com certeza por não dar lucro!

Carlos Anjos, Lisboa

Facismo e extrema-direita

No seu texto de terça-feira, João Miguel Tavares esmera-se na putativa elucidação e distinção conceptuais entre fascismo e extrema-direita. O primeiro porá em causa a democracia e será perigoso, a segunda, nem por isso: assim, André Ventura, por exemplo, será extremista mas ainda nunca afirmou ser fascista ou antidemocrata – isso bastaria para acolher com relativa bondade as suas propostas; já Trump teria sido perigoso para a democracia, após as cenas da invasão do Capitólio.

No entanto, Trump nunca afirmou ser fascista ou antidemocrata e o partido de Ventura é o único até hoje a demarcar-se claramente do acto histórico constitutivo da democracia, o 25 de Abril. Mais: nós sabemos e JMT também sabe que a extrema-direita mais ou menos fascizante tem de se camuflar, atiçar mas depois moderar-se artificialmente, dar o dito por não dito, num processo insidioso, insinuante de normalização. Alguma Europa (a recente Itália é o último caso), o Brasil (Bolsonaro a defender a ditadura militar) ou Trump são disso excelentes exemplos.

Acresce que a própria ideia de democracia foi em tempos uma proposta extremista e que muitas noções e valores hoje acatados em democracia de forma constitutiva foram em épocas passadas extremistas. Isto leva-nos à questão essencial: não é o extremismo que se deve temer como perigoso, mas o conteúdo de tal extremismo. Por exemplo, o anarcocapitalismo da IL ainda será democrático?

Na mesma edição, Manuel Carvalho, incapaz de falar sobre a extrema-direita sem fazer o proverbial paralelo com o PCP no PREC, pretende que as ideias extremistas se reduzam a uma estéril palração sem qualquer possibilidade de concretização. Com esse radicalismo centrista e conservador, a democracia ainda seria uma miragem.

Voltando a JMT: que ele escreva frequentemente que as ideias do partido de Ventura são péssimas, mas que depois acolha e ainda lamente a vitimização de que se diz alvo um partido com excelente imprensa e visibilidade ou que não considere perigoso alguém que tem Mussolini por modelo, é lá com ele! Agora, que se vitimize com o juízo que se possa fazer dos seus textos fica-lhe mal. Este em particular, não só parece branqueador do fascismo e da extrema-direita, como o é!

Custódio David Catarino, Lisboa

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