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″Blonde″, o sonho sobre Marilyn transforma-se em pesadelo

″Blonde″, o sonho sobre Marilyn transforma-se em pesadelo

Disponível em exclusivo na Netflix, "Blonde" é mais um filme sobre as pretensões artísticas do realizador Andrew Dominik do que sobre Marilyn Monroe.

Projeto com mais de uma década de preparação, validado finalmente pela Netflix e onde se pode ver em exclusivo, sem passar pelas salas de cinema, "Blonde", pela sua natureza - a loira do título é o mito dos mitos das loiras, Marilyn Monroe - é um filme que todos esperavam.

Baseado no imenso romance ficcional de Joyce Carol Oates, o filme é precisamente uma visão, a do realizador Andrew Dominik, sobre a vida e a morte de Marilyn. Mas, construído em forma de sonho, acaba por se transformar em pesadelo, dadas as apostas formais, estéticas e narrativas do realizador.

O australiano parece obcecado pela morte de ícones da América. O seu outro filme de ficção estreado em Portugal chamava-se "O Assassínio de Jesse James pelo Cobarde Robert Ford" e já padecia dos mesmos problemas de "Blonde": um realizador que anda a dar passos maiores que a sua perna.

"Blonde" é mais um filme sobre as pretensões artísticas de Dominik do que sobre Marilyn, de que se oferece, finalmente, a imagem que se tornou um cliché desde a sua morte, há precisamente 60 anos, com apenas 36 de idade, a de uma loura esmagada por um sistema machista, eternamente abusada e levada a uma depressão que acabaria por a matar.

Pior, o filme parece ser uma tese audiovisual de duas horas e quarenta sobre um único tema do foro psiquiátrico: a ausência do pai, substituindo pelos maridos e amantes e algo que a obceca desde o início do filme até à sua morte. Não se duvida, no entanto, da honestidade intelectual de Dominik. Ao que parece, as cenas com a mãe e a da morte foram rodadas nos locais exatos onde ocorreram!

Do ponto de vista cinematográfico, o trabalho documental do realizador com Nick Cave é de grande qualidade e muito mais ascético do que demonstra nas suas ficções. "Blonde" é uma sucessão de vinhetas, sem grande ligação umas com as outras, e por vezes de um mau gosto atroz, como toda a sequência com John F. Kennedy.

Uma palavra final para Ana de Armas. Não é por ela que o filme falha, mas Marilyn era uma mulher com um corpo diferente, algo que era importante transmitir. E muito mais inteligente do que o filme dá a entender.

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