ionline.sapo.ptJosé Paulo do Carmo - 30 set. 09:58

Olhar para trás ou para a frente

Olhar para trás ou para a frente

Preocupamo-nos demais com o que gente que vale muito pouco acha de nós. Fartamo-nos de olhar para o retrovisor, para o que A ou B andam a dizer ou a fazer e esquecemo-nos que temos uma vida para viver e um caminho próprio para percorrer e que é muito mais interessante se for percorrido com os que nos querem bem.

Perdemos parte da nossa vida a pensar no que os outros pensam de nós e não conseguimos sair dali. Entramos em loop, como se fôssemos nós próprios um disco riscado. É a própria sociedade que nos ensina a viver assim, obcecados pela imagem, pelos grupos mais influentes ou pelos sítios onde “temos” que estar para sermos considerados. Várias vezes preocupamo-nos mais em agradar a pessoas que nem conhecemos bem, só para sermos reconhecidos e parecermos importantes do que aos que nos querem bem, aos que nos rodeiam e nos tratam nas palminhas.

Um bocado como na noite, onde todos querem entrar sem pagar porque é “uma ofensa” em termos de imagem, pagar para entrar, como se não pagássemos todos os outros serviços que adquirimos, assim como a entrada nas chamadas zonas VIP onde todos querem estar mas que não têm absolutamente nada de novo sem ser o status e o estar tipo sardinha em lata só para tirar umas selfies e dizer “estou aqui” sem usufruir de qualquer tratamento especial.

Voltando ao que somos e ao que vivemos, tantas são as vezes que paramos a nossa vida, que passamos noites sem dormir ou que passamos em completa ansiedade só pelo simples facto de acharmos que alguém anda a falar mal de nós ou a denegrir a nossa imagem que arrisco-me a dizer que muito boa gente vive mais noites assim do que a dormir descansado. Essa excessiva preocupação reflete-se depois no dia a dia, nos politicamente corretos, nas carneiradas, nos bajuladores e nos que têm uma certa dificuldade em pensar pela própria cabeça.

Dizemos regularmente que é mais fácil ouvirmos uma crítica do que um elogio mas somos nós que prestamos mais atenção às críticas, aos críticos e aos que falam mal de nós, não raras vezes até de forma injusta ou desproporcionada, isso faz com que os elogios sejam poucas vezes notícia e que as boas noticias sejam menos procuradas. É o mundo virado do avesso quando na realidade procuramos aceitação da sociedade mas temos mais apetência para as críticas do que para os elogios. É a idade que nos traz, normalmente, clarividência neste aspecto. De sabermos dar valor ao que tem realmente valor e de colocar para trás das costas o que não interessa para nada e os que não nos acrescentam nada.

O problema é que o tempo não perdoa e quando damos por ele, puff, já passou. Da mesma forma são as pessoas excessivamente negativas. Que se queixam de tudo, que gostam de ver o copo meio vazio e que veem problemas até nas próprias soluções atraindo más energias e resultados mais próximos da realidade que eles próprios constroem com os seus olhos.

Num tempo em que nos ensinam a olhar para trás, sempre preocupados em não ferir suscetibilidades, em não ofender ninguém mesmo numa brincadeira ingénua, vazios de sentimentos e pouco importados com os que realmente importam, o desafio é mesmo olhar para a frente. Olhar em frente, sempre com a perfeita noção de onde vimos e do que fizemos, sem nunca deixarmos de tirar as devidas ilações do que deixamos para trás mas com a capacidade de voltar a construir de fazer coisas novas e boas, de mudar um momento em alguém.

Ninguém merece ficar preso ao passado. O passado serve para refletir mas é no presente que vivemos e é nesse espaço temporal que temos oportunidade de fazer diferente. Fazer melhor. Isso deixará loucos os que pela calada congeminam contra ti. As pessoas geralmente não gostam de quem consegue seguir em frente.

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