ionline.sapo.ptionline.sapo.pt - 30 set. 11:38

Os alarmes tocaram em Itália – a extrema-direita chega ao poder

Os alarmes tocaram em Itália – a extrema-direita chega ao poder

O caos político, a falta de liderança e a inexistência de ordem beneficiam o aumento da popularidade da extrema-direita. A História está cheia de episódios deste género.

Na sequência das eleições que se disputaram em Itália, no passado fim-de-semana, torna-se pertinente retirar algumas ilações do que se passou naquele que é o país com a terceira maior economia europeia e que tem impacto por toda a europa – os alarmes tocaram, resta saber se alguém os ouviu. 

Um dado curioso ou talvez não, é o facto de ter sido formado o 70.º governo italiano do pós-II Guerra Mundial (1945), o que significa que em média, os governos italianos duraram pouco mais de 1 ano em funções, ora isto revela uma enorme instabilidade política em Itália – facto que beneficia os partidos de extrema-direita, já lá iremos.

Esta instabilidade abrange também os partidos políticos. Nas últimas décadas, todos os partidos fundadores da democracia, do pós-guerra desapareceram e a partir destes criaram-se, fundiram-se e extinguiram-se dezenas de partidos. Comparativamente ao caso italiano, em Portugal, tem havido uma maior estabilidade no sistema partidário, embora, nos últimos anos tenham começado a aparecer novos partidos com representação parlamentar, o BE (2002), o PAN (2015), o IL (2019) e o CHEGA (2019).

As eleições que se disputaram no domingo passado foram consequência de mais uma crise política. O governo de Mario Draghi caiu na sequência da perda de apoio de três partidos que sustentavam o seu governo, o Movimento 5 Estrelas (populistas de direita), a Liga e o Força Itália.

O grande vencedor da noite eleitoral foi a coligação de direita, que obteve quase 45% dos votos, liderada pelo partido de Giorgia Meloni, Irmãos de Itália, partido de extrema-direita, com a Liga de Mateo Salvini, também de extrema-direita e com a Força Itália de Silvio Berlusconi, tendo esta coligação alcançado maioria nas duas Câmaras, o que lhes permite formar governo.

O partido que encabeçou a coligação vencedora, o Irmãos de Itália, nasceu em 2012, e à semelhança do que aconteceu em Portugal com o CHEGA, nasce de dissidentes do partido de centro-direita.

Outra curiosidade, prende-se com o facto de o partido de Meloni, há 4 anos reunir apenas 4% das intenções de voto. A questão que se coloca, é perceber o que aconteceu em tão pouco tempo para esta subida meteórica. Porque é que um pequeno partido se transforma num partido de Governo em tão pouco tempo.

Responder a esta questão merece uma maior reflexão, mas há factos que nos parecem incontornáveis, tais como, a crise dos partidos ditos tradicionais de ideologia mais moderada, um crescente sentimento de insegurança, uma desconfiança crescente do projeto europeu, a perda de poder de compra e a discussão em torno dos temas mais fraturantes na sociedade, nomeadamente, as questões da imigração, da comunidade LGBT, das minorias étnicas, etc.

A verdade é que o caos político, a falta de liderança e a inexistência de ordem beneficiam o aumento da popularidade da extrema-direita. A História está cheia de episódios deste género. Para não recuar demasiado no tempo, recordemos a forma como Hitler chega ao poder na Alemanha, Mussolini em Itália e de uma certa forma, Salazar em Portugal. Cada um com o seu estilo, apresentaram-se ao povo como garantes da estabilidade e da ordem. Surgem porque o sistema democrático fracassou.

Não há volta a dar, a extrema-direita é já um problema sério em quase todos os países da União Europeia, e contrariamente ao que muitos defendem, não foi um problema criado exclusivamente pela crise dos partidos de centro-direita, mas sim, de todos aqueles que defendem uma sociedade pluralista e democrática.

A verdade é que a conjuntura económica adversa, provocada pela subida exponencial da inflação, pela “inevitável” subida das taxas de juro e pelo aumento generalizado dos preços, vai agravar e muito a vida das pessoas, o que beneficiará os partidos de extrema-direita.

De forma a minimizar o caos que se adivinha, talvez fosse útil que os líderes europeus (Comissão Europeia, Banco Central Europeu) tomassem boa nota daquilo que dizem alguns dos mais conceituados economistas mundiais, como Joseph Stiglitz ou Paul Krugman, sobre o combate à inflação. Estes economistas consideram que há uma alternativa de combate à inflação que não passa pelo aumento das taxas de juros e que em certa medida ajudariam a minimizar o impacto desta crise e a proliferação das ideias extremistas entre as pessoas.

Provavelmente, o que acontecerá é que este problema só será pensado e refletido quando muitos países europeus tiverem governos de extrema-direita e aí andaremos a correr atrás do prejuízo, como aconteceu recentemente com a invasão da Ucrânia – os avisos foram feitos, mas nunca considerados.

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