jornaleconomico.ptPedro Neves - 30 set. 00:17

A reviravolta

A reviravolta

A recente alteração da postura dos bancos centrais, teve com consequência a subida expressiva das taxas de juro no mercado em todos os prazos.

A título de exemplo, desde o inicio de 2022, as taxas de juro a 30 anos do Reino Unido subiram de 1% para 5%, nos EUA, os juros a 10 anos subiram dos 1,6% para 4%, e até nos prazos mais curtos, a Euribor a 12 meses atingiu os 2,5% que compara com os -0,5% em janeiro de 2022. Ou seja em nove meses, temos a subida de juros mais rápida na historia, com consequências dramáticas. A primeira é imediata e reflete-se na subida das prestações do crédito à habitação, no que serão níveis incomportáveis para muitas famílias. Todos os portugueses deveriam estar a realizar previsões de gastos para os próximos dois anos e perceber se vão ter capacidade de cumprir as suas obrigações.

Mas a segunda consequência, esconde um problema de dimensões gigantescas e que levou esta quarta feira, a uma reviravolta, quando o Banco de Inglaterra a intervir no mercado e a fazer exatamente o contrário do que tinha anunciado – a possível falência da Segurança Social. Ao invés de vender obrigações, como tinha anunciado ao mercado juntamente com a subida dos juros, o Banco de Inglaterra viu-se forçado a fazer marcha atrás, a comprar obrigações de longo prazo, baixando os juros no mercado, e impedir o colapso do mercado de obrigações e do mercado de crédito interno.

Sabendo que os Fundos da Segurança Social dos países desenvolvidos diversos países estão investidos na sua grande maioria em obrigações, ou títulos de dívida de governos e de empresas, a subida agressiva das taxas e juro tem como consequência a diminuição rápida do valor das obrigações. Ora quando o valor das obrigações baixa significa que a Segurança Social tem menos dinheiro para fazer face às suas obrigações de pagamento de pensões, o que antecipará a falência de muitos dos sistemas de pensões.

Só este ano, com a alteração do discurso dos principais Bancos Centrais o mercado americano perdeu 57,8 triliões de dólares americanos, ou 2,4 vezes o PIB americano.  Por comparação na pandemia, esta perda ficou-se pelos 11,3 triliões de dólares e foi o que originou a maior intervenção de sempre dos Bancos Centrais que injetaram triliões de dólares a custo zero.

O poder político começa agora a perceber o período do dinheiro sem custo terminou, não tendo aproveitado para diminuir a dívida e aumentara independência financeira do país. É por esta razão que os próprios Bancos Centrais, onde se inclui o BCE têm até Dezembro, no máximo até Fevereiro para subir os juros. Depois entraremos numa recessão, onde não será possível tero  apoio publico nem político para o agravamento do custo do dinheiro, nem que a desculpa seja a inflação.

Neste cenário de recessão económica mundial e de pausa nos juros em 2023, as obrigações ou títulos de dívida de muitos países e empresas são uma opção forte de investimento e concorrem como como uma alternativa ao imobiliário, o que irá abrandar ainda mais a economia.

O BCE tem aproveitar a janela até Dezembro, subir os juros até um máximo de 2% e adoptar um discurso de estabilidade para os próximos anos. Caso não o faça, e garanta um máximo custo do endividamento das famílias, arrisca-se a ser o ingrediente que pode gerar um descontentamento endémico na sociedade europeia, com consequências imprevisíveis.

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